Capítulo 4 - Ressacas Interiores

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— Gus! Gus!  — A voz parecia atordoar sua mente. Soava repetidamente, junto a uma respiração pesada logo acima de si.

O rapaz abriu lentamente os olhos, vislumbrando uma imagem um tanto quanto curiosa. Jess com sua melhor cara de preocupação com corpo pressionado contra o seu, ambos no chão daquele quarto imundo.

 —O que está... Ai!  —Sequer conseguiu terminar a frase, as dores que estava sentindo eram como marteladas continuas bem na cabeça. Se perguntou o quanto exatamente de álcool havia engerido e em que dia da semana exatamente eles estavam —sim, por que em sua mente já haviam se passado dias desde que caíra no sono.

— O que estava fazendo com aquela prostituta de quinta, hein? —Jéssica perguntou lentamente, desconfiada. Sabia exatamente o trajeto das ações e de suas consequências. Bebedeira, garota bonita, noite louca, a carteira vazia em um hotel no outro lado do país.

Prostituta? Isso lhe soava muito forte. Ela era uma inquieta recepcionista de um ilustre hotel caindo aos pedaços, só isso.

— O que aconteceu? Cadê a Pimenta?

— Pimenta? Urg, já me dá nojo só de pensar no que alguém com esse nome faz a uma pobre criança tola.

— Criança tola? Eu não sou... Ai! — Por mais que Gus quisesse reclamar, a dor de cabeça era mais forte.

Em toda sua vida nunca houveram registros de porres e bebedeiras mal sucedidas. Odiava beber, odiava gente bêbada, odiava os resultados na manhã seguinte. Aquela foi uma pequena e infeliz exceção.

Jéssica parecia preocupada. Não, não parecia, estava preocupada. Por que se preocupar com alguém que nem conhecia, não é mesmo? Por que esse era seu maior mal, a empatia.

Na verdade, era mais que isso. Podia claramente ver seu irmãozinho Denny no lugar de Gus, e como tinha saudades de lhe dar broncas. Havia a diferença de apenas três anos entre ele e Jess, mas pareciam como décadas. Exatamente assim, Jess era uma atrasada para o seu tempo, uma vovozinha, como Denny costumava chamá-la. Já ele, bem, ele como qualquer jovem não vivia sem tecnologia, sem festas, sem fazer merdas, coisas próprias de sua idade.

 —Vamos sair daqui, vamos. —Jess revirou os olhos e tratou de tentar levantá-lo.

Eram apenas três e pouca da madrugada, Gus nem havia dormido tanto assim. Jéssica até tentou ignorar a barulheira no andar de baixo e dormir, mas ele era com que responsabilidade sua até Taureana.

Gus era como uma criança aos seus olhos, ingênuo, meio burro, mas precisava de alguém por perto. E ninguém melhor que a sempre responsável e prudente Jéssica Price, não? É, isso devia ser revisto.

Jess puxou o garoto do chão, até que não fora tão difícil assim visto que ela era consideravelmente maior que aquele carinha magricela e baixinho. Mesmo assim, tornava um bocado trabalhoso o fato de Gus estar tonto e sonolento.

A garota desceu a escadaria com o mochileiro apoiado em seu corpo, mesmo que Jess ainda precisasse segurá-lo pela camisa para não sair catastroficamente rolando escada abaixo. Cruzaram o bar mequetrefe do hotel, onde dois universitários pegavam uma garota loira, quase que ao mesmo tempo, de uma forma animalesca. Jéssica procurou ignorar o máximo que pode.

Correu para fora, escancarou a porta da Kombi o máximo que pôde para aquele Gus tonto não se esbarrasse em nada, nem acabasse por bater a cabeça e piorar a dor —   Se é que isso era possível.

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora