Sem dúvida, a emoção fez tremer a minha voz e, virando-se para o padre Révérony, que me olhava surpreso e descontente, o Santo Padre disse: "Não compreendo muito bem". Se Deus tivesse permitido, teria sido fácil para o padre Révérony obter para mim o que eu desejava, mas era a cruz e não a consolação que Ele queria me dar. "Santíssimo Padre", respondeu o vigário-geral, "é uma criança que deseja ingressar no Carmelo aos 15 anos, mas os superiores examinam a questão neste momento." "Então, minha filha", respondeu o Santo Padre, olhando-me com bondade, "fazei o que os superiores vos disserem." Apoiando minhas mãos sobre seus joelhos tentei um último esforço e disse com voz suplicante: "Oh! Santíssimo Padre, se dissésseis sim, todos estariam a favor!..." Ele olhou-me fixamente e pronunciou as seguintes palavras, destacando cada sílaba: "Vamos... Vamos... Entrareis se Deus quiser..." Sua acentuação tinha alguma coisa de tão penetrante e de tão convincente que tenho impressão de ouvi-lo ainda. A bondade do Santo Padre me animava e eu queria falar mais, mas os dois guardas tocaram-me polidamente para fazer-me levantar. Vendo que isso não era suficiente, seguraram-me pelos braços e o padre Révérony os ajudou a levantar-me, pois ainda estava com as mãos juntas, apoiadas nos joelhos de Leão XIII, e foi pela força que me arrancaram dos seus pés... No momento em que estava sendo retirada, o Santo Padre colocou sua mão nos meus lábios e levantou-a para me benzer. Então, meus olhos encheram-se de lágrimas e o padre Révérony pôde contemplar, pelo menos, tantos diamantes como tinha visto em Bayeux... Os dois guardas carregaram-me, pode-se dizer, até a porta e um terceiro me deu uma medalha de Leão XIII. Celina, que me seguia e havia sido testemunha da cena que acabava de acontecer, quase tão emocionada quanto eu, ainda teve a coragem de pedir ao Santo Padre uma bênção para o Carmelo. O padre Révérony, com voz descontente, respondeu: "O Carmelo já foi abençoado". O bondoso Santo Padre confirmou com doçura: "Oh, sim! já foi abençoado". Antes de nós, papai viera aos pés de Leão XIII, com os homens. O padre Révérony foi gentil com ele, apresentando-o como pai de duas carmelitas. Como sinal de benevolência, o Soberano Pontífice pôs a mão sobre a cabeça venerável do meu Rei querido, parecendo marcá-la com um selo misterioso, em nome Daquele de quem é o verdadeiro representante... Ah! agora que esse Pai de quatro carmelitas está no Céu, não é mais a mão do pontífice que repousa sobre sua fronte, profetizando-lhe o martírio... É a mão do Esposo das Virgens, do Rei de Glória, que faz resplandecer a cabeça de seu Fiel Servo. E, mais do que nunca, essa mão adorada não deixará de repousar na fronte que tem glorificado...
Meu papai querido ficou muito triste ao me encontrar chorando à saída da audiência, fez tudo o que pôde para me consolar. Mas foi inútil... No fundo do coração, sentia grande paz, pois tinha feito tudo o que me era possível fazer para responder ao que Deus queria de mim; mas essa paz estava no fundo e a amargura enchia minha alma, pois Jesus ficava calado. Parecia-me ausente, nada revelava a presença Dele... Ainda naquele dia, o sol não brilhou e o belo céu azul da Itália, carregado de nuvens escuras, não parou de chorar comigo... Ah! para mim, a viagem tinha acabado. Não comportava mais encantos, pois a finalidade não fora alcançada. Todavia, as últimas palavras do Santo Padre deveriam ter-me consolado: não eram, de fato, verdadeira profecia? Apesar de todos os obstáculos, o que Deus quis cumpriu-se. Não permitiu que as criaturas fizessem o que queriam, mas a vontade Dele... Havia algum tempo oferecera-me ao Menino Jesus para ser seu brinquedinho. Tinha-lhe dito para não me usar como brinquedo caro que as crianças só podem olhar sem ousar tocar, mas como uma bola sem valor que podia jogar no chão, dar pontapés, furar, largar num cantinho ou apertar contra seu coração conforme achasse melhor; numa palavra, queria divertir o Menino Jesus, agradar-lhe, queria entregar-me a suas manhas de criança... Ele aceitou minha oferta...
Em Roma, Jesus furou seu brinquedinho. Queria ver o que havia dentro e, depois de ver, contente com sua descoberta, deixou cair sua pequena bola e adormeceu... Que fez durante o sono e que foi feito da bola deixada de lado?... Jesus sonhou que continuava brincando com sua bola, deixando-a e retomando-a, e que, depois de deixá-la rolar muito longe, a apertou no seu coração, não permitindo mais que se afastasse de sua mãozinha...
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HISTÓRIA DE UMA ALMA (Santa Teresinha do Menino Jesus) COMPLETO
SpiritualALENÇON (1873 - 1877) J.M.J.T. Jesus Janeiro de 1895 História primaveril de uma Florzinha branca escrita por ela mesma e dedicada à Reverenda Madre Inês de Jesus.