Manuscrito "A" - Parte III

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  Depressa se passaram os três meses de preparação. Tive logo de entrar em retiro, e de ficar interna para esse fim, pernoitando na Abadia. Não consigo externar em palavras a suave recordação que o retiro me deixou. Francamente, se sofri muito como interna, fui amplamente recompensada pela felicidade inefável desses poucos dias passados à espera de Jesus... Não creio que se possa fruir tal alegria noutro lugar senão em comunidades de religiosas. Sendo restrito o número de crianças, fácil se tornava dar atenção a cada uma delas em particular, e na ocasião tiveram, realmente, nossas mestras maternais cuidados para conosco. De mim se ocupavam mais que de outras. Todas as noites, vinha a mestra diretora, com a lanterninha, abraçar-me na cama, dando-me sinais de grande afeição. Comovida com sua bondade, disse-lhe uma noite que lhe confiaria um segredo. Depois de tirar, com ar misterioso, meu precioso livrinho que estava debaixo do travesseiro, mostrei-lho com olhos radiantes de alegria... De manhã, achava muito bonito ver como as alunas se levantavam da cama, ao toque da campainha, e queria fazer como elas, mas não estava habituada a aprontar-me sozinha. Não estava ali Maria para me arrumar o cabelo. Por isso, tive de apresentar, timidamente, meu pente à supervisora do vestiário, a qual se riu ao ver uma menina crescida, de 11 anos, que não sabia cuidar de si mesma. No entanto, ela penteava-me, não de modo tão delicado, como Maria, mas nem por isso me atrevia a gritar, segundo meu costume de todos os dias, quando me submetia à leve mão da madrinha... No retiro, averiguei que era uma criança cercada de mimos e atenções, como poucas o serão na terra, antes de tudo entre crianças órfãs de mãe... Diariamente, vinham Maria e Leônia visitar-me, em companhia de Papai que me cumulava de agradinhos de sorte que não sofri com a privação de estar longe da família, e nada ofuscou o lindo Céu azul do meu retiro.

Escutava com muita atenção as instruções que o Sr. Padre Domin nos dava, e delas fiz até um resumo. Quanto aos meus próprios pensamentos, não quis anotar nenhum, alegando que os conservaria bem de memória, o que foi verdade ... Para mim era grande satisfação acompanhar as religiosas a todos os ofícios. No meio de minhas companheiras, atraía a atenção por causa de um grande Crucifixo que Leônia me tinha dado, e que eu metia na cintura à guisa dos missionários. O Crucifixo despertava a inveja das religiosas. Cuidavam que, andando com ele, queria imitar minha irmã carmelita... Oh! realmente era para ela que se dirigiam meus pensamentos. Sabia que minha Paulina estava em retiro como eu, não para que Jesus se desse a ela, mas para ela se dar a Jesus. Por conseguinte, a solidão que passei em expectativa, era-me duplamente querida...

Tenho recordação de que uma manhã me passaram para a enfermaria, porque estava tossindo muito (desde minha doença, as mestras tinham grande cuidado comigo; por ligeira dor de cabeça, ou quando me vissem mais pálida do que de costume, mandavam-me respirar ao ar livre ou repousar na enfermaria). Vi entrar minha querida Celina que, não obstante o retiro, obtivera permissão de visitar-me, para me oferecer um santinho que me causou grande prazer. Era a "Florzinha do Divino Prisioneiro". Oh! como me foi grato receber tal lembrança das mãos de Celina!... Quantos pensamentos de amor não tive por causa dela!...

Na véspera do grande dia, recebi a absolvição sacramental pela segunda vez. A confissão geral deixou-me grande paz na alma, e o Bom Deus não permitiu que a mais leve dúvida a perturbasse. No correr da tarde, pedi perdão a todos da família que vieram visitar-me, mas não conseguia falar senão através de minhas lágrimas. Estava por demais comovida... Paulina não estava presente, mas pelo coração senti que se mantinha junto a mim. Enviara-me por Maria uma bela estampa, que não me cansava de admirar e fazer admirar por toda a gente! ... Escrevera ao bom Padre Pichon para me recomendar às suas orações, dissera-lhe também que logo me tornaria carmelita, e então seria ele meu diretor. (Com efeito, foi o que aconteceu quatro anos mais tarde, pois no Carmelo lhe abri minha alma...). Maria entregou-me uma carta dele. Na verdade, senti-me sobremaneira feliz!... Chegavam-me, simultaneamente, todas as felicidades. O que mais me regozijou na carta dele, foi esta frase: "Amanhã, subirei ao Sagrado Altar, e a intenção será por vós e por vossa Paulina!" No dia 8 de maio, Paulina e Teresa se uniram cada vez mais, pois Jesus parecia tomá-las juntas, quando as inundou de suas graças ...

Raiou, enfim, o "mais belo de todos os dias". Quão inefáveis não são as recordações que na alma me deixaram as mínimas circunstâncias dessa data do Céu! ... A alegre alvorada, os respeitosos e afetuosos ósculos das mestras e das colegas maiores ... O salão nobre, repleto de flocos de neve, com os quais cada criança se via adornada por sua vez... Acima de tudo, a entrada na Capela e a entoação matinal do lindo cântico: "Ó Santo Altar, que de Anjos sois rodeado!"

