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Uma luz branca invadiu a minha cabeça quando abri os olhos, quase me cegando. Fechei os olhos rápido e reabri devagar pra acostumar com o ambiente. Teto branco. Luz branca. Paredes brancas. Isso não é meu quarto. Virei a cabeça para a direita e tinha uma janela. Dali eu via a cidade toda iluminada. Era de noite. Olhei pra frente e vi uma porta fechada, em cima um relógio. 9:17pm. Virei para a esquerda que tinha outra porta fechada, com outra janela, que pela persiana eu podia ver que era um corredor. Branco. Respirei fundo e me sentei na cama. Virei para trás e apertei aquele famigerado botão. Deitei de novo e esperei. Uma enfermeira entrou desesperada no meu quarto já pegando um pote de comprimidos e um copo de água.
"Toma." ela disse me dando o copo e o comprimido. Tomei sem reclamar e ela ficou me observando. "Como se sente..." ela pegou a prancheta no pé da cama "...Eileen?". ela sorriu. "Bem... Um pouco cansada e tonta." respondi. "Ah, é normal. Você dormiu o dia todinho." ela disse enquanto escrevia na minha ficha. "Hum... É... Desculpa, mas, eu tô aqui por quê?" perguntei. Ela colocou a prancheta no pé da mesa e me olhou analisando. "Você não sabe como chegou?" ela perguntou e eu concordei. "Eu vou chamar seu médico então." e saiu fechando a porta.
Me deitei e voltei a observar aquele teto branco. Agora quieta podia sentir que meu peito doía, e aquela chata falta de ar que eu sentia há alguns meses estava mais forte. Suspirei, esperando que as notícias não fossem as piores, e então ouvi alguém entrando no quarto.
"Eileen." ouvi o médico me chamar. Me sentei na cama com um esforço e sorri. "Então, Eileen, eu sou o Edward. A enfermeira disse que você não sabe porque está aqui... Certo?" ele perguntou. "Mais ou menos, eu talvez saiba porque estou aqui, mas não sei como cheguei. É o meu melanoma...?"  ele suspirou "Também." respondeu. "Também?" uma onda de desespero tomou meu corpo. "O que mais?" perguntei. "Bom, Eileen, você está com um câncer metastático de pulmão, causado por seu melanoma. A pinta na sua perna é o menor dos seus problemas... Você também está com DPOC e hipoxemia." ele me olhava sério. "E o que é isso?" perguntei. "DPOC é uma bronquite crônica, e a hipoxemia faz com que você não consiga respirar. É por isso que você está com uma cânula no nariz.". Coloquei a mão no nariz e senti o tubinho que saía dele e ligava em um cilindro ao meu lado. Eu nem havia percebido. "O câncer no pulmão ainda é recente, por isso você ainda não sofreu com os sintomas. O melanoma na perna se espalhou. Mas os exames mostram que isso foi de melanomas antigos. Você já tirou dois, certo? E a bronquite você tinha há um tempo e não sabia, se agravou com o câncer. E isso aí que tá no seu nariz, você vai levar pra todo lado.". Deitei na cama sem dizer uma palavra. Eu me sentia inútil. Eu me sentia um monte de carne podre, que agora passaria o resto dos meus poucos anos de vida dando trabalho pros outros. Segurei as lágrimas e fiquei séria olhando pra parede. "Quem me trouxe aqui?" perguntei. "Pelo que eu sei foram seus amigos de intercâmbio, é isso?" concordei em resposta. "A menina disse que de manhã você não acordou com o despertador e ela tentou te acordar e não conseguiu. A sua frequência respiratória estava baixíssima e você poderia ter morrido se ela tivesse demorado mais duas horas para te trazer.". Balancei a cabeça concordando. "Bom, Eileen, à partir de agora você vai ter que começar um tratamento intensivo e cansativo. Amanha você poderá ir embora, mas terá seção de quimioterapia duas vezes por semana.". Concordei novamente. "Alguém que devêssemos avisar...?" "Não." "Eileen, eu sei que você está aqui sem seus pais. Você é maior de idade, não é obrigada a contar, mas pense nisso." balancei a cabeça novamente. "Seus pertences estão na gaveta do criado mudo ao seu lado. Celular e carregador, pode usar se quiser. Vou pedir que te tragam algo pra jantar." ele disse e se retirou.
Abri a gaveta ao meu lado e peguei meu celular e o liguei. Um minuto depois ele já estava travando de tantas mensagens. Nathalie, minha mãe, Cole. Respirei fundo e abri as mensagens.
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Nathalie: Você está melhor? Manda notícias pra gente. 12:15pm
Nathalie: Eileen tá tudo bem? Estamos preocupados com você. Não nos deram notícias no hospital porque não somos família. 16:05pm

Eileen: Estou bem, acordei agora pouco. Amanhã quando sair conto o que aconteceu.

