Savannah
Olho para o pequeno e surrado urso marrom que tenho preso em meus braços e pondero.
Ponderar é algo que tenho feito com frequência, desde que descobri o significado desta palavra.
Eu não me lembro de algum dia não ter o Sr Gus em minha vida. Mesmo que agora ele esteja velho e desbotado, e mesmo que eu tenha perdido um de seus olhos a alguns meses atrás, ainda parecia terrivelmente difícil deixá-lo para trás.
– Sav, está pronta? – Minha mãe surge em meu campo de visão e atrás dela consigo ver uma grande caminhonete estacionando frente a porta.
– É difícil dizer adeus. – Assumo, mordendo o lábio.
– Querida, sabe que pode levá-lo. – Mamãe sorri, parecendo tensa. Ela sabe, tudo que está por trás do inocente urso de pelúcia.
– Eu sou uma mocinha agora. Preciso me livrar dos hábitos infantis. – Asseguro, deixando para lá todas as palavras não ditas entre nós e firmando meu queixo, tentando parecer decidida, mesmo que em cada parte do pequeno Sr Gus eu consiga sentir o cheiro de meu pai, como que impregnado.
– Minha menina, você acabou de fazer onze anos. – Ela sorri a minha frente. – Terá muito tempo para ser adulta quando for necessário!
As palavras dela me dão força. Porque o necessário é agora. Eu decidi que não vou mais sofrer por alguém que me abandonou e não me vê a tantos anos. Alguém que não se preocupou com o fato de estar deixando uma filha que o amava para trás. Alguém que apenas cavou a distância de um mundo entre nós e fez meu coração tão pequeno, quanto uma partícula de poeira, dançando no vento.
Solto Sr Gus sobre a escada e enlaço as mãos de minha mãe, que estão estendidas.
– O Sr Gus fica. Você é tudo de que preciso. – Falo, minha voz levemente trêmula.
– Estou orgulhosa, pequena Sav. Seremos felizes, meu amor. Eu prometo. – Ela beija o topo da minha cabeça parecendo emocionada. Ela sabe que não é apenas o Sr Gus. E eu também sei. Por isso dói tanto, que eu mal consigo respirar.
Dou o primeiro passo e ela me acompanha. Seguimos para o carro.
Deixo para trás a casa, o Sr Gus. Deixo para trás a única lembrança do homem que quase destruiu nossas vidas.
Impresso na triste figura do Sr Gus, eu finalmente estou abrindo mão do meu pai, e o deixando para trás.
Eu tento ser forte, mas uma solitária lágrima me escapa, quando sei que nunca conseguirei ser completa estando tão quebrada.
– Adeus papai. – Sussurro, para o vento.
***
Pensar sobre emoções nunca me ajudaram muito antes. Mas enquanto corro por entre as poças de lama, mãos firmemente entrelaçadas as de mamãe rumo as luzes do grande casarão no meio daquela chuva fria, eu tento avaliar meus sentimentos.
Poucos meses de visitas cordeais, sorrisos bobos e presentes singelos, fizeram minha solitária mãe se apaixonar pelo enigmático e fechado Sr Willis, dono de grande parte das fazendas dos arredores de nossa cidade.
Agora estávamos ali, naquele caminho sem volta.
Nova casa, nova família, nova vida.
Não seríamos mais apenas nós duas contra o mundo. Teríamos aquele estranho aparentemente bondoso de sorriso simples e seu filho, que eu ainda não conhecia, mas que ouvira ser problemático, mas controlável.
![](https://img.wattpad.com/cover/82855080-288-k298559.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quase irmãos - Livro 1 disponível na Amazon
RomansRomance / Drama sobre um amor que cresce e se impõe em meio a impasses, segredos e mentiras feias. Eles foram criados como irmãos,mas o amor nasceu contra qualquer possibilidade e toma tudo a sua volta, sem esperar autorização, sem entender proibiç...