Não quero, contudo, descer a pormenores. Há coisas que perdem a fragrância, quando expostas ao ar. Existem pensamentos da alma que se não podem traduzir em linguagem terrena, sem perderem o sentido autêntico e celestial. São como a "pedrinha branca que se dará ao vencedor, sobre a qual está escrito um nome, que ninguém CONHECE, senão QUEM a recebe". Ah! como foi doce o primeiro beijo de Jesus à minha alma! ...

Foi um beijo de amor. Sentia-me amada, e de minha parte dizia: "Amo-vos, entrego-me a Vós para sempre". Não houve pedidos, nem lutas, nem sacrifícios. Desde muito, Jesus e a pobre Teresinha se tinham olhado e compreendido. Naquele dia, porém, já não era um olhar, era uma fusão. Já não eram dois, Teresa desvanecera, como a gota de água que se dilui no bojo do oceano. Ficava só Jesus, era Ele o Senhor, o Rei. Teresa pedira-lhe tirasse sua liberdade, pois sua liberdade lhe fazia medo., Sentia-se tão fraca, tão frágil, que desejava permanecer para sempre unida à Força Divina! ... Sua alegria era grande demais, era profunda demais, para que a pudesse represar. Não tardou em debulhar-se em deliciosas lágrimas, com grande espanto das colegas que, mais tarde, diziam entre si: "Por que será que chorou? Sentiria algo que a acabrunhasse?... Não será, antes, por não ver junto a si a própria mãe ou a irmã, que é carmelita, a quem tanto ama?" - Não compreendiam que, ao descer a um coração toda a alegria do Céu, não a pode suportar um coração banido, sem derramar lágrimas... Oh! não! A ausência de Mamãe não me contristava no dia de minha Primeira Comunhão. Não estava o Céu dentro de mim, e nele não tinha Mamãe desde muito tomado lugar? Desta forma, quando recebi a visita de Jesus, recebi também a de minha querida Mãe, que me abençoava e se regozijava com minha felicidade... Não chorava, outrossim, a ausência de Paulina. Sem dúvida alguma, ficaria contente, se a visse ao meu lado, mas desde muito meu sacrifício estava aceito. Nessa data, meu coração se encheu só de alegria. Uni-me a ela, que irrevogavelmente se dava Aquele que tão amorosamente se dava a mim! ...

Na parte da tarde, fui eu quem pronunciou o ato de consagração à Santíssima Virgem. Era muito justo que, em nome de minhas companheiras, falasse à minha Mãe do Céu, eu que tão cedo me privara de minha Mãe da terra... De todo o coração me pus a falar-lhe, a consagrar-me a ela, como filha que se lança aos braços da Mãe, e lhe pede olhe por ela. Parece-me que a Santíssima Virgem terá olhado para sua florzinha e ter-lhe-á sorrido, pois não foi ela quem a curara com visível sorriso?... Não foi ela que no cálice de sua florzinha depositara seu Jesus, a Flor dos Campos, o Lírio do Vale?...

À tarde do belo dia, estive novamente com minha família terrena. Pela manhã, já tinha abraçado Papai e todos os meus queridos parentes. Agora, porém, se estabelecia a verdadeira reunião, quando Papai tomou pela mão sua rainhazinha e se dirigiu ao Carmelo... Vi então minha Paulina, que se tornara esposa de Jesus. Divisei-a com seu véu, branco, como o meu, e com sua coroa de rosas... Oh! minha alegria não comportava amargura. Esperava estar em breve novamente com ela, e com ela esperar pelo Céu!

Não fiquei insensível à festa de família, que se realizou na tarde da minha primeira Comunhão. Grande prazer me causou o lindo relógio que o meu Rei me deu, mas minha alegria era tranqüila, e nada chegou a perturbar minha paz interior.

Maria levou-me consigo na noite imediata ao grande dia, pois os dias mais radiosos são seguidos de escuridões. Sem ocaso será só o dia da primeira e única, da eterna Comunhão do Céu...

O dia que se seguiu à minha primeira Comunhão foi ainda um dia bonito, mas repassado de melancolia. A roupa linda que Maria comprara para mim, todos os presentes recebidos, não me enchiam o coração. Não havia senão Jesus que pudesse contentar-me. Anelava pelo momento em que me fosse dado recebê-lo pela segunda vez. Cerca de um mês após minha primeira comunhão fui confessar-me para a festa da Ascensão, e animei-me a pedir licença de fazer a Santa Comunhão. Contra toda a expectativa, o senhor sacerdote mo permitiu, e coube-me a felicidade de ajoelhar à Sagrada Mesa entre Papai e a Maria. Que doce recordação não guardei da segunda visita de Jesus! Desta vez ainda, corriam minhas lágrimas com inefável doçura. Sem cessar repetia a mim mesma as palavras de São Paulo: "Já não sou eu que vivo, Jesus é quem vive em mim! ... " A partir dessa Comunhão, meu desejo de receber o Bom Deus tornou-se cada vez maior; obtive permissão de fazê-lo em todas as festas principais. Na véspera desses ditosos dias, Maria punha-me à noite sobre os joelhos e preparava-me, como o fizera para minha primeira Comunhão. Tenho lembrança de que me falou, certa vez, a respeito do sofrimento, dizendo-me que provavelmente não andaria por tal caminho, mas que o Bom Deus sempre me guiaria, como se faz com uma criança...

