Capítulo 11: A salvação

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Lucas

Terça, 2:10pm.

Às vezes fico pensando em como seria se minha mãe estivesse ao meu lado. Será que nós ainda estaríamos aqui? Ou será que ela, certamente, já teria separado-se do meu pai?

Na verdade, eles nunca estiveram juntos de verdade. Lembro-me de que minha mãe me contava que eles se conheceram no colégio e que meu pai nunca fora uma pessoa que gostava de estudar. Ele sempre foi o tipo festeiro, porém minha mãe não ligou pra isso e deixou ser influenciada pela ilusão. Meu pai prometera quase os céus e a terra para ela, dizendo que a amava que ficaria sempre ao seu lado. E ela acreditou. Afinal, a paixão havia a cegado completamente.

Eles se casaram. Ou melhor, passaram a viver juntos, ambos tinham vinte anos. Os primeiros anos, meu pai não se mostrou alguém despreocupado com tudo. Pelo contrário, ele trabalhou e amava minha mãe como prometera. Com quase dois anos e meio juntos, meu pai começou, literalmente, a sumir depois do trabalho. Às noites, ele simplesmente sumia do mapa e minha mãe não fazia ideia de onde ele estivera. Ele estava nada mais, nada menos, que em festas, se embebedando. Seu alcoolismo começou a partir daí.

Com pouco tempo, minha mãe descobriu estar grávida. Minha mãe dizia que meu pai não mostrou muito entusiasmo quanto a isso, para ele, tanto fazia a ideia de ter um filho. Ele só se preocupava com si mesmo, quer dizer, ele só se preocupa com si mesmo.

Eu nasci e minha mãe já sofria com tudo que o meu pai fazia ela passar. Ele sempre gritava com ela sem motivo algum, por efeito de suas bebidas, e sempre procurava se satisfazer com o álcool, esquecendo que tinha uma família. Eu cresci em um ambiente de brigas, o único carinho que eu já recebi, foi da minha mãe. Coisa que eu não recebo há uns doze anos atrás. Ela foi embora. E eu já não via mais alguém que se importasse comigo.

Desci as escadas e percebi que meu pai não estava em casa. Que novidade!

Fui na geladeira e esquentei um pedaço de lasanha que havia sobrado de ontem. Após almoçar, senti sono e fui para o meu quarto. Não demorou muito até que eu adormecesse em meio aos meus pensamentos.

✝ = ❤

Estava em meu quarto me preparando para ir dormir.

- Já escovou os dentinhos? - perguntou mamãe e eu assenti. - Deixa eu ver se estão limpos!

Sorri mostrando os dentes e ela riu.

- Muito bem, está de parabéns! - falou me cobrindo com o cobertor.

- Mamãe, onde está o papai? - perguntei atropelando um pouco as palavras. Ela sorriu fraco.

- Eu não sei, meu amor. Mas está na hora de você dormir. - ela depositou um beijo em minha cabeça. - Não esqueça de sempre ter coragem. Eu amo você, meu pequeno príncipe, nunca esqueça disso!

- Eu te amo, mamãe! - sussurrei, sonolento.

Ela beijou levemente minha testa e sorriu, antes de fechar a porta de meu quarto e sair do meu campo de visão.

Acordei, literalmente, em um sobressalto e suspirei. Foi um sonho. Só um sonho.

Passei a mão pelo meu rosto e senti um suor por ele. Levantei, caminhei até o banheiro e lavei o meu rosto, olhando meu reflexo pelo espelho.

Aquela noite havia sido a última vez que eu vi minha mãe. Eu me lembro claramente de cada detalhe, de quando acordei, andei pela casa e percebi que não havia ninguém por lá. Eu estava sozinho!

Meus pensamentos foram interrompidos ao ouvir o meu celular tocar. Era seis e quinze.

- Alô?

Cremos | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora