MANUSCRITO ENDEREÇADO A MADRE MARIA DE GONZAGA
J.M.J.T.
Madre bem-amada, manifestastes-me o desejo de que eu termine de cantar convosco as Misericórdias do Senhor. Comecei este doce canto com vossa filha querida, Inês de Jesus, que foi a mãe encarregada por Deus de guiar-me na minha infância. Portanto, era com ela que eu devia cantar as graças concedidas à florzinha da Santíssima Virgem, quando na primavera da vida. É convosco que devo cantar a felicidade desta florzinha, agora que os tímidos raios da aurora deram lugar aos ardores do meio-dia. Sim, é convosco, Madre querida, é para atender ao vosso desejo que vou tentar redizer os sentimentos da minha alma, minha gratidão para com Deus e para convosco, que o representais visivelmente. Não foi nas vossas mãos maternas que me entreguei inteiramente a Ele? Oh, Madre! tendes lembrança daquele dia?... Sim, sinto que vosso coração não poderia esquecê-lo... Devo esperar o belo Céu, pois não encontro palavras capazes de expressar o que aconteceu em meu coração naquele dia bendito.
Madre querida, há um outro dia em que minha alma se uniu ainda mais à vossa, se isso fosse possível, foi o dia em que Jesus vos impôs novamente o fardo do superiorado. Naquele dia, Madre querida, semeastes em lágrimas, mas no Céu sereis cumulada de alegria ao vos apresentardes carregada de feixes preciosos. Ó Madre, perdoai minha simplicidade infantil, sinto que me permitis falar-vos sem procurar distinguir o que é ou não é permitido a uma jovem religiosa dizer à sua priora. Talvez não me contenha sempre nos limites prescritos aos subalternos, mas, querida Madre, ouso dizê-lo, é por culpa vossa, tenho convosco atitudes de criança porque não agis comigo como priora, mas como mãe... Ah! sinto perfeitamente, querida Madre, é Deus que me fala por vosso intermédio. Muitas irmãs pensam que me tendes mimado. Que desde minha chegada à arca santa só recebi de vós carícias e agrados. Mas não é bem assim. Vereis, Madre, no caderno em que relato minhas lembranças de infância, o que penso da educação forte e materna que recebi de vós. Do mais profundo do meu coração, vos agradeço por não me terdes poupado. Jesus sabia muito bem que sua florzinha precisava da água vivificante da humilhação, era fraca demais para criar raiz sem essa ajuda, e foi por vós, Madre, que esse benefício lhe foi dado.
Há um ano e meio, Jesus quis mudar a maneira de cultivar sua florzinha. Achou-a, sem dúvida, bastante regada; resolveu que ela precisava de sol para crescer. Doravante, Jesus só quer dar a ela o seu sorriso e o dá por vós, Madre querida. Esse sol suave, longe de fazer murchar a florzinha, a faz crescer maravilhosamente. No fundo do seu cálice, ela conserva as preciosas gotas de orvalho que já recebeu e essas gotas recordam-lhe sempre que é pequena e fraca... Todas as criaturas podem inclinar-se para ela, admirá-la, cobri-la de elogios; sem saber por quê, tudo isso não acrescenta uma única gota de falsa alegria à alegria verdadeira que saboreia em seu coração, por se ver o que é aos olhos de Deus: apenas um pobre nadinha, nada mais... Digo não entender por quê, mas não seria por ter sido preservada da água dos elogios enquanto seu pequeno cálice não fosse repleto do orvalho da humilhação? Agora, o perigo passou. A florzinha acha tão delicioso o orvalho do qual está repleta que não o trocaria de forma alguma pela água insípida dos elogios.
Não quero falar, Madre querida, do amor e da confiança que me manifestais. Não pensai que o coração da vossa filha esteja insensível a eles, mas sinto não ter nada a temer agora, pelo contrário, posso gozar deles, atribuindo a Deus o que Ele se dignou pôr de bom em mim. Se lhe agrada fazer-me parecer melhor do que sou, isso não me diz respeito. Ele é livre para agir como quer... Oh, Madre! como são diferentes os caminhos pelos quais o Senhor conduz as almas! Na vida dos santos, vimos que muitos não quiseram deixar nada de si depois da morte, nem o mínimo escrito, nem a mínima lembrança. Outros, pelo contrário, como nossa Madre santa Teresa, enriqueceram a Igreja com suas sublimes revelações, sem receio de contar os segredos do Rei, para que seja mais conhecido, mais amado pelas almas. Qual desses dois gêneros de santos agrada mais a Deus? Parece-me, Madre, que os dois lhe são igualmente agradáveis, pois todos seguiram o impulso do Espírito Santo, e que o Senhor disse: Dizei ao Justo que está Tudo bem. Sim, tudo está bem quando se procura apenas a -vontade de Jesus. Eis por que eu, pobre florzinha, obedeço a Jesus procurando agradar a minha Madre querida.
Sabíeis, Madre, que sempre desejei ser santa, mas ai! sempre constatei, quando me comparei com os santos, haver entre eles e mim a mesma diferença que existe entre uma montanha cujos cimos se perdem nos céus, e o obscuro grão de, areia pisado pelos transeuntes. Em vez de desanimar, disse a mim mesma: Deus não poderia inspirar desejos irrealizáveis, portanto posso, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade; não consigo crescer, devo suportar-me como sou, com todas as minhas imperfeições; mas quero encontrar o meio de ir para o Céu por uma via muito direta, muito curta, uma pequena via, totalmente nova. Estamos num século de invenções. Agora, não é mais preciso subir os degraus de uma escada, nas casas dos ricos, um elevador a substitui com vantagens. Eu também gostaria de encontrar um elevador para elevar-me até Jesus, pois sou pequena demais para subir a íngreme escada da perfeição. Procurei então, na Sagrada Escritura a indicação do elevador, objeto do meu desejo, e li estas palavras da eterna sabedoria: Quem for pequenino, venha cá; ao que falta entendimento vou falar. Vim, então, adivinhando ter encontrado o que procurava e querendo saber, ó Deus, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso chamado. Continuei minhas pesquisas e eis o que achei: Como alguém que é consolado pela própria mãe, assim eu vos consolarei. Sereis amamentados, levados ao colo, e acariciados sobre os joelhos! Ah! nunca palavras mais suaves, mais melodiosas, vieram alegrar minha alma. Vossos braços são o elevador que deve elevar-me até o Céu, ó Jesus! Para isso, eu não preciso crescer, pelo contrário, preciso permanecer pequena, que o venha a ser sempre mais. Ó meu Deus, superastes minha expectativa e quero cantar as vossas misericórdias. "Vós me instruístes, ó Deus, desde a minha juventude, e até agora proclamo as vossas maravilhas; e também até a velhice, até à canície continuarei a publicá-las. Qual será para mim essa idade avançada? Parece-me que poderia ser agora, pois dois mil anos não são mais que vinte aos olhos do Senhor... que um dia... Ah! não creiais, Madre querida, que vossa filha deseja vos deixar... não creiais que considera como graça maior a de morrer na aurora em vez de no crepúsculo. O que aprecia, o que deseja unicamente é agradar a Jesus... Agora que Ele parece aproximar-se dela, a fim de atraí-Ia para a sua glória,, vossa filha se alegra. Há muito compreendeu que Deus não precisa de ninguém (menos ainda dela que dós outros) para realizar o bem.na terra.
Perdoai-me, Madre, se vos entristeço... ah! gostaria tanto de vos alegrar... mas credes que se vossas orações não são atendidas na terra, se Jesus separa por alguns dias a criança da mãe, essas orações não serão atendidas no Céu?...
Vosso desejo, sei, é que eu cumpra junto a vós uma missão muito suave, muito fácil; mas não poderia eu terminá-la do alto do Céu?... Como Jesus disse um dia a são Pedro, vós dissestes à vossa filha: "Apascenta meus cordeirinhos". Espantei-me e vos disse "ser eu pequena demais"... supliquei para que vós mesma apascentásseis vossos pequenos cordeiros e me guardásseis, me apascentásseis, por favor, com eles. E vós, Madre querida, atendendo um pouco ao meu justo desejo, guardastes os cordeirinhos com as ovelhas, mas ordenando-me que fosse muitas vezes fazê-las pastar na sombra, que lhes indicasse as melhores ervas e as mais fortificantes, que lhes mostrasse as flores brilhantes que nunca devem tocar a não ser para esmagá-las com os pés... Não receastes, Madre querida, que eu extraviasse vosso cordeirinhos; minha inexperiência, minha juventude não vos atemorizaram. Talvez tenhais recordado que, muitas vezes, o Senhor se compraz em conceder a sabedoria aos pequenos e que, um dia, num impulso de alegria, bendisse a seu Pai por ter ocultado seus segredos aos sábios e tê-los revelado aos pequenos. Sabeis, Madre querida, pouco raras são as almas que não medem o poder de Deus segundo seus próprios pensamentos, aceitam que em todo lugar na terra haja exceções, mas recusam a Deus o direito da fazê-las. Sei que essa maneira de [medir] a experiência aos anos vividos se pratica há muito tempo entre os humanos, pois na sua adolescência o santo rei Davi cantava ao Senhor: "Sou jovem e desprezado". No mesmo salmo 118, não receia dizer: "Tornei-me mais prudente que os ancião porque busquei vossa vontade... Vossa palavra é a lâmpada que ilumina meus passos... Estou pronto para cumprir vossa ordens; nada me perturba..."
Madre querida, não receastes dizer-me, um dia, que Deus iluminava a minha alma, que até me dava a experiência dos anos... ó Madre! sou pequena demais para ter vaidade agora; sou ainda pequena demais para elaborar belas frases para vos fazer crer que tenho muita humildade, prefiro acreditar, simplesmente, que o Todo-Poderoso fez grandes coisas na alma da filha de sua divina Mãe e a maior é ter-lhe mostrado a sua pequenez, sua impotência. Madre querida, sabeis muito bem, Deus se dignou fazer minha alma passar por provações de diversas espécies, sofri muito desde que estou na terra mas se, na minha infância, sofri com tristeza, não é mais assim que sofro atualmente, é na alegria e na paz. Sou verdadeiramente feliz em sofrer. Ó Madre, é preciso que conheçais todos os segredos da minha alma para não sorrirdes ao lerdes estas linhas, pois será que existe uma alma menos provada que a minha, se julgarmos pelas aparências? Ah! se a provação que sofro há um ano aparecesse aos olhares, que surpresa!..
Madre querida, sabeis qual é essa provação, mas vou falar-vos dela ainda, pois considero-a uma grande graça recebida sob vosso priorado abençoado.
No ano passado, Deus permitiu-me o consolo de observar o jejum da quaresma em todo o seu rigor. Nunca me sentira tão forte e essa força manteve-se até a Páscoa. Porém, na Sexta-Feira santa, Jesus deu-me a esperança de ir vê-lo em breve, no Céu... Oh! como me é suave essa lembrança! Após ter ficado junto ao túmulo até a meia-noite, regressei à nossa cela, mas apenas coloquei a cabeça no travesseiro senti um fluxo subir, subir borbulhando até meus lábios. Não sabia de que se tratava, mas pensei que, talvez, fosse morrer e minha alma estava inundada de alegria... Mas, como nossa lâmpada estava apagada, disse a mim mesma que era preciso esperar o amanhecer para ter certeza da minha felicidade, pois parecia-me ser sangue que eu tinha vomitado. O amanhecer chegou logo. Ao acordar, pensei imediatamente ter alguma coisa alegre a constatar. Perto da janela, pude verificar meu pressentimento... Ah! minha alma ficou repleta de uma grande consolação; estava intimamente persuadida de que Jesus, no dia do aniversário da sua morte, queria me deixar perceber um primeiro chamado. Era como um suave e longínquo murmúrio que me anunciava a chegada do Esposo...
Assisti com grande fervor à Prima e ao capítulo dos perdões. Estava ansiosa para que chegasse a minha vez, a fim de poder, pedindo perdão, confidenciar a vós, querida Madre, minha esperança e minha felicidade. Acrescentei que não tinha dor nenhuma (o que era verdade) e pedi-vos, Madre, que nada me désseis de particular. De fato, tive o consolo de passar a Sexta-feira Santa como eu queria. Nunca as austeridades do Carmelo pareceram-me tão deliciosas. A esperança de chegar ao Céu arrebatava-me de alegria. À noite desse feliz dia, foi preciso repousar, mas Jesus deu-me o mesmo sinal de que meu ingresso na vida eterna estava próximo... Gozava então de uma fé tão viva, tão clara, que o pensamento do Céu era toda a minha felicidade, não podia crer na existência de ímpios desprovidos de fé. Acreditava que falavam contra o próprio pensamento ao negar a existência do Céu, do belo Céu onde o próprio Deus quer ser a recompensa eterna. Nos dias tão alegres do tempo pascal, Jesus fez-me sentir haver almas sem fé que, por abuso das graças, perdem esse precioso tesouro, fonte das únicas alegrias puras e verdadeiras. Permitiu que minha alma fosse invadida pelas mais densas trevas e que a idéia do Céu, tão suave para mim, não passasse de tema de combate e tortura... Essa provação não devia durar apenas alguns dias, algumas semanas, só devia desaparecer na hora marcada por Deus e... essa hora não chegou ainda... Gostaria de poder expressar o que sinto, mas creio ser impossível. É preciso ter andado por esse túnel escuro para compreender a escuridão. Mas vou tentar explicar por meio de uma comparação.