No dia seguinte, depois de ter comungado, as palavras de Maria voltaram-me ao pensamento. Senti nascer no coração grande desejo de sofrer e, ao mesmo tempo, a íntima segurança de que Jesus me reservava grande número de cruzes. Senti-me inundada de tão grandes consolações, que as considero como uma das maiores graças de minha vida. O sofrer tornou-se-me um atrativo. Tinha encantos que me arrebatavam, sem os conhecer com clareza. Até então, sofria sem amar o sofrimento; desde aquele dia senti por ele verdadeiro amor. Sentia também o desejo de amar só a Deus, de não encontrar alegria senão Nele. Muitas vezes, repetia em minhas comunhões as palavras da Imitação de Cristo: "Ó Jesus! doçura inefável, convertei-me em amargura todas as consolações da terra!..." Esta oração me saía dos lábios sem esforço, sem constrangimento. Vinha-me a impressão de que a repetia, não por minha vontade, mas como criança que repete as palavras que uma pessoa amiga lhe sugere... Mais adiante, minha querida Mãe, dir-vos-ei como aprouve a Jesus realizar meu desejo, como só Ele foi sempre minha inefável doçura. Se disso vos falasse desde já, seria obrigada a antecipar-me ao tempo de minha adolescência. Ainda me restam muitas particularidades de minha infância que vos devo contar.

Pouco tempo depois da minha primeira Comunhão entrei em novo retiro para a Crisma. Tinha-me preparado, com bastante empenho, para receber a visita do Espírito Santo. Não conseguia compreender que se não dê maior cuidado à recepção deste sacramento de Amor. De ordinário, fazia-se um só dia de retiro para a Crisma. Como, porém, o Senhor Bispo não podia vir no dia marcado, coube-me o consolo de ter dois dias de solidão. Para nos distrair, nossa mestra levou-nos ao Monte Cassino, onde colhi grandes margaridas para a festa do Corpo de Deus. Oh! como estava exultante a minha alma! Igual aos apóstolos, eu aguardava, venturosa, a visita do Espírito Santo ... Folgava com a idéia de que dentro em breve seria perfeita cristã, sobretudo que eternamente teria na fronte a misteriosa cruz que o bispo traça, quando faz a imposição do Sacramento ... Chegou afinal o ditoso momento. Não senti, quando desceu o Espírito Santo nenhum vento impetuoso, mas antes aquela leve brisa, cujo murmúrio o profeta Elias ouviu no monte Horeb... Nesse dia, recebi a força para sofrer, pois logo em seguida devia começar o martírio de minha alma ... Foi minha querida e gentil Leônia que me serviu de madrinha. Estava tão comovida que não pôde conter a efusão de lágrimas todo o tempo da cerimônia. Recebeu, comigo, a Santa Comunhão, pois nesse belo dia tive ainda a felicidade de unir-me a Jesus.

Terminadas as deliciosas e inolvidáveis festas, minha vida retornou ao ritmo ordinário, isto é, tive de retomar a vida colegial, que tanto me custava. Quando fiz minha Primeira Comunhão, apreciava a convivência com crianças de minha idade, todas cheias de boa vontade, tendo tomado, como eu, a resolução de praticar seriamente a virtude. Mas, era preciso pôr-me em contato com alunas bem diferentes, dissipadas, não desejosas de cumprir o regulamento, e isto me deixava muito desconsolada. Tinha um gênio folgaz, mas não sabia entregar-me aos brinquedos próprios de minha idade. No recreio, apoiava-me muitas vezes contra uma árvore e contemplava o andamento do jogo, enquanto me engolfava em sérias reflexões! Inventara um jogo que me agradava. Era o de enterrar as pobres avezinhas que encontrávamos mortas debaixo das árvores. Muitas alunas tiveram gosto em ajudar-me, de sorte que nosso cemitério se tornou muito bonito, plantado de árvores e flores, proporcionais ao tamanho de nossos pequenos emplumados.
Gostava, outrossim, de contar histórias. Inventava-as na medida que me acudiam à imaginação. Minhas colegas rodeavam-me com entusiasmo, e de vez em quando alunas maiores integravam-se ao grupo de ouvintes. Ia continuando a mesma história por vários dias, pois tinha prazer em torná-la cada vez mais interessante, na proporção que via as impressões despertadas, marcadas na fisionomia de minhas companheiras. Sem embargo, a mestra logo me proibiu continuar minha atividade oratória, pois queria ver-nos brincar e correr, e não discorrer...

