capítulo 3 (Ian) - Pé de valsa

418 50 31
                                    

"Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho. Eu queria mesmo um espaço sossegado, e obscuro pra viver a minha solidão; por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo, e não conseguia nada."

- Charles Bukowski

Eu tropeçava em meus próprios pés como uma criança que ainda aprendia a andar. Eu não servia para dançar, nunca servi. Queria matar minha irmã naquele momento.

─ Não pisa no meu pé. ─ Ela disse e assim eu pisei no meu próprio.
─ Também não é pra pisar no teu, Ian. ─ Como se eu estivesse fazendo isso de propósito. ─  A respondi encarando seus pés fazerem um caminho estreito naquele chão. O som de la cuca racha tocava nas enormes caixas de sons pinduradas no teto em volume tão alto que daqui a pouco o próprio porteiro apareceria para dançar junto de nós que achávamos ser mexicanos.

─ Eu desisto ─ Digo ─ esse lance de dançar nunca foi para mim.
─ Nada com música é pra ti. ─ Sarah me retruca soltando minha mão que a   auxiliava na dança.

Eu nunca fui um bom pé de valsa, admito isso. Balançar meu quadril, girar uma pessoa que pode se girar sozinha, movimentar minhas mãos como algo sexy... Definitivamente não.

Ainda me pergunto se a pessoa que disse a Sarah que ela sabe dançar não estava se confundindo com a frase "você para uma pomba gira.", ela não sabe nem dar dois passos que seja para o lado certo. E quem diabos põe o irmão para dançar La cuca racha às três da manhã?

Eu nunca nem soube o que significava a letra da música, o que nunca me importou na verdade. Ninguém canta toda a música, todos repetem "La cuca racha" sem parar, várias vezes,  como se o som repetino do mesmo verso formasse uma música boa. Sem descontar que você não encontra ninguém que usa "La cuca racha" como música favorita. Você pode rondar todo o Tinder que nenhum perfil vai ter essa música como amostra do Spotify, até porque iam achar que você é um louco ou uma louca que obriga alguém a dançar tal música na madrugada.

─ Uma Ash te mandou mensagem. ─ Sarah disse pegando meu celular em cima da mesa.
─ Depois eu respondo. ─ Pego minha garrafa d'água.
─ Meu Deus quantos nudes no Snapchat. ─ Falou ela aregalando o olho ao passar o meu chat do snap para cima.
─ Da pra deixar os nudes quietos?
─ A Lucy não te manda.
─ Sarah, não! ─ Falo como se estivesse tentando fazer um cachorro não morder o novo tênis que você acabou de comprar por quinhentos dólares.
─ Escorregou. ─ Ela me vira o celular mostrando a mensagem que havia acabado de enviar para Lucy.
─ Você não fez isso... ─ Reclamei. Ela olha a Lucy escrevendo e logo sorri com a mensagem.
─ Você tem nudes na galeria? ─ Sarah começa a andar rápido para o banheiro, e eu fui atrás. Me fazer dançar tudo bem, mas olhar foto do meu pênis é demais para uma irmã.

─ Ian Harding, teu pênis é menor que o meu.
─ Você não tem! ─ Exclamei socando a porta várias vezes.
─ Por isso mesmo, na minha imaginação ele é um poste chamado Robson.
─ Robson não é o nome do teu ex?
─ Que ex? ─ Ela abre a porta virando o celular para mim.
─ E além do mais, a porta estava destrancada. Burro! ─ Ela me entrega o telefone aberto em uma foto de Lucy apenas de sutiã.

Eu não sabia como reagir aquilo. Acabamos de começar a ficar juntos e automaticamente minha irmã ja a faz mandar fotos íntimas para mim como se eu fosse o cara mais tarado e interesseiro do mundo. Eu cago e ando para se ela mandou ou não. Pode ter sido Ashley fazendo a mesma coisa que Sarah.

─ Não posso ir ai, são três da manhã Ashley. E peça desculpas a Lucy pela foto, Sarah pegou uma foto muito antiga minha e enviou. ─ Eu disse ao telefone, me viro encarando Sarah no sofá com aquele sorriso forçado de criança que acabou de fazer merda e exige perdão.
─ Tudo bem, Tyler disse que quer chutar você. ─ Ash falou se referindo ao cochicho de fundo.
─ Diga que eu também o amo.
─ Ele mandou ir se fuder.

Time to get married || Lucian Onde histórias criam vida. Descubra agora