Imagino ter nascido num país envolvido por um denso nevoeiro. Nunca contemplei o risonho aspecto da natureza, inundada, transfigurada pelo sol brilhante; desde minha infância, ouço falar dessas maravilhas, sei que o país em que estou não é a minha pátria, que existe outro com o qual devo sonhar sempre. Não se trata de uma história inventada por um habitante do triste país em que estou, mas é uma realidade comprovada, pois o Rei da pátria do sol brilhante veio viver trinta e três anos no país das trevas. Ai! as trevas não entenderam que esse Rei divino era a luz do mundo... Mas, Senhor, vossa filha entendeu vossa divina luz, pede-vos perdão pelos seus irmãos, aceita comer, pelo tempo que quiserdes, o pão da dor e não quer levantar-se desta mesa coberta de amargura onde comem os pobres pecadores antes do dia marcado por vós... Mas não pode ela dizer em seu nome e em nome dos seus irmãos: Tendes piedade de nós, Senhor, pois somos pobres pecadores!?... Oh! Senhor, mandai-nos justificados para casa... Que todos aqueles que não estão iluminados pela luz resplandecente da fé a vejam finalmente luzir... Ó Jesus, se for preciso que a mesa por eles maculada seja purificada por uma alma que vos ama, aceito comer sozinha o pão da provação até o momento que vos agradar introduzir-me em vosso reino luminoso. A única graça que vos peço é a de nunca vos ofender!...
Madre querida, o que vos escrevo não tem seqüência lógica. Minha historiazinha que se assemelhava a um conto de fadas transformou-se de repente em oração. Não sei do interesse que teríeis em ler todos estes pensamentos confusos e mal expressos. Enfim, Madre, não escrevo uma obra literária, mas por obediência. Se vos aborreço, vereis, pelo menos, que vossa filha mostrou boa vontade. Portanto, e sem desanimar vou prosseguir com minha comparaçãozinha, a partir do ponto em que a deixei. Dizia que a certeza de, um dia, ir longe do país triste e tenebroso me fora dada na infância; não acreditava apenas no que ouvia dizer por pessoas mais instruídas que eu, mas sentia no fundo do meu coração aspirações por uma região mais bonita. Assim como o gênio de Cristóvão Colombo levou-o a pressentir a existência de um novo mundo quando ninguém tinha pensado nisso, também eu sentia que outra terra me serviria de morada estável, um dia. Mas, de repente, o nevoeiro que me envolve torna-se mais denso, invade minha alma, e a envolve de tal maneira que não me é mais possível ver nela a imagem da minha pátria. Tudo se evaporou! Quando quero que meu coração, cansado das trevas que o envolvem, repouse com a lembrança do país luminoso ao qual aspiro, meu tormento aumenta. Parece-me que as trevas, pela voz dos pecadores, me dizem zombeteiras: "Sonhas com a luz, com uma pátria perfumada pelos mais suaves olores, sonhas com a eterna posse do Criador de todas essas maravilhas, acreditas um dia poder sair do nevoeiro que te envolve, avança, avança, alegra-te com a morte que não te dará o que esperas, mas uma noite ainda mais profunda, a noite do nada".
Madre querida, a imagem que quis vos dar das trevas que envolvem minha alma é tão imperfeita quanto um esboço comparado com o modelo. Porém, não quero escrever mais, receio blasfemar... receio até ter falado demais...
Ah! que Jesus me perdoe se o magoei, mas ele sabe que, embora sem o gozo da Fé, procuro, pelo menos, realizar as obras. Creio ter feito mais atos de fé, neste último ano, do que em toda a minha vida'. A cada nova ocasião de luta, quando meus inimigos vêm me provocar, comporto-me com bravura; por saber que é covardia bater-se em duelo, viro as costas para meus adversários", sem dignar-me olhá-los de frente, mas corro para meu Jesus, digo-lhe que estou pronta para derramar até a última gota do meu sangue" para confessar que o Céu existe. Digo-lhe que estou feliz por não gozar desse belo Céu na terra, a fim de que Ele o abra para a eternidade aos pobres incrédulos. Assim, apesar dessa provação que aparta de mim todo o gozo, posso clamar: "Senhor, vós me cumulais de alegria" por tudo o que fazeis" (SL XCI). Pois existe alegria maior que a de sofrer pelo vosso amor?... Mais interior é o sofrimento, menos aparece aos olhos das criaturas, mais ele vos alegra, ó meu Deus; mas se, por impossível que fosse, devêsseis ignorar meu sofrimento, ainda seria feliz de suportá-lo se, por meio dele, eu pudesse impedir ou reparar uma única falta cometida contra a Fé...
Madre querida, talvez vos pareça que exagero minha provação; de fato, se julgais a partir dos sentimentos expressos nas pequenas poesias que escrevi durante este ano, sou uma alma repleta de consolações e para quem o véu da fé está quase rasgado. Mas... não é mais um véu para mim, é um muro levantado até os céus e que encobre o firmamento estrelado... Quando canto a felicidade do Céu, a eterna posse de Deus, não sinto alegria alguma, pois só canto o que quero crer. Às vezes, é verdade, um raiozinho de sol vem iluminar minhas trevas; então, a provação cessa por um instante, mas depois a recordação desse raio, em vez de causar-me alegria, torna minhas trevas ainda mais densas.
Oh Madre! nunca senti tão bem como o Senhor é compassivo e misericordioso, só me mandou essa provação no momento em que tive a força para suportá-la, creio que, mais cedo, ela me teria mergulhado no desânimo... Agora, subtrai-me tudo o que poderia se encontrar de satisfação natural no desejo que tinha do Céu... Madre querida parece-me que agora nada me impede de levantar vôo, pois não tenho mais grandes desejos a não ser o de amar até morrer de amor... (9 de junho)
Madre querida, estou muito assustada vendo o que vos escrevi ontem. Que garranchos!... minha mão tremia tanto que me foi impossível prosseguir e agora até me arrependo por ter tentado escrever, espero hoje escrever de forma mais legível, pois não estou mais na cama, mas numa bonita poltrona branquinha.
Oh Madre! sinto que tudo o que vos digo não tem ordem, mas sinto também a necessidade de, antes de vos falar do passado, falar-vos dos meus atuais sentimentos. Se adiar, perderei, talvez, a lembrança deles. Quero dizer-vos, inicialmente, o quanto estou comovida por vossas delicadezas maternas. Ah! acreditai, Madre querida, o coração da vossa filha está repleto de gratidão, nunca esquecerá o que vos deve...
Madre, o que mais me comove é a novena que estais fazendo para Nossa Senhora das Vitórias, as missas que mandais celebrar para minha cura. Sinto que todos esses tesouros espirituais fazem um bem imenso à minha alma. No início da novena, dizia-vos, Madre, que era preciso a Santíssima Virgem curar-me ou me levar para os Céus, pois achava muito triste para vós e para a comunidade ter o encargo de uma jovem religiosa doente; agora, aceito ficar doente a vida toda se isso for agradável a Deus e consinto, até, em que minha vida seja muito longa. A única graça que desejo é que ela seja interrompida pelo amor.