Apanhava com facilidade o sentido das matérias que aprendia, mas tinha dificuldade em decorar os textos. Por isso, quanto ao catecismo, no ano que precedeu minha Primeira Comunhão, pedia quase todos os dias a permissão para decorá-lo no tempo dos recreios. Meus esforços coroaram-se de bom êxito, e sempre fui a primeira. Perdendo casualmente meu lugar, por causa de uma única palavra esquecida, minha dor manifestava-se por lágrimas amargas, que o Padre Domin não sabia como estancar... Estava muito satisfeito comigo (quando não chorava), e chamava-me sua doutorazinha, por causa de meu nome Teresa. Certa vez, a aluna que vinha depois de mim, não soube formular a argüição de catecismo para sua colega. Depois de passar, em vão, toda a roda das alunas, o Sr. Padre voltou-se novamente para mim, declarando que ia verificar se eu merecia o lugar de primeira da classe. Em minha profunda humildade, era só o que esperava. Levantei-me com segurança, respondi as argüições, sem cometer erro nenhum, com grande surpresa de todo o mundo... Feita minha Primeira Comunhão, continuei meu zelo pelo catecismo até a saída do colégio. Dava boa conta dos estudos. Era quase sempre a primeira. Meus maiores sucessos eram em História e redação, Todas minhas mestras me tinham como aluna muito inteligente. Outro tanto não acontecia em casa de Titio, onde passava por ignorantinha, boa e meiga, dotada de juízo reto, mas incapaz e desajeitada... Não me surpreende a opinião que Titio e Titia tinham e certamente ainda terão a meu respeito. Por ser muito tímida, quase não falava. Quando escrevia, meu rabisco e minha ortografia - nada mais natural - não eram de feição que encantassem... Verdade é que, em costurinhas, em bordados e noutras tarefas, me desempenhava bem, a gosto de minhas mestras. Mas, o modo desajeitado com que manejava meu trabalho de agulha justificava a opinião pouco lisonjeira que tinham de mim. Considero tudo isso como uma graça. Uma vez que o Bom Deus queria meu coração só para Si, já atendia minha oração, quando "trocava em amargura as consolações da terra". Para mim, isso se tornava tanto mais necessário, quanto mais não me conservaria insensível a louvores. Muitas vezes, gabavam diante de mim a inteligência das outras, e jamais a minha. Daí concluí que a não tinha, e resignei-me a carecer dela...

Meu coração, sensível e amoroso, facilmente ter-se-ia entregado, se tivesse encontrado um coração capaz de compreendê-lo... Tentei ligar-me a meninas de minha idade, principalmente a duas dentre elas. Tinha-lhes amor, e elas por sua vez me amavam tanto, quanto eram capazes de fazê-lo. Mas, que lástima! Como é mesquinho e volúvel o coração das criaturas!!! ... Não demorei em perceber que meu amor era incompreendido. Uma de minhas amigas precisou procurar a família, e voltou alguns meses depois. Durante sua ausência, pensava nela e guardava cuidadosamente um anelzinho que me dera. Quando tornei a ver minha companheira, grande foi minha alegria, mas não obtive, ainda mal, senão um olhar indiferente... Meu amor não fora compreendido. Percebi-o, e não mendiguei uma afeição que me era negada. O Bom Deus, porém, deu-me um coração tão leal que, amando com pureza, ama para sempre. Por isso, continuei a rezar pela minha companheira, e ainda lhe tenho afeição... Ao ver que Celina queria bem a uma de nossas mestras, quis imitá-la, mas não pude consegui-lo, pois não sabia conquistar as boas graças das criaturas. ó ditosa ignorância! Como me livrou de grandes males!... Quanto não agradeço a Jesus de me fazer encontrar só "amargura nas amizades da terra"! Com um coração como o meu, deixar-me-ia prender e cercear as asas. Como pode ria, então, "voar e repousar?" Como pode unir-se intimamente a Deus, um coração entregue à afeição das criaturas?... Tenho, o sentimento de que não é possível. Sem beber da taça envenenada do amor por demais ardente das criaturas, sinto em mim que me não é possível estar equivocada. Vi tantas almas que, seduzidas por essa luz falsa, esvoaçaram como míseras mariposas e queimaram as asas. Depois, volveram-se à verdadeira e meiga luz do amor. Esta lhes deu novas asas, mais brilhantes e mais ligeiras, a fim de poderem voar para junto de Jesus, Fogo Divino, "que arde sem se consumir". Oh! eu o sinto, Jesus conhecia-me como fraca demais para me expor à tentação. Quiçá, deixar-me-ia queimar toda inteira pela enganadora luz, se a visse fulgurar diante dos olhos ... Não aconteceu assim. Só encontrei amargura, onde almas mais robustas deparam com alegria, e desta se desfazem por fidelidade. Não tenho, portanto, nenhum mérito em me não ter entregue ao amor das criaturas, uma vez que só fui preservada pela grande misericórdia do Bom Deus! ... Reconheço que, sem Ele, poderia cair tão baixo como Santa Madalena. E com grande doçura ecoa em minha alma a profunda palavra de Nosso Senhor a Simão... Eu o sei, "menos AMA aquele, a quem menos se perdoa". Mas, não ignoro também que a mim Jesus perdoou mais do que a Santa Madalena, pois me perdoou por antecipação, porquanto me impediu que caísse. Oh! pudera explicar o que sinto! ... Dou aqui um exemplo que traduzirá um pouco meu modo de pensar. - Suponho que o filho de um entendido doutor depare no caminho com uma pedra, que o faz cair e fraturar um membro. De pronto lhe acorre o pai, ergue-o com amor, pensa-lhe as lesões, aplicando todos os recursos de sua arte. E o filho, completamente curado, logo lhe testemunha sua gratidão. Não resta dúvida, o filho tem todo o motivo de querer bem ao Pai! Farei, contudo, outra suposição ainda. Sabendo que, no caminho do filho, se encontra uma pedra, o pai apressa-se em tomar a dianteira, e remove-a, sem que ninguém o veja. O filho, por certo, objeto de seu previdente carinho, não TENDO CONHECIMENTO da desgraça, da qual o pai o livrara, não lhe mostrará gratidão, e ter-lhe-á menos amor do que se fora curado por ele... Entanto, se souber o perigo, do qual acaba de escapar, não o amará ainda mais? Ora, tal filha sou eu, objeto do amor previdente de um Pai, que enviou seu Verbo para resgatar não os justos, mas os pecadores ". Quer que eu o ame, porque me perdoou, não digo muito, mas TUDO. Não esperava que eu muito o amasse, como Santa Madalena, mas quis que SOUBESSE como me amou com um amor de inefável previdência, a fim de que agora o ame até a loucura!... Ouvi dizer que se não encontra alma pura mais amorosa do que uma alma arrependida. Oh! Quem me dera desmentir a afirmação!...

