Eu e ele

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Parte 1 -

Raios de sol batiam em seu rosto e o despertador tocava. Ainda de olhos fechados ela resmungou e de repente Aika deu um pulo da cama e desesperadamente abriu o armário.

- Merda, merda, merda... Estou atrasada.

Ela repetia enquanto retirava a roupa e vestia o que tinha pego primeiro. Abotoou uma blusa e enquanto quase caindo ao pôr as calças ela olhou a hora e abafou um choro prestes a sair. O despertador devia ter alarmado várias vezes. Ela praguejou.

- Quem inventou o modo soneca?!

- Não fui eu...

Na porta um homem a observava e saboreava um café.Seu rosto era uma máscara sem expressão mas seus olhos traíam um riso.

Aika gritou e jogou um travesseiro. Infelizmente ou não, era o que estava a mão. O homem evadiu surpreso. Mas logo falou relaxado:

- Ei ei ei. E se eu derramasse o café?

- Quem é você?

- Hoje é um dia livre. Não há necessidade de correria. Por que não volta a por o pijama ou algo mais sexy?

- ...

- Nenhuma reação? Que fria... Minha alma está gritando amargurada. *Suspiro* Você não se lembra?

A minha que está - pensou Aika e ela só conseguiu manejar um não com a cabeça. Ele estava falando dele, algo que aconteceu, ou dos dois? Ela não sabia dizer e estava incapaz de falar. O que ela fez no dia anterior se hoje já era domingo?

- Bem... Assim as coisas ficam um pouco mais complicadas. Você não me disse que tinha desordens mentais... Será da queda de ontem? De qualquer maneira... Somos colegas de apê agora.

Ela finalmente encontrou palavras depois de alguns segundos.

- Você está brincando né? Saia, sai agora antes que eu chame a polícia!

- Receio dizer que não posso fazer isso, Aika.

- Por que não?!

- Porque somos comparsas no crime.

- O queeeê!?

Sua voz já havia dado vários crescendos. E ela sentia vontade de jogar o homem pela janela do terceiro andar. Seu nome foi dito tão casualmente que o modo a irritava e além de tudo ele era um estranho.

- Brincadeira. Não faça essa cara ainda pela manhã. Ontem mesmo quis ser minha amante e já está uma fera, minha nossa.

- Não me venha com essa. Seu maníaco.

- Bem, bem, bem. Meu nome é Rey. Venha, antes que o café esfrie. Tão problemática.*Suspiro*

Aika viu ele sair do seu quarto, o outro de frente estava fechado, ela havia mesmo alugado um quarto? Por que logo para um cara tão irritante... E o seguiu em silêncio, até a cozinha. Aika sentou numa mesinha e colocou as mãos na cabeça em desespero enquanto via o homem chamado Rey usar sua cozinha. Uma caneca familiar foi pressionada contra seu rosto. Ela se afastou com o pequeno susto.

- Sonhando acordada com a minha bela figura?

- Estou esperando você esclarecer mais as coisas, pervertido.

- Torradas ou biscoito, Aika?

- Não me chame tão casualmente.

- Mas você já chegou ao ponto de me apelidar mesmo com tão pouco tempo... Isso não prova nossa intimidade?

Ele tem carteirinha de louco ou algo do tipo? O que devo fazer?

Ela aceitou a caneca. Ele estava parado fitando-a e esperando.

- Torradas então.

Ele ligou a torradeira e colocou duas. E foi preparar omeletes. Aika misturou seu café com leite e tomou um gole enquanto via o homem trabalhando em sua cozinha. Ter um homem cozinhando sob seu teto era um sonho mas ela não podia deixar de se sentir irritada.

- Você poderia até ficar se fizesse minha comida todos os dias.

- Ha ha ha. Igualzinha a ontem.

Depois de rir sua expressão ficou séria, ele colocou o prato com as torradas e o omelete na mesa e passou a mão levemente na cabeça de Aika. Ela rejeitou essa mão e fez uma careta.

- Dói?

- Hmm... Não. Você disse antes que eu cai. Bati a cabeça? Onde? Como?

- ... Você tropeçou numa superfície totalmente plana. Não, você saiu deslizando pelo piso. Espera, você caiu da escada.

- Afinal o que diabos aconteceu?

- Você acreditaria se eu contasse agora?

- Com essa cara séria enquanto diz essas coisas, não. Mas tudo bem, foi só um dia, contanto que eu não tenha feito nenhuma loucura, está... O que há com essa cara?

- ...

Depois de sustentar uma máscara em branco, Rey começou a se tremer e terminou explodindo em gargalhadas. Ele se curvou de costas para a bancada da pia, chorando e segurando a barriga.

- Nunca ri tanto ao lado de uma mulher. Se você tivesse um pouco mais de reação não sei o que faria. Você desperta o meu lado sádico, sabe.

- Esqueça as propostas. Você pode até ser sádico mas não sou masoquista.

Aika lançou um olhar penetrante em sua direção e mordiscou sua torrada. Ele não tinha a menor intenção de responder suas perguntas com seriedade. Ela não podia deixar de prender um longo suspiro que queria sair. Olhando para o relógio no pulso, Rey disse:

- O intervalo acabou.

- Aonde vai?

- Jogar jogos online. Até depois.

E partiu para seu quarto, Aika ficou boquiaberta e pensando em como seria bom espancá-lo e no que fazer ao longo do dia. Talvez ela fosse um pouco sádica também.


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