Não! não receio um vida longa, não recuso a luta, pois o Senhor é a rocha na qual estou erigida, ele é quem adestra minhas mãos para a liça e meus dedos para a guerra. Nunca pedi a Deus para morrer jovem, mas é verdade que sempre esperei que seja essa a vontade Dele. Muitas vezes, o Senhor contenta-se com o desejo de trabalhar para sua glória e sabeis, Madre, que meus desejos são muito grandes. Sabeis também que Jesus me ofereceu mais de um cálice amargo, que afastou dos meus lábios antes de eu bebê-lo, não sem antes me fazer provar seu amargor. Madre querida, o santo rei Davi tinha razão quando cantava: "Oh! como é belo, como é prazeroso o convívio de muitos irmãos juntos!" Senti isso muitas vezes, mas é no meio dos sacrifícios que essa união deve acontecer na terra. Não foi para viver com minhas irmãs que vim para o Carmelo, foi unicamente para atender ao chamado de Jesus; ah! pressentia que seria um motivo de sofrimento contínuo viver com as próprias irmãs, quando não se quer conceder nada à natureza. Como se pode dizer ser mais perfeito afastar-se dos seus?... Já se censurou irmãos por combaterem no mesmo campo de batalha? Já os censuraram por colher juntos a palma do martírio?... Julgou-se, sem dúvida e com razão, que eles se animavam mutuamente; mas o martírio de cada um passava a ser o de todos. Assim é na vida religiosa, que os teólogos chamam de martírio. Ao dar-se a Deus, o coração não perde sua natural ternura, pelo contrário, essa ternura cresce ao tornar-se mais pura e mais divina.
Madre querida, é com essa ternura que vos amo, que amo minhas irmãs; estou feliz por combater em família para a glória do Rei dos Céus, mas estou disposta também a voar para outro campo de batalha se o Divino General me manifestar o desejo. Não haveria necessidade de uma ordem, bastaria um olhar, um simples sinal.
Desde meu ingresso na arca abençoada, sempre pensei que se Jesus não me levasse logo para o Céu o destino da pombinha de Noé seria o meu. Que um dia o Senhor abriria a janela da arca e me mandaria voar para muito longe, para praias infiéis, levando comigo o raminho de oliveira. Madre, esse pensamento fez crescer minha alma, fez-me planar acima de todo o criado. Compreendi que até no Carmelo poderia haver separações, que só no Céu a união seria completa e eterna. Quis, então, que minha alma morasse nos Céus, que só olhasse de longe as coisas da terra. Não só aceitei exilar-me no meio de um povo desconhecido, mas, o que me era muito mais amargo, aceitei o exílio para minhas irmãs. Nunca me esquecerei de 2 de agosto de 1896. Naquele dia, o da partida dos missionários, falou-se seriamente da [partida] de Madre Inês de Jesus. Ah! não queria fazer um só gesto para impedi-Ia de partir; embora sentisse uma grande tristeza em meu coração, achava que sua alma tão sensível, tão delicada, não era feita para viver no meio de almas que não saberiam compreendê-la. Mil outros pensamentos acorriam numerosos ao meu espírito e Jesus permanecia calado, não dava ordens à tempestade... Eu lhe dizia: Meu Deus, por amor a vós, aceito tudo; se o quiserdes, posso morrer de tristeza. Jesus contentou-se com a aceitação, mas alguns meses depois falou-se da partida de Irmã Genoveva e de Irmã Maria da Trindade. Foi então outro tipo de sofrimento, muito íntimo, muito profundo. Imaginava todas as provações, todos os sofrimentos que elas teriam de encontrar. Enfim, meu céu estava carregado de nuvens... só o fundo do meu coração ficava no sossego e na paz.
Madre querida, vossa prudência soube descobrir a vontade de Deus e, em nome Dele, proibistes às vossas noviças de pensar agora em deixar o berço da infância religiosa. Mas compreendíeis as aspirações delas, sendo que vós mesma, Madre, havíeis pedido, na juventude, para ir para Saigon. É assim, muitas vezes, que o desejo das mães encontra eco na alma dos filhos. Ó Madre querida, vosso desejo apostólico encontra em minha alma um eco muito fiel, bem o sabeis. Deixai que vos confidencie o motivo de eu ter desejado e ainda desejar, caso a Santíssima Virgem me cure, trocar por uma terra estrangeira o delicioso oásis onde vivo tão feliz sob vosso olhar materno.
Madre, já me dissestes que para viver em Carmelos estrangeiros é preciso ter uma vocação toda especial. Muitas almas pensam ser chamadas sem o ser de fato. Dissestes-me também que eu tinha essa vocação e que só minha saúde era empecilho. Sei que esse obstáculo sumiria se Deus me chamasse para uma terra longínqua; portanto, vivo sem preocupações. Se eu precisar, um dia, deixar meu querido Carmelo, ah! não seria sem ferida, Jesus não me deu um coração insensível, mas é justamente por ser capaz de sofrer que desejo que ele dê a Jesus tudo o que pode dar. Aqui, Madre querida, vivo sem preocupação alguma com os cuidados da miserável terra. Só tenho de cumprir a suave e fácil missão que me confiastes. Aqui, estou suprida das vossas atenções maternas, não sinto a pobreza, nunca me faltou coisa alguma. Mas aqui, sobretudo, sou amada, de vós e de todas as irmãs, e esse afeto me é muito agradável. Eis por que sonho com um mosteiro onde não seria conhecida, onde teria de sofrer pobreza, falta de afeto, enfim, no exílio do coração.
Ah! não foi para prestar serviços ao Carmelo que quisesse receber-me que eu deixaria tudo o que me é caro; sem dúvida, faria tudo o que dependesse de mim, mas conheço minha incapacidade e sei que fazendo o melhor que eu puder não chegaria a fazer muito e bem, por não ter, como dizia há pouco, conhecimento algum das coisas da terra. Minha única finalidade seria cumprir a vontade de Deus, sacrificar-me por Ele da maneira que lhe fosse agradável.
Sinto que eu não teria decepção nenhuma, pois, quando se espera um sofrimento puro e sem mistura, a menor alegria torna-se uma surpresa e, vós o sabeis Madre, o próprio sofrimento passa a ser a maior das alegrias quando é buscado como o mais precioso dos tesouros.
Oh, não! não é para usufruir dos meus trabalhos que quero partir, se tal fosse minha finalidade, não sentiria essa doce paz que me inunda e até sofreria por não poder realizar a minha vocação para as missões longínquas. Há muito não me pertenço, entreguei-me totalmente a Jesus. Portanto, Ele é livre para fazer de mim o que quiser. Deu-me a atração por um exílio completo, fez-me compreender todos os sofrimentos que eu encontraria, perguntou-me se estava pronta a esgotar o cálice da amargura. Quis tomar logo essa taça mas, puxando-a da minha mão, fez-me entender que a aceitação lhe era suficiente.
Ó Madre, de quantas dúvidas nos livramos pelo voto da obediência! Como as simples religiosas são felizes, tendo por única bússola a vontade das suas superioras, estão sempre seguras de estar no caminho certo, não receiam errar mesmo quando lhes parece óbvio que as superioras se enganam. Quando, porém, alguém pára de olhar para a bússola infalível, quando se afasta do caminho que ela aponta, sob pretexto de fazer a vontade de Deus que não está esclarecendo direito quem o representa, logo a alma se perde nos caminhos áridos onde a água da graça passa logo a fazer falta.