Percebo estar muito longe do meu assunto, motivo pelo qual me apresso em retomá-lo. O ano seguinte à minha Primeira Comunhão escoou-se quase todo sem provações interiores para minha alma. No retiro para a segunda Comunhão é que fui assaltada pela terrível doença de escrúpulos... É preciso passar por tal martírio, para o compreender. Ser-me-ia impossível dizer quanto não sofri em ano e meio... Todos os meus pensamentos e as minhas mais ações mais simples se tornavam para mim motivo de perturbação. Só tinha sossego, quando os contava à Maria, e isto me era muito penoso, por sentir a obrigação de lhe dizer todas as idéias extravagantes que me vinham à mente a respeito dela própria. Alijado meu fardo, desfrutava um instante de paz, mas a paz desvanecia-se como um relâmpago, e logo começava novamente meu martírio. De quanta paciência não precisava minha querida Maria, para me ouvir, sem dar mostras de nenhum aborrecimento!... Mal chegava eu da Abadia, punha-se ela a arrumar-me os cabelos para o dia seguinte (pois, querendo agradar ao Papai, a rainhazinha andava todos os dias com os cabelos em cachinhos, para grande admiração das colegas, mormente das professoras que não não viam crianças tão mimadas pelos pais). E durante a arrumação não parava de chorar, contando todos os meus escrúpulos. Como tivesse terminado os estudos, Celina voltou para casa no fim do ano, e a pobre Teresa, obrigada a ficar sozinha, não demorou a ficar doente, pois o único interesse que a mantinha interna consistia em estar com sua inseparável Celina, sem a qual "sua filhinha" já não poderia ali continuar... Deixei, pois, a Abadia na idade de 13 anos e continuei meus estudos, tomando várias aulas semanais em casa da Sra. Papinau". Era uma pessoa boníssima, muito culta, com uns ares de solteirona. Vivia com a mãe, e encantava ver-se o pequeno lar, que juntas constituíam a três (pois a gata fazia parte da família e eu tinha de suportar suas sonecas em cima dos meus cadernos e, inclusive, admirar seu porte). Tinha a vantagem de viver na intimidade da família. Como os Buissonnets ficavam muito longe para as pernas já um tanto envelhecidas de minha professora, pedira ela fosse tomar as aulas em sua casa. Ao chegar, encontrava ordinariamente a velha senhora Cochain. Fitava-me "com seus olhos grandes e límpidos", e depois chamava com voz descansada e sentenciosa: "Senhô rra Papineau... a Se nho rrita Teresa já chegou!". Sua filha respondia-lhe prontamente, com voz acriançada: "Já vou, Mamã". E logo começava a aula. Essas lições tinham a vantagem (além dos conhecimentos que adquiria) de fazer-me conhecer o mundo... Quem o diria?... Na sala, mobiliada à moda antiga, rodeada de livros e cadernos, presenciava muitas vezes visitas de todos os gêneros, de sacerdotes, senhoras, moças, etc. Na medida do possível, a conversa ficava por conta da Sra. Cochain, a fim de que a filha pudesse dar-me aula, mas, em tais dias, não aprendia grande coisa. Com o nariz metido no livro, ouvia tudo o que se falava, até o que para mim seria melhor não escutar. A vaidade insinua-se tão facilmente no coração! ... Dizia uma senhora que eu tinha cabelos bonitos... Na saída, uma outra, julgando não ser ouvida, indagava quem era essa menina tão bonita. E tais palavras, tanto mais lisonjeiras, quanto não eram ditas diante de mim, deixavam-me na alma uma impressão de gozo, que claramente me indicava como eu era cheia de amor-próprio. Oh! quanta compaixão não sinto das almas que se perdem!... É tão fácil perder-se nas sendas floridas do mundo ... Não há dúvida, para uma alma mais formada a doçura que ele oferece, vem mesclada de amargura, e o imenso vácuo dos desejos não poderia preencher-se com louvores momentâneos ... No entanto, se meu coração desde o seu despertar não se erguera até Deus, se o mundo me tivera sorrido desde minha entrada na vida, que teria acontecido comigo?... ó minha Mãe querida, com que gratidão canto as misericórdias do Senhor! ... De acordo com as palavras da Sabedoria, não foi ele que "me retirou do mundo, antes que meu espírito se pervertesse com sua malícia, e que suas enganosas aparências me seduzissem a alma?" A Santíssima Virgem também velava sua florzinha. Não querendo que perdesse o brilho ao contato com as coisas da terra, retirou-a para o alto de sua montanha, antes que desabrochasse... Enquanto aguardava o ditoso momento, Teresinha crescia no amor à sua Mãe do Céu. Para lhe dar prova desse amor, praticou uma ação que muito lhe custou, e que a despeito de sua extensão vou historiar em poucas palavras... Quase logo depois de minha admissão na Abadia, fui recebida na associação dos Santos Anjos. Apreciava muito as práticas de devoção que se me impunham, pois sentia um atrativo todo particular em rezar aos bem-aventurados espíritos celestiais, especialmente àquele que o Bom Deus me dera para ser companheiro do meu exílio. Algum tempo depois da minha Primeira Comunhão, a fita de aspirante a Filha de Maria substituiu a dos Santos Anjos. Antes, porém, de ser admitida na Associação da Santíssima Virgem, deixei a Abadia. Por ter saído antes de concluir os estudos, não tinha o direito de ingressar como antiga aluna. Considerando, contudo, que todas as minhas irmãs tinham sido "Filhas de Maria", tive receio de ser, menos do que elas, filha de minha Mãe do Céu, e fui com toda a humildade (apesar do muito que me custava) pedir a licença de ser recebida na Associação da Santíssima Virgem na Abadia. A mestra diretora não quis recusar-me, mas pôs como condição que, duas vezes por semana, me recolhesse uma tarde na Abadia, para mostrar se era digna de ser admitida. Bem ao invés de me causar prazer, a concessão foi-me custosa ao extremo. Não tinha, como outras antigas alunas, uma professora amiga, com a qual pudesse passar algumas horas. Contentava-me, por conseguinte, em cumprimentar a mestra, e depois trabalhava em silêncio até ao final da lição programada. Ninguém me dava atenção, e por isso subia à tribuna do coro da capela, ficando diante do Santíssimo Sacramento até o momento em que Papai ia buscar-me. Esta era minha exclusiva consolação. Não era Jesus meu único amigo?... Não conseguia falar senão com Ele. Fatigava-me a alma conversar com as criaturas, ainda que se tratasse de conversas piedosas... Sentia que era maior vantagem falar com Deus do que falar de Deus, pois em conversas espirituais se intromete muito amor próprio! ... Oh! bem era, única e exclusivamente, pela Santíssima Virgem que me apresentava na Abadia... Por vezes, sentia-me sozinha. muito sozinha. Como nos dias de minha vida de semi-interna, quando triste e doente espairecia no grande pátio, repetia as palavras que sempre me fizeram renascer paz e alento no coração: "A vida é teu navio, não é tua morada!"... Quando ainda pequenina, estas palavras me restituíam a coragem. Ainda agora, a despeito dos anos que apagam tantas impressões da piedade infantil, a imagem da embarcação enleva minha alma, ajudando-lhe a suportar o exílio em paciência... Não nos diz também a Sabedoria que "a vida é como uma nau que sulca as ondas agitadas, e de cuja rápida passagem não fica nenhum vestígio?... " Quando penso tais coisas, minha alma submerge no infinito. Afigura-se-me que já abordo a praia da eternidade... Afigura-se-me receber os amplexos de Jesus... Creio avistar minha Mãe do Céu que me vem ao encontro na companhia do Papá... da Mamã... dos quatro anjinhos... Creio, afinal, gozar para sempre da verdadeira vida eterna em família...