Mãe: Como estão as coisas? :)  10:25am
Mãe: Eileen, tudo bem? 15:23pm
Mãe: Estou preocupada com você. 18:02pm
Mãe: Eileen, pelo amor de Deus, me responda!!! 20:57pm

Eileen: Oi mãe, tá tudo ótimo! Desculpa não responder, esqueci o celular em casa hoje de manhã, e da aula nós fomos no cinema, fazer compras e chegamos agora. Como está tudo aí? Te amo.

Cole: Eileen, me desculpa ter sido grosso com você essa noite. Espero que esteja tudo bem entre a gente. 03:44am
Cole: Você está bem? Não recebeu minha mensagem. 10:23am
Cole: Aconteceu algo? Fui na saída do seu colégio e não te vi sair. 12:52pm
Cole: Você me bloqueou? Tá me ignorando? 19:36pm

Suspirei e ignorei as mensagens de Cole. Não queria ter que falar com ele agora e explicar o que está acontecendo. Então resolvi ignorar. Comecei a jogar algum joguinho pra passar o tempo e minha comida chegou em seguida.
Comi igual uma louca, estava morrendo de fome. A enfermeira me deu mais remédios e o sono começou a bater pouco depois.

Ouvi meu celular vibrar no criado mudo e o peguei na mão.

Cole: Eu não acredito que você vai visualizar minhas mensagens e não vai responder, Eileen. Eu estou te pedindo desculpas. 
Eileen: Eu aceito suas desculpas, só não quero conversar agora. Boa noite.

Desliguei o celular e me concentrei em dormir.

Acordei no outro dia com uma enfermeira derrubando um copo de vidro do meu quarto. Eu tomei um susto tão grande que meu ar começou a faltar tanto que eu quase morri. E nessa altura do campeonato o "quase morri" nunca era brincadeira. Depois de acalmar e limpar o quarto, o médico me deu alta e disse pra eu ligar pra alguém me buscar. Mandei uma mensagem para Nathalie, mas era meio da manhã e todos estavam na aula, então eu teria que esperar. Passei as horas pesquisando pelo celular o significado de todas as doenças que eu tenho e as notícias não eram nada boas. Na melhor das hipóteses, eu não passaria dos cinquenta anos, e na pior, de amanhã.

Passado o tempo, Nathalie mandou uma mensagem de que estava chegando e eu me arrumei. Agora eu estava igual a menina de "A Culpa É Das Estrelas", carregando aquele cilindro. Como era novo e eu não tinha uma mochilinha pra carregar, desci o elevador segurando meu cilindro no braço como um bebê. Nathalie e Caleb me esperavam na recepção e a reação deles foi de espanto, como se alguém tivesse acabado de se acidentar na frente deles. Eu estava triste. Não era pouco.
Após explicar tudo para os dois, fomos em uma loja de artigos de enfermagem comprar um suporte pro meu cilindro. Era bem perto do prédio então falei que eles poderiam ir pra casa, que eu iria comprar doces e logo ia. Seria bom andar um pouco.
Eu sentia que os olhares me perseguiam em cada passo que eu dava. Me sentia uma estranha. Como quando a gente sai de casa com uma roupa que não gosta, e sente que todo mundo sabe que você tá ridículo.  Entrei na mercearia e comprei todo o dinheiro que eu tinha em chocolate, doces e besteiras. Sai com uma sacola enorme de lá e graças à Deus que era perto de casa.
"Eileen!" ouvi alguém chamar.
Ah, não. Vou fingir que não ouvi.
"Eileen." a voz se aproximava. E eu continuava ignorando.
"Eileen." senti a pessoa encostando no meu ombro e virei lentamente o
rosto pra olhar pro Cole.
"O que foi?" perguntei. Ele me olhou chocado.
"Eu é que pergunto o que foi. O que é isso no seu rosto? Você não me responde, isso aconteceu e eu não to sabendo de nada." ele dizia alto.
"E por quê você precisa saber disso? O que muda na sua vida? Você não é nada meu pra saber disso. Você acha que eu quero sair por aí contando sobre isso?" perguntei. "Contando o que, eu não sei o que é. Eu tô preocupado, isso é sério? Eu posso ajudar?"
"Cole. O sangue na minha perna quando a gente saiu era um melanoma. Isso aqui" -apontei pra cânula- "é bronquite e hipoxemia, vindo de um câncer no pulmão, vindo do meu câncer de pele. Você quer mesmo se envolver com isso? Você quer aparecer na internet namorando uma menina como eu? Não perca o seu tempo tendo pena de mim, e vai viver a vida, porque pelo menos você tem uma. Eu não sei se vou estar viva amanhã, e isso é demais pra compartilhar com alguém. Agora se me dá licença, eu tenho muito no que sofrer.". Deixei Cole parado na calçada e subi pro apartamento.

Vancouver New Life 🌦 ~Cole SprouseOnde histórias criam vida. Descubra agora