Madre querida, sois a bússola que Jesus me deu para levar-me seguramente ao porto eterno. Como me é agradável fixar em vós o meu olhar e cumprir a vontade do Senhor. Depois que Ele permitiu que eu sofresse tentações contra a fé, aumentou muito, em meu coração, o espírito de fé que me faz ver em vós, não apenas uma mãe que me ama e que amo, mas, sobretudo, que me faz ver em vossa alma o Jesus vivo que me comunica a sua vontade por vosso intermédio. Sei muito bem, Madre, que me tratais como alma fraca, menina mimada; por isso, não tenho dificuldade em carregar o fardo da obediência. Mas parece-me, pelo que sinto no fundo do meu coração, que eu não alteraria minha conduta e que meu amor por vós não sofreria diminuição alguma se preferísseis tratar-me severamente; pois ainda veria que se trata da vontade de Jesus que ajais assim para o maior bem da minha alma.
Este ano, Madre querida, Deus deu-me a graça de compreender o que é a caridade. Compreendia antes, mas de maneira imperfeita, não tinha aprofundado esta palavra de Jesus: "O segundo [mandamento] é semelhante a este: "Ama o teu próximo como a ti mesmo". Dedicava-me, sobretudo, a amar a Deus e foi amando-o que compreendi que não devia deixar que meu amor se traduzisse apenas em palavras, pois: "Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus". Essa vontade, Jesus a deu a conhecer muitas vezes, deveria dizer quase a cada página do seu Evangelho; mas na última ceia, quando sabe que o coração dos seus discípulos arde de maior amor por Ele que acaba de dar-se a eles no inefável mistério da sua Eucaristia, esse doce Salvador quer dar-lhes um novo mandamento. Diz-lhes com indizível ternura: "Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros; que, assim como eu vos amei, vós também vos ameis uns aos outros. E nisto precisamente todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros".
De que maneira Jesus amou seus discípulos e por que os amou? Ah! não eram suas qualidades naturais que podiam atraí-lo, havia entre eles e Ele uma distância infinita. Ele era a ciência, a Sabedoria Eterna; eles eram pobres pescadores ignorantes e cheios de pensamentos terrenos. Contudo, Jesus os chama de amigos, de irmãos, quer vê-los reinar com Ele no reino do seu Pai e, para abrir-lhes esse reino, quer morrer numa cruz, pois disse: Não há amor maior que dar a vida por quem se ama.
Madre querida, ao meditar essas palavras de Jesus, compreendi como era imperfeito o meu amor para com minhas irmãs, pois não as amava como Deus as ama. Ah! compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, não se surpreender com suas fraquezas, edificar-se com os menores atos de virtude que os vemos praticar. Compreendi, sobretudo, que a caridade não deve ficar presa no fundo do coração. Ninguém, disse Jesus, acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, e assim alumia a quantos estão em casa. Parece-me que essa candeia representa a caridade que deve alumiar, alegrar, não só os que me são mais caros, mas todos os que estão em casa, sem excetuar ninguém.
Quando o Senhor ordenou a seu povo que amasse o próximo, como a si mesmo, não tinha vindo ainda à terra. Mas, sabendo até que grau se ama a si mesmo, não podia pedir às suas criaturas amor maior para com o próximo. Quando Jesus deu a seus discípulos um mandamento novo, o Seu mandamento, como diz adiante, não é mais amar o próximo como a si mesmo que ele ordena, mas amá-lo como Ele, Jesus o amou, como o amará até o final dos séculos...
Ah, Senhor! sei que não ordenais nada impossível, conheceis minha fraqueza e minha imperfeição melhor do que eu mesma; bem sabeis que nunca poderei amar as minhas irmãs como vós as amastes, se vós mesmo, ó meu Jesus, não as amásseis em mim. É porque queríeis me conceder essa graça que fizestes um mandamento novo. Oh! como o amo, sendo que me dás a certeza de que vossa vontade é amar em mim todos aqueles que me ordenastes amar!...
Sinto que quando sou caridosa é só Jesus que age em mim; mais unida fico a Ele, mais amo todas as minhas irmãs. Quando quero aumentar em mim esse amor, quando o demônio, sobretudo, procura colocar perante os olhos da alma os defeitos de tal ou qual irmã que me é menos simpática, apresso-me em procurar ver suas virtudes, seus bons desejos. Penso que, se a vi cair uma vez, bem pode ter conseguido muitas vitórias que ela esconde por humildade, e que mesmo aquilo que para mim parece ser uma falta pode ser, devido à intenção, um ato de virtude. Não tenho dificuldade em acreditar, pois já fiz uma pequena experiência que me provou que não se deve julgar. Foi durante um recreio, a porteira deu dois toques, era preciso abrir a grande porta dos serviçais a fim de introduzir árvores destinadas ao presépio. O recreio não estava alegre, pois não estáveis aí, Madre querida, e, por isso, pensei que me seria agradável ser mandada para servir de terceira. Nesse momento, madre vice-priora disse-me que fosse, ou a irmã que estava a meu lado. Logo comecei a desatar o nosso avental, mas bem devagar, a fim de que minha companheira pudesse desatá-lo antes de mim, pois pensei agradar-lhe deixando-a ser terceira. A irmã que substituía a depositária observava-nos rindo e, vendo que me levantei por último, disse-me: Ah! bem que imaginei que não seria vós quem acrescentaríeis uma pérola à coroa, andáveis devagar demais...
Certamente, a comunidade toda pensou que eu tinha agido segundo a natureza. Não sei dizer como uma tão pequena coisa fez bem à minha alma e me tornou indulgente em relação às fraquezas dos outros. Isso me impede também de sentir vaidade quando sou julgada favoravelmente, pois digo a mim mesma: se meus pequenos atos de virtude são vistos como imperfeições, pode também haver engano e considerar-se como ato de virtude o que não passa de imperfeição. Então, digo com são Paulo: Bem pouco me importo em ser julgado por vós ou por um tribunal de homens, nem julgo a mim mesma; quem me julga é o Senhor. Assim, a fim de fazer com que esse julgamento me seja favorável, ou melhor, a fim de não ser julgada de forma alguma, quero ter sempre pensamentos caridosos, pois Jesus disse: Não julgueis e não sereis julgados.
Ao ler o que acabo de escrever, poderíeis, Madre, crer que a prática da caridade não me é difícil. É verdade que, desde alguns meses, não tenho mais de combater para praticar essa bela virtude. Não quero dizer com isso que nunca me acontece cair em faltas. Ah! sou imperfeita demais para evitar isso, mas não tenho muita dificuldade em me levantar quando caio, pois num certo combate alcancei a vitória e, por isso, a milícia celeste vem agora em meu socorro, não podendo aceitar ver-me vencida depois de ter sido vitoriosa na guerra gloriosa que vou procurar descrever.