Antes de ver a família congregada no pátrio lar dos Céus, devia atravessar ainda muitas separações. No ano de minha admissão como filha da Santíssima Virgem, ela me tirou minha querida Maria, único sustento de minha alma... Era Maria quem me guiava, consolava, ajudava a praticar a virtude. Era meu único oráculo. Sem dúvida, Paulina tinha ficado bem firme em meu coração, mas estava longe, muito longe de mim!... Sofri o martírio para me habituar a viver sem ela, por ver entre nós muros intransponíveis. Mas enfim acabei aceitando a triste realidade. Paulina estava perdida para mim, quase como se estivesse morta. Continuava a me amar, rezava por mim, mas aos meus olhos minha querida Paulina se tornara uma santa, que já não poderia compreender as coisas da terra; e as misérias de sua pobre Teresa, se as conhecesse, tê-la-iam espantado e impedido de amá-la tanto... Por outro lado, ainda se quisera confidenciar-lhe meus pensamentos, como o fazia nos Buissonnets, não teria possibilidade, porque os atendimentos no locutório eram somente para Maria. Celina e eu tínhamos permissão de chegar lá só no final, justamente o tempo necessário para nos deixar com o coração apertado... Assim não tinha na realidade senão Maria, que me era, por assim dizer, indispensável. Só a ela contava meus escrúpulos e era tão obediente que meu confessor nunca chegou a saber de minha desagradável doença. A ele dizia exatamente o número de pecados que Maria me autorizava confessar, nem um a mais. Por isso poderia ser tida como a alma menos escrupulosa da terra, embora o fosse até ao último grau... Maria sabia, por conseguinte, tudo o que se passava em minha alma. Sabia também dos meus desejos a respeito do Carmelo, e eu lhe queria tanto, que não podia viver sem ela. Titia convidava-nos todos os anos a irmos, uma por vez, à sua casa em Trouville. Gostava muito de ir lá, mas em companhia de Maria! Não a tendo comigo, ficava muito entediada. Uma vez, entretanto, senti-me satisfeita em Trouville. Foi no ano da viagem de Papai a Constantinopla. Para nos distrair um pouco, (pois estávamos desgostosas por saber Papai a tão grande distância), Maria mandou-nos, à Celina e a mim, passar quinze dias à beíra-mar. Tive ali muita distração, porque minha Celina estava comigo. Titia arranjava-nos todos os passatempos possíveis: montaria em jumentinho, pesca de langueirões etc... Era ainda muito criança, apesar dos meus doze anos e meio. Lembro-me de minha satisfação, quando punha as lindas fitas azuis de anil, que Titia me dera para os cabelos. Lembra-me, também, de ter confessado em Trouville até essa alegria infantil, que pareceu-me pecado... Uma tarde, fiz uma experiência que me surpreendeu bastante. - Maria (Guérin), que vivia quase sempre adoentada, choramingava de vez em quando. Titia então fazia-lhe carícias, dizia-lhe os nomes mais afetuosos, e minha querida priminha nem por isso parava de dizer, toda lacrimosa, que estava com dor de cabeça. Ora, eu que quase todos os dias também tinha dor de cabeça e nunca me queixava, quis uma tarde imitar Maria. Senti, pois, a obrigação de choramingar numa poltrona ao canto da sala. Joana e Titia logo se aproximaram de mim, perguntando-me o que tinha. Respondi, igual à Maria: "Estou com dor de cabeça". Parece que não me saí bem no modo de queixar-me, pois nunca pude convencê-las de ter sido dor de cabeça que me fizera chorar. Em vez de me afagarem, falaram comigo como se fala com gente grande. De sua parte, Joana me censurou por não confiar bastante na Titia, por julgar que eu estava às voltas com algum escrúpulo de consciência... Afinal, aprendi à própria custa, tomando a firme resolução de não imitar mais os outros, e entendi a fábula de "O asno e o cachorrinho"". Eu representava o asno que, vendo as carícias que se faziam ao cachorrinho, ergueu a pesada pata sobre a mesa, para receber seu quinhão de beijos. Mas, ai! se não levei pancadas, como o pobre animal, recebi realmente a moeda de minha paga, moeda que me curou, por toda a vida, do prurido de atrair a atenção. Só o esforço que nisso apliquei, custou-me caro demais!...

