Capítulo 05 - O Encontro

14 0 0
                                    

Ah, o amor! Pois é. Quem diria, eu, John, apaixonado.

Se eu queria beijá-la no finalzinho daquele papo bom no Bistrô? Lógico. Que mulher é essa que mexe com um coração tão desacreditado que nem o meu e simplesmente sai? Vai ver, pareceria apressado demais, romance demais, filme adolescente demais... Enfim, o que importa é que tínhamos um encontro. Seria o segundo, tecnicamente, já que o primeiro o 'destino' fez questão de marcar. Não que eu acredite nessas coisas, mas não dá para ignorar uma coisa dessas.

Cheguei no meu apê, no décimo andar, há algumas quadras do Bistrô. Entrei e abri as janelas. O frescor do fim da tarde entrou com aquele vento suave, tirando do ambiente aquele odor de casa fechada. Não sabia o que mais me chamava a atenção naquele dia tão singular de março: se era Rachel e todo aquele sorriso e olhar cativantes, ou se a ligação no meio do encontro. Para mim foi uma surpresa dupla, embora o meu coração já optasse por uma delas em especial.

Sobre as mulheres, nunca tive sorte. Geralmente elas me dispensavam depois de algumas semanas. Por causa do trabalho ou por causa... bem, por causa do assunto que me ligou hoje. Sinceramente, gostaria que as coisas fossem mais simples, mas, se fossem, que graça teria?

Não sou o tipo de homem galã, pelo menos não me acho assim. Sei que sou bonito, afinal, qual homem não se acha? Seria muito auto depreciação, uma coisa que aprendi cedo é a me valorizar. Não me gabar, mas valorizar. Então acho que sempre atraí a atenção na medida certa. Nunca disputei mulher, nunca me prendi a alguma, até porque acredito que quando tiver que acontecer o 'aceito', vai acontecer.

Depois de um banho naquele dia, o celular voltou a tocar. Não era Rachel, embora esperasse que fosse. Era do escritório, sobre a seleção das fotos pra reunião de amanhã. O país está uma bagunça e o pessoal se esquentando com fotos de políticos corruptos? Pegue a pior, a que destaca mais a incredulidade e superficialidade deles! Simples! Recebi um e-mail com uma matéria – às vezes me faziam de redator chefe – e li mais de uma vez. Estava bom, bem revisado, bem escrito, bem... só bem mesmo. Às vezes o trabalho me perseguia até tarde da noite.

O dia seguinte não foi diferente dos outros no escritório. Papelada, seleção de fotos, cobrança dos freelancers e ainda tinha a reunião pra definir a data do edital especial de maio. Estava ansioso porque, pelo menos uma vez no ano, o Edital Pronúncia publicava um livro com os focos e marcos do intervalo de abril do ano anterior até março do ano atual. Uma das áreas era de responsabilidade minha, obviamente que era o fotojornalismo. Tudo isso finalizava num fim de semana para os chefes numa chácara próximo do litoral do Rio de Janeiro.

Os dias passaram arrastados, como se cada hora valesse por duas ou até mais. Não liguei nem enviei mensagens para Rachel. Achei que estaria forçando a barra, então esperei até o dia do encontro no Cidadela.

Naquele dia, me lembro de ter usado uma camiseta branca com gola em v e um jeans escuro, nem folgado, nem apertado. Roupas apertadas demais me deixavam suando e desconfortável A barba estava por fazer e os cabelos, desta vez, bem penteados, diferente daquele dia chuvoso. Me olhei no espelho e liguei pra ela.

- Rachel? Tudo bem? É o John!

- Oi, John! – ela disse, animada. Isso fez meu coração palpitar. Por que meu coração palpitou?

- Já está pronta? Preciso do seu endereço – houve um silêncio. Por que fui tão direto?

- Ah, sim, claro. Venha ao Condomínio Primavera, estarei na portaria. Sabe onde fica, não é?

- Claro, sei sim – não quis dizer que meses atrás eu já estive lá por alguém. Não faz bem citar parceiras antigas num encontro como aquele.

- Estou te esperando.

- Até breve.

- Até... beijos... – e desligou. Ela disse beijos? Ou foi coisa da minha cabeça?

Não importava. Estava pronto, o coração acalmou, passei meu melhor perfume e fui para a saída quando o celular tocou. Deveria ser ela perguntando algo mais, mas não. Meu sorriso deu uma vacilada nesta hora, confesso. O mesmo número do dia do Bistrô. Acho que assuntos passados devem ficar no passado. Quando isso começa a voltar, geralmente tenho tendências a escolher caminhos errados.

Ignorei, silenciei o celular e passei um perfume. Sim, sou desses que gosta de passar um pouco de cheiro no peitoral. Nunca vi vantagem em passar no pescoço. Acho válido, cheiro de perfume é bom, mas o gosto... O gosto de perfume não é muito legal num encontro daqueles. Acho que sim, esperei que no final daquele encontro algo mais acontecesse. E aconteceu!

Peguei um cinto só para complementar o jeans e me olhei no espelho de novo. Algo estava errado em mim. Quando olhei no meu rosto vi. Poxa, eu estava sorrindo que nem um maluco. Alguma coisa me infectou naquela praça e não era uma gripe.

Saí do apartamento às pressas, chamei um taxi e fizemos uma corrida ansiosa até o Primavera. As ruas até lá geralmente eram um pouco pacatas. A noite parecia convidativa, o vento lá fora não estava frio e o clima de março deixava tudo agradável. Era estranho eu notar aquilo com o dobro de intensidade. Eu, como fotógrafo, observo essas coisas, até porque a foto – a imagem em si – tem suas essências baseadas no que sinto ao redor. Foi aí que a 'essência' que havia me 'infectado' naquela praça apareceu, dando nome à dona de todo aquele alvoroço no meu coração.

Rachel!

Linda, deslumbrante, usando um vestido preto junto ao corpo, uma echarpe fumê - se é que chamam assim - e um par de saltos. Aquele sorriso de antes me prendeu por dois segundos. Saí do carro para cumprimentá-la. Não regrei gestos, me aproximei, peguei sua mão...

- Você está linda, Rachel – sorri para ela e a abracei, beijando levemente suas bochechas, o perfume dela era incrível e sentir o corpo dela pertinho do meu me deixou animado.

- Olha só quem fala – ela me olhou de cima a baixo.

- Vamos? O Cidadela nos espera – abri a porta de trás para ela e dei a volta, não a deixaria no banco traseiro e o motorista não se importaria com isso.

O carro seguiu pelas ruas residenciais e pacatas, quando atravessou os limites das ruas dançantes, quentes e barulhentas das noites de sexta. Um clima pareceu nos envolver. A festa do lado de fora era tão atraente, tão hipnotizante, que o seu espírito entrava no mesmo embalo e a vontade era que a noite fosse eterna.

Por mim poderia ser, desde que Rachel estivesse sempre ao meu lado.


Rachel & JohnOnde histórias criam vida. Descubra agora