Encontra-se na comunidade uma irmã que tem o dom de desagradar-me em tudo, suas maneiras, suas palavras, seu caráter eram-me muito desagradáveis, porém é uma santa religiosa que deve ser muito agradável a Deus. Não querendo entregar-me à antipatia natural que sentia, disse a mim mesma que a caridade não deveria assentar-se nos sentimentos, mas nas obras. Então, apliquei-me em fazer por essa irmã o que teria feito pela pessoa que mais amo. Cada vez que a encontrava, rezava por ela, oferecendo a Deus todas as suas virtudes e méritos. Sentia que isso agradava a Jesus, pois não há artista que não goste de receber elogios pelas suas obras, e Jesus, o artista das almas, fica feliz quando, em vez de olhar apenas o exterior, entramos no santuário íntimo que ele escolheu para morada e admiramos sua beleza. Não me restringia a rezar muito pela irmã que me levava a tantos combates, procurava prestar-lhe todos os serviços possíveis. Quando estava tentada a responder-lhe de modo desagradável, contentava-me em lhe dar meu mais agradável sorriso e procurava desviar a conversa, pois diz-se na Imitação que é melhor deixar cada um no seu sentimento que se entregar à contestação.
Muitas vezes também quando não estava no recreio (quero dizer, durante as horas de trabalho), tendo algum relacionamento de serviço com essa irmã, quando os combates se faziam violentos demais, fugia como desertora. Como ela ignorava completamente o que eu sentia por ela, nunca suspeitou os motivos do meu comportamento e está persuadida de que o caráter dela me é agradável. Um dia, no recreio, disse-me, aproximadamente, as seguintes palavras com ar contentíssimo: "Aceitaríeis dizer-me, Irmã Teresa do Menino Jesus, o que tanto vos atrai em mim, pois cada vez que me olhais vejo-vos sorrir?" Ah! o que me atraía era Jesus oculto no fundo da alma dela... Jesus que torna suave o que é amargo... Respondi que sorria por estar contente em vê-Ia (obviamente não acrescentei que era do ponto de vista espiritual).
Madre querida, contei-vos meu último meio para não ser vencida nos combates: a deserção. Esse meio, empreguei-o durante meu noviciado e sempre deu ótimos resultados. Quero, Madre, citar um exemplo que, creio, vos levará a sorrir. Durante um dos vossos ataques de bronquite, fui uma manhã, de mansinho, entregar-vos as chaves da grade de comunhão, pois eu era sacristã. No fundo, não me desagradava ter essa ocasião de vos ver, estava até muito contente, mas evitava deixar transparecê-lo. Uma irmã, animada por um santo zelo e que, todavia, gostava muito de mim, vendo-me entrar em vossos aposentos, pensou que eu ia vos acordar. Quis tomar de mim as chaves, mas eu era bastante esperta para não entregá-las a ela e ceder-lhe meus direitos. Disse-lhe, com as melhores maneiras, que eu cuidava tanto quanto ela de não vos acordar, mas que cabia a mim entregar as chaves... Agora compreendo que teria sido mais perfeito ceder diante dessa irmã, jovem, é verdade, mas mais antiga que eu. Naquele tempo, não o compreendia. Querendo de todo jeito entrar atrás dela, que empurrava a porta para me impedir de passar, provocamos o que não queríamos: o barulho vos acordou... Então, Madre, tudo recaiu sobre mim. A pobre irmã a quem resisti iniciou um discurso parecido com este: Foi Irmã Teresa do Menino Jesus quem fez barulho... como ela é desagradável... etc. Eu, por acreditar no contrário, fiquei com vontade de defender-me; felizmente, veio-me uma idéia brilhante. Pensei que se eu começasse a justificar-me não conseguiria, certamente, manter a paz da alma; sentia também que não tinha virtude suficiente para me deixar acusar sem reagir. Minha última tábua de salvação foi a fuga. Dito e feito. Saí em surdina, deixando a irmã continuar seu discurso, que parecia com as imprecações de Camilo contra Roma. Meu coração batia com tanta força que não pude ir longe e sentei-me num degrau da escada para saborear em paz os frutos da minha vitória. Não havia bravura nisso, não é verdade, querida Madre? Acredito, porém, que mais vale não se expor à luta quando a derrota é certa. Ai! quando recordo o tempo do meu noviciado, como percebo o quanto eu era imperfeita... Atormentava-me com tão pouca coisa que hoje rio disso. Ah! como o Senhor é bom por ter feito crescer a minha alma, por ter-lhe dado asas... Todas as redes dos caçadores não poderiam me atemorizar pois "em vão se lança a rede diante dos olhos dos que têm asas". Futuramente, sem dúvida, o tempo atual parecer-me-á ainda cheio de imperfeição, mas agora não me espanto com nada, não fico triste por constatar que sou a própria fraqueza, pelo contrário, é nela que me glorifico e espero cada dia descobrir em mim novas imperfeições. Lembrando-me de que a Caridade estende um véu sobre uma multidão de pecados, abasteço-me nessa mina fecunda que Jesus abriu diante de mim. No Evangelho, o Senhor explica em que consiste seu mandamento novo. Diz, em são Mateus: "Ouvistes o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo'. Eu, porém, digo-vos: 'Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem'. No Carmelo, sem dúvida, não encontramos inimigos, mas há simpatias, sentimos atração por tal irmã enquanto tal outra nos levaria a dar uma longa volta a fim de não encontrar com ela. Sem que se perceba, ela passa a ser objeto de perseguição. Mas Jesus me diz que essa irmã deve ser amada, que se deve rezar por ela, mesmo que seu comportamento me leve a crer que ela não me ama"'. "Se amardes os que vos amam, que merecimento vos é devido? Pois os próprios pecadores amam os que os amam". Não basta amar, é preciso dar provas desse amor. Temos naturalmente prazer em dar presente a um amigo, gosta-se, especialmente, de causar surpresa; mas isso não é caridade pois os pecadores também agem assim. Eis o que Jesus me ensina ainda: "Dá a todo aquele que te pede, e ao que leva o que é teu não lho reclames". Dar a todas aquelas que vos pedem é menos agradável do que oferecer segundo a inclinação do coração; se bem que, quando se pede com gentileza, não custa dar. Porém, se por acaso não se usam palavras delicadas, a alma revolta-se logo caso não seja firmada na caridade. Encontra mil motivos para recusar o que lhe é pedido e só depois de ter convencido a solicitante da sua indelicadeza lhe dá, finalmente e por favor, o que ela deseja, ou lhe presta um leve serviço que teria exigido vinte vezes menos tempo do que foi preciso para exigir direitos imaginários. Se é tão difícil dar a quem quer que peça, é ainda mais difícil deixar levar se pedir de volta. ó Madre, digo que é difícil, deveria dizer que aquilo parece difícil, pois o jugo do Senhor é suave e leve quando aceito, sente-se logo sua doçura e exclama-se com o salmista: "Corri pelo caminho dos vossos mandamentos desde que me dilatastes o coração". Só a caridade pode dilatar o meu coração, ó Jesus. Desde que essa doce chama o consome, corro alegre na via do vosso mandamento novo... Quero correr nela até o dia bem-aventurado em que, unindo-me ao séquito virginal, poderei seguir-vos pelos espaços infinitos, cantando vosso cântico novo que deve ser o do Amor.