No ano seguinte, que era o da partida de minha querida Madrinha, Titia ainda me convidou, mas desta vez a mim sozinha, mas tão desambientada fiquei que, ao cabo de dois ou três dias adoeci, e foi preciso que me fizessem voltar para Lisieux. Minha doença, que temiam como grave, não passava de uma nostalgia dos Buissonnets. Mal pus os pés ali, voltou a saúde... E a essa criança, ia o Bom Deus arrebatar-lhe o único apoio que a prendia à vida! ...

Logo que soube da resolução de Maria, resolvi não mais procurar nenhum prazer na terra... Depois que saí do pensionato, alojei-me no antigo gabinete de pintura de Paulina, e arrumei-o a meu gosto. Era um verdadeiro bazar, um aglomerado de coisas piedosas e curiosidades, uma jardineira e um viveiro de passarinhos... Assim, também, na parede do fundo, sobressaíam uma grande cruz de madeira preta, sem o corpo de Cristo, e alguns desenhos que me agradavam. Na outra parede, uma cesta guarnecida de musselina e fitas cor-de-rosa, cheia de folhinhas picadas e de flores. Afinal, na última parede, salientava-se, como peça única, o retrato de Paulina aos 1O anos de idade. Debaixo do retrato, conservava eu uma mesa, onde se achava uma grande gaiola, que comportava grande número de passarinhos, cujos melodiosos trinados atordoava a cabeça dos visitantes, mas não a de sua jovem proprietária, que lhes tinha grande afeição... Ali havia ainda o "pequeno traste branco", cheio de meus livros de estudo, de cadernos etc. Em cima do traste estava colocada uma estátua da Santíssima Virgem, com vasos sempre providos de flores naturais, com castiçais. Em derredor, havia uma multidão de estatuetas de Santos e Santas, certinhos feitos de conchas, caixa de cartolina, etc! Afinal, minha jardineira ficava suspensa diante da janela, onde eu cultivava vasos de flores (os mais raros que podia encontrar). No interior do "meu museu" havia ainda uma jardineira, sobre a qual punha minha planta predileta... Diante da janela, minha mesa coberta com um tapete verde, e sobre esse tapete coloquei, no meio, uma ampulheta, uma estatueta de São José, um porta-relógio, corbelhas para flores, um tinteiro etc... Algumas cadeiras mancas e a fascinante caminha de boneca de Paulina completavam todo o meu mobiliário. Realmente, esse pobre quarto de sótão era um mundo para mim, e como o Sr. De Maistre poderia eu escrever um livro com o título: "Passeio em torno do meu quarto". Gostava de permanecer horas inteiras nesse quarto, a estudar e a meditar diante do panorama que se descortinava aos meus olhos ... Quando eu soube da partida de Maria, meu quarto perdeu para mim todo o encanto. Não queria abandonar um só instante a querida irmã que dentro em breve se subtrairia à nossa convivência ... Quantos atos de paciência não a obriguei a praticar! Todas as vezes que passava diante da porta de seu quarto, batia até que ela abrisse, e abraçava-a de todo o coração. Queria fazer provisão de beijos por todo o tempo que ficaria sem eles.

