Querido Diário, 21 de Fevereiro

13 0 0
                                    

        Querido diário,
hoje o dia correu extremamente devagar, e isso foi um saco! Acordei às 9, não porquê quis, mas porque a nojenta da minha irmã colocou aqueles funks de ostentação e putaria que eu juro que ela acha legal, apesar de eu odiar com todas as minhas forças. Acredita que ela disse que eu deveria começar a ouvir e dançar um pouco de funk? Eu juro que ia acertar o meu despertador na cabeça daquela maluca! Mas enfim, fui na rua, tinha que comprar pão, e claro que a padeira me olhou torto por eu estar com meu casaco, mesmo estando quente! Eu tenho meus motivos pra amar meu casaquinho branco, oras! E mesmo sabendo que estava um calor satânico lá fora — aqui é o Rio de Janeiro, vive quente — algo me dizia pra vestí-lo hoje. Quando cheguei em casa, o namorado da minha irmã já estava lá, se agarrando com ela — sério que ela chama aquele moleque de namorado? Ele é mais do que má influência!

        Eu sei que nem dei muita bola pros dois e fui caminhar um pouco, sinto que caminhar me faz ficar calma, principalmente quando ouvindo música! E depois que comecei a ouvir aquela banda alternativa que eu conheci semana passada, as minhas visões começaram a fazer sentido. Enfim, dei uma passada na banca de jornais do Tio Sérgio, pra ver se a Ayumi estava lá. A própria Ayumi me recebeu lá, o pai dela, o Tio Sérgio, tinha ido buscar uma encomenda nos correios. Ela, como sempre, usando aqueles grandes fones de ouvido, para ouvir K-Pop, o "Pop da Coréia". Eu sempre achei fofinho esse jeito meigo dela, esse amor que ela tinha pelos grupos desse gênero, todos de olhinhos puxadinhos, tão lindos quanto ela! Ela amava tanto que preferia ser chamada de "Ayumi", em vez de Beatriz,  seu nome. Conversamos sobre vários assuntos, alguns clientes apareceram e compraram coisas, e continuamos conversando mais! Ela me disse que estava fascinada no Shirako, um menino que era filho de japoneses que vieram morar no Brasil há décadas atrás. Eu tenho que admitir, é uma gracinha o sotaque dele falando em português! Eu sei que, depois de um tempo, o Tio Sérgio chegou e ela foi pra casa, enquanto eu voltei a caminhar. Faltava uns quarenta minutos pra eu ir pra escola, e apesar de que era perto e dava pra chegar lá em cinco minutos, eu resolvi ir andando. De repente, eu quis parar. Do nada, senti algo me dizendo pra parar e parei. Me encostei com as costas numa parede próxima de onde eu estava, ali perto de um outdoor digital e fiquei. Logo, o semáforo da esquina fechou e pararam vários carros e ônibus. Mas um deles me chamou a atenção. Um específico, nas cores branca e vermelha. Aquele garoto, eu não sei o que ele fez comigo, mas bateu um sentimento tão forte quando eu o vi, chega a ser estranho. Os olhos dele, eram castanhos, mas tinha um brilho neles que me arrepiou toda. Ele tava me encarando, eu acabei encarando ele de volta. Senti uma vontade de falar tudo, mesmo sem saber o que diabos eu queria falar. Será que eu tô ficando maluca? Eu sei que antes do sinal abrir e aquele menino ir embora, eu saí andando. Não vou mentir, gostei de ter o visto, acho que era um sentimento bom que eu tava sentindo. Aliás, acho que ainda estou sentindo. Nossa, eu realmente tô maluca! Na escola, nada me fazia me concentrar em outra coisa do que naquele olhar. Era como se a gente já tivesse se conhecido. Será que a gente se conhece? Será que eu vou vê-lo de novo? Sinceramente? Tomara que sim.

Arte do capitulo:
Foto original por: Gustavo de Aguiar.

Sonhos, Músicas e os Trechos de um Verão Onde histórias criam vida. Descubra agora