Dizia: Jesus não quer que eu reclame o que me pertence; isso deveria parecer-me fácil e natural pois nada me pertence. Renunciei aos bens da terra pelo voto de pobreza, portanto não tenho o direito de queixar-me quando me tiram uma coisa que não me pertence; pelo contrário, devo alegrar-me quando me acontece sentir a pobreza. Houve um tempo em que eu tinha a impressão de não estar apegada a nada, mas depois que entendi as palavras de Jesus vejo que sou muito imperfeita em certas ocasiões. Por exemplo, no serviço da pintura, nada é meu; mas se ao iniciar o trabalho vejo que pincéis e tintas estão fora do lugar, que uma régua ou um canivete sumiram, a paciência ameaça abandona-me e preciso apelar para muita coragem para não reclamar contrariada os objetos que me faltam. É preciso, às vezes, pedir as coisas indispensáveis, mas ao fazê-lo humildemente não pecamos contra o mandamento de Jesus; pelo contrário, agimos como os pobres"-' que estendem a mão para receber o que lhes é necessário. Se são repelidos, não se espantam, ninguém lhes deve coisa alguma. Ah! como a paz inunda a alma quando ela se eleva acima dos sentimentos da natureza... Não há alegria comparável à do pobre de espírito. Se pede corri desapego uma coisa que lhe é necessária e que não apenas lhe é recusada, mas se toma até aquilo que ele possui, segue o conselho de Jesus: "E a quem quiser citar-te em juízo para te tirar a túnica, deixa-lhe também o manto..." Deixar o manto, parece-me, é renunciar aos últimos direitos, é considerar-se como a serva, a escrava das outras. Quando se abandonou o manto, é mais fácil andar, correr, por isso Jesus acrescenta: "E, se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas". Portanto, não é suficiente dar a quem me pede, é preciso antecipar-se a seus desejos, parecer muito grata e muito honrada em prestar serviço, e quando se toma alguma coisa de meu uso não devo parecer sentir falta dela mas, pelo contrário, parecer feliz por ficar livre dela.
Madre querida, estou longe de praticar o que entendo, mas o desejo que tenho de praticar é suficiente para me dar a paz.
Ainda mais do que nos outros dias, sinto que me expressei mal. Fiz uma espécie de discurso sobre a caridade cuja leitura deve ter-vos cansado. Perdoai-me, Madre querida, e pensai que, neste momento, as enfermeiras estão fazendo para mim o que acabo de escrever. Não se incomodam em dar vinte mil passos onde vinte seriam suficientes. Pude, portanto, contemplar a caridade em ação! Sem dúvida, aquilo deve ter perfumado a minha alma, quanto à minha mente, confesso que ficou um pouco paralisada perante tal dedicação e minha pena perdeu a leveza. Para poder expressar meus pensamentos, preciso estar como o pássaro solitário no telhado, e isso me acontece raramente. Quando pego a pena para escrever, eis que uma boa irmã passa perto de mim, com o forcado no ombro. Pensa distrair-me conversando um pouco comigo. Feno, patos, galinhas, visita do médico, tudo é assunto de conversa. Na verdade, isso não se alonga, mas há mais de unia irmã caridosa e, de repente, outra jardineira coloca flores no meu colo, pensando, talvez, inspirar-me idéias poéticas. Como não as procuro neste momento, preferia que as flores ficassem a se balançar nos galhos. Enfim, cansada de abrir e fechar este famoso caderno, abro um livro que não quer ficar aberto e digo firmemente que copio pensamentos dos salmos e do Evangelho para a festa da nossa Madre. Não deixa de ser parcialmente verdade, pois não economizo as citações... Madre querida, creio que eu vos divertiria se vos contasse todas as minhas aventuras nos bosques do Carmelo. Não sei se consegui escrever dez linhas sem ter sido interrompida. Isso não deveria levar-me a rir, nem a me divertir, porém, pelo amor de Deus e das minhas irmãs (tão caridosas para comigo), procuro assumir um ar de contentamento e, sobretudo, ficar contente...
Olhe! eis uma jardineira que se afasta depois de me ter dito num tom compassivo: "Pobre irmãzinha, deveis cansar escrevendo assim o dia todo". "Fiqueis tranqüila", respondi, "parece que escrevo muito, mas na verdade escrevo quase nada." "Ainda bem", disse-me com ar tranqüilizado, "mas estou muito contente por estarmos recolhendo o feno, isso vos distrai um pouco." De fato, é uma distração tão grande para mim (sem contar as visitas das enfermeiras), que não minto quando digo escrever quase nada.
Felizmente, não desanimo com facilidade. Para comprová-lo, Madre, vou acabar de explicar o que Jesus me fez entender a respeito da caridade. Até agora, só vos falei do exterior, mas gostaria de vos relatar como entendo a caridade puramente espiritual. Tenho certeza de que logo vou misturar as duas, mas, Madre, sendo a vós que falo, estou certa de que não vos será difícil captar meu pensamento e desembaraçar a meada da vossa filha.
Nem sempre é possível, no Carmelo, praticar ao pé da letra as palavras do Evangelho. Devido ao ofício de cada uma, alguém se vê obrigada, às vezes, a recusar uma prestação de serviço. Mas quando a caridade deitou raízes profundas na alma ela se manifesta no exterior. Existe um modo tão gracioso de recusar o que não se pode dar que a recusa agrada tanto quanto a dádiva. É verdade que nos constrangemos menos em pedir um serviço a uma irmã sempre disposta a agradar, mas Jesus disse: "Não voltes as costas a quem te pede emprestado". Assim, com o pretexto de que seríamos obrigadas a recusar, não devemos nos afastar das irmãs que têm o hábito de pedir serviços. Não se deve, tampouco, ser oferecido enquanto interesse, na esperança de uma retribuição futura, pois Nosso Senhor disse: "E, se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que merecimento vos é devido? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem o equivalente. Mas vós, amai os vossos inimigos e fazei-lhes bem, e emprestai sem nada esperar em troca e vossa recompensa será grande". Oh, sim! a recompensa é grande desde a terra... nessa via, só o primeiro passo custa. Emprestai sem nada esperar, isso parece duro para a natureza, prefere-se dar, pois uma vez dada a coisa não nos pertence mais. Quando vos dizem, com ar totalmente convencido: "Irmã, preciso da vossa ajuda por algumas horas, mas fiqueis tranqüila pois tenho a autorização da nossa Madre e vos retribuirei o tempo que me derdes, pois sei o quanto estais atarefada". Na verdade, quando se sabe muito bem que o tempo que emprestamos não será restituído, preferiríamos responder: "Dou-vos esse tempo". Isso satisfaria ao amor-próprio, pois dar é ato mais generoso que emprestar e fazemos sentir à irmã que não esperamos retribuição... Ah! como os ensinamentos de Jesus são contrários aos sentimentos da natureza. Sem a ajuda da sua graça, seria impossível não apenas praticá-los, mas compreendê-los.
Madre, Jesus concedeu à vossa filha a graça de fazê-la penetrar as misteriosas profundezas da caridade; se ela pudesse expressar o que entende, ouviríeis uma melodia do Céu, , mas ai! só tenho balbucios a vos oferecer... Se as próprias palavras de Jesus não me servissem de apoio, ficaria tentada a vos pedir clemência e abandonar a pena... Mas preciso prosseguir, por obediência, o que comecei por obediência.
Madre querida, ontem, a respeito dos bens da terra, escrevia que, por não serem meus, não deveria achar difícil nunca reclamar por eles caso me fossem tirados. Os bens do Céu tampouco me pertencem, são emprestados por Deus, que pode tirá-los de mim sem que eu tenha direito de queixa. Porém, os bens que vêm diretamente de Deus, os impulsos da inteligência e do coração, os pensamentos profundos, tudo isso forma uma riqueza à qual nos apegamos como se fosse um bem próprio no qual ninguém tem o direito de tocar... Por exemplo, se comunicamos a uma irmã alguma idéia que nos veio durante a oração e, pouco depois, essa mesma irmã fala a uma outra como se aquela idéia fosse dela, parece que toma o que não é seu. Ou, no recreio, diz-se baixinho a uma companheira uma palavra espirituosa e bem apropriada; se ela a repete em voz alta sem indicar a origem, isso parece um furto à proprietária, que não reclama, mas fica com muita vontade de fazê-lo e aproveitará a primeira ocasião para fazer saber, delicadamente, que alguém se apossou das suas palavras.
Madre, eu não poderia explicar-vos tão bem esses tristes sentimentos da natureza, se os não tivesse sentido em meu coração, e gostaria de acalentar a doce ilusão de que só aconteceram comigo se não me tivésseis ordenado ouvir as tentações das vossas queridas novicinhas. Sempre aprendi cumprindo a missão que me confiastes, sobretudo vi-me forçada a praticar o que eu ensinava. Por isso, agora, posso dizer que Jesus me deu a graça de não ser mais apegada aos bens do espírito e do coração que aos da terra. Quando me acontece pensar e_dizer uma coisa que agrada às minhas irmãs, acho natural que se apropriem dela como sendo um bem que lhes pertence. Esse pensamento pertence ao Espírito Santo, não a mim, pois são Paulo disse que, sem esse Espírito de Amor, não podemos chamar de "Pai", a nosso Pai que está nos Céus. Portanto, Ele é livre para servir-se de mim para dar um bom pensamento a uma alma. Se eu julgasse que esse pensamento me pertence, seria como "o burro que transportava relíquias" e acreditava que as homenagens prestadas aos santos dirigiam-se a ele.
Não desprezo os pensamentos profundos que alimentam a alma e a unem a Deus, mas compreendi há muito tempo que não devemos nos apoiar neles nem achar que a perfeição consiste em receber muitas luzes. Os mais belos pensamentos nada são sem as obras. É verdade que outras pessoas podem tirar deles muito proveito se, com humildade, manifestam a Deus sua gratidão por lhes permitir participar do banquete de uma alma que Ele gosta de enriquecer. Mas se essa alma se compraz em seus belos pensamentos, e faz a oração do fariseu, torna-se parecida com uma pessoa que morre de fome diante de uma mesa cheia enquanto todos os seus convidados se fartam e, às vezes, lançam um olhar de inveja sobre o dono de tantas riquezas. Ah! só Deus mesmo para conhecer o fundo dos corações... como as criaturas têm pensamentos pequenos!... Quando descobrem uma alma mais esclarecida que as outras, concluem logo que Jesus as ama menos que a essa alma e que não podem ser chamadas para a mesma perfeição. Desde quando o Senhor perdeu o direito de servir-se de uma das suas criaturas para distribuir às almas que ama o alimento necessário a elas? No tempo dos faraós, o Senhor ainda possuía esse direito, pois na sagrada escritura Ele diz a esse monarca: "Conservei-te com vida para mostrar-te o meu poder e para que meu nome seja celebrado em toda a terra". Os séculos sucederam aos séculos desde que o Altíssimo pronunciou essas palavras e, desde então, seu comportamento não mudou, serviu-se sempre das suas criaturas como instrumentos para realizar sua obra nas almas.
Se a tela pintada por um artista pudesse pensar e falar, certamente não se queixaria por ser retocada sempre por um pincel e não teria inveja da sorte desse instrumento, pois saberia que não é ao pincel, mas ao pintor que o dirige, que ela deve a beleza que a cobre. Por seu lado, o pincel não poderia glorificar-se com a obra-prima feita por ele, sabe que os artistas não se apertam, que zombam das dificuldades, que gostam, às vezes, de usar instrumentos vis e defeituosos...
Madre querida, sou um pincelzinho que Jesus escolheu para pintar sua imagem nas almas que me confiastes. Um artista não se restringe a um pincel, precisa, pelo menos, de dois. O primeiro é o mais útil, é com ele que imprime as tonalidades mais gerais, que cobre completamente a tela em muito pouco tempo; o outro, o menor, serve para os detalhes.
A primeira vez que Jesus se serviu do seu pincelzinho foi por volta de 8 de dezembro de 1892. Lembrar-me-ei sempre dessa época como de um tempo de graças. Vou, querida Madre, confiar-vos essas doces recordações.
Aos 15 anos, quando tive a felicidade de ingressar no Carmelo, encontrei uma companheira de noviciado que me tinha precedido alguns meses. Era oito anos mais velha que eu, mas seu caráter infantil fazia esquecer a diferença dos anos; por isso, tivestes, Madre, a alegria de ver vossas duas pequenas postulantes entenderem-se maravilhosamente e tornarem-se inseparáveis. A fim de favorecer essa afeição nascente, que vos parecia promissora de bons frutos, permitistes que tivéssemos, de tempos em tempos, breves conversas espirituais. Minha querida companheirinha encantava-me com sua inocência, seu caráter expansivo, mas eu estranhava ao constatar que o afeto que tinha por vós era diferente do meu. Havia muitas outras coisas em seu comportamento com as irmãs que eu desejava que ela mudasse... Desde aquele tempo, Deus fez-me compreender haver almas que sua misericórdia espera sem cansar, às quais dá sua luz aos poucos. Por isso, eu tinha o cuidado de não apressar sua hora e esperava pacientemente que Jesus a fizesse chegar.
Refletindo sobre a permissão concedida para nos entreter, de acordo com as nossas santas constituições, para nos inflamar mais no amor por nosso Esposo, pensei com pesar que nossas conversas não alcançavam a meta desejada. Deus fez-me sentir, então, que chegara o momento em que eu devia falar ou encerrar essas conversações que mais se pareciam com as das amigas do mundo. Era um sábado. No dia seguinte, durante minha ação de graças, pedi a Deus para que pusesse em minha boca palavras suaves e convincentes, ou melhor, que Ele mesmo falasse por meu intermédio. Jesus atendeu ao meu pedido e permitiu que o resultado correspondesse inteiramente à minha expectativa, pois: "olhai para ele e sereis esclarecidos" e "brilha para os retos, qual farol nas trevas, o Benigno, o Misericordioso e o Justo". A primeira citação dirige-se a mim e a segunda à minha companheira que, na verdade, tinha o coração reto...
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HISTÓRIA DE UMA ALMA (Santa Teresinha do Menino Jesus) COMPLETO
SpiritualALENÇON (1873 - 1877) J.M.J.T. Jesus Janeiro de 1895 História primaveril de uma Florzinha branca escrita por ela mesma e dedicada à Reverenda Madre Inês de Jesus.