Um mês antes de sua entrada no Carmelo, Papai levou-nos a Alençon, mas a viagem ficou longe de assemelhar-se à primeira, porque tudo se me converteu em tristeza e amargura. Não poderia descrever as lágrimas que derramei junto ao túmulo de Mamãe, por ter esquecido de levar um ramalhete de centáureas, colhidas para ela. Na verdade, acabrunhava-me com qualquer coisa! Era ao contrá- rio de agora, pois o Bom Deus concedeu-me a graça de me não abater com nenhuma coisa passageira. Quando recordo os tempos idos, minha alma transborda de gratidão vendo os favores que recebi do Céu. Operou-se tal mudança em mim que não sou reconhecível... Verdade é que eu desejava ter "sobre minhas ações um domínio absoluto, ser a dona, não a escrava"'. Essas palavras da Imitação comoviam-me profundamente, mas devia, por assim dizer, comprar essa graça inestimável pelos meus desejos; ainda parecia uma criança que só quer o que os outros querem. O que fazia as pessoas de Alençon dizerem que eu era fraca de caráter... Foi durante essa viagem que Leônia fez experiência nas clarissas". Fiquei triste com sua entrada extraordinária, pois amava-a muito e não pude beijá-la antes da partida.
Nunca me esquecerei da bondade e do embaraço desse pobre paizinho quando veio anunciar-nos que Leônia já vestia o hábito das clarissas... Como nós, achava isso muito engraçado, mas não queria dizer nada, vendo quanto Maria estava descontente. Levou-nos ao convento, e lá senti um aperto no coração como nunca tinha sentido ao ver um mosteiro. Isso produziu em mim o efeito contrário do Carmelo, em que tudo dilatava minha alma... A vista das religiosas tampouco me encantou, e não fiquei tentada a permanecer no meio delas. A pobre Leônia parecia muito gentil no novo traje; disse-nos para olhar bem os olhos dela, porque não devíamos vê-los mais (as clarissas só se mostram de olhos baixos). Mas Deus contentou-se com dois meses de sacrifício, e Leônia voltou a nos mostrar seus olhos azuis, freqüentemente molhados de lágrimas... Ao deixar Alençon, pensava que ela ia ficar com as clarissas, por isso foi com muita tristeza que me afastei da triste rua da meia-lua. Ficávamos apenas três e, logo, nossa querida Maria ia nos deixar... 15 de outubro foi o dia da separação! Só restavam as duas últimas da numerosa e alegre família dos Buissonnets... As pombas haviam fugido do ninho paterno e as que ficavam queriam também segui-las, mas suas asas eram ainda fracas demais para poder alçar vôo... Deus, que queria chamar para si a menor e a mais fraca de todas elas, apressou-se em desenvolver suas asas. Ele, que se compraz em mostrar sua bondade e seu poder servindo-se dos instrumentos menos dignos, quis chamar-me antes de Celina, que, sem dúvida, merecia antes esse favor. Mas Jesus sabia como eu era fraca e foi por isso que me escondeu antes no recôncavo do rochedo.

Quando Maria entrou para o Carmelo, era eu ainda muito escrupulosa. Já não podendo confiar-me a ela, volvi-me para o lado dos Céus. Foi aos quatro anjinhos, meus predecessores lá no alto, que me dirigi com a idéia de que suas almas inocentes, por não terem jamais conhecido inquietações nem temores, deviam compadecer-se de sua pobre maninha que sofria aqui na terra. Falava-lhes com ingenuidade de criança, e fazia-lhes ver que, sendo a caçula da família, tinha sido sempre a mais amada, a mais contemplada com carinhos por parte de minhas irmãs, e que eles, por certo também me teriam dado provas de afeição, se tivessem continuado aqui na terra... Sua partida para o Céu não me parecia motivo de me esquecerem. Pelo contrário, estando em condições de haurir nos tesouros divinos, neles poderiam buscar a paz para mim, e mostrar-me assim que no Céu a gente ainda sabe amar!... A resposta não se fez esperar. A paz logo me inundou a alma com sua deliciosa exuberância, e compreendi que, se era amada aqui na terra, também o era lá no Céu... Desde aquele momento, cresceu minha devoção para com meus irmãozinhos. Gosto de entreter-me muitas vezes com eles, de falar-lhes das tristezas do exílio... do meu desejo de logo juntar-me a eles brevemente na Pátria!...

Se o Céu me cobria de graças, não era porque as merecesse, era ainda muito imperfeita; de fato, tinha um grande desejo de praticar a virtude, mas agia de maneira estranha. Eis um exemplo: por ser a mais nova, não estava acostumada a me servir. Celina arrumava o quarto em que dormíamos e eu não fazia nenhum trabalho caseiro; depois da entrada de Maria no Carmelo, acontecia-me, às vezes, para agradar a Deus, de tentar arrumar a cama ou de, na ausência de Celina, guardar os vasos de flores à noite. Como disse, era só por Deus que eu fazia essas coisas, portanto não devia esperar o agradecimento das criaturas. Ai! era todo o contrário. Se Celina não demonstrasse contentamento pelos meus servicinhos, eu ficava contrariada e provava-o com minhas lágrimas...

Era verdadeiramente insuportável pela minha sensibilidade excessiva. Se me acontecesse causar involuntariamente aflição a alguém a quem amava, em vez de me controlar e não chorar, o que aumentava meu erro em vez de diminuí-lo, chorava como uma Madalena, e quando começava a consolar-me pela coisa que me levara a chorar chorava por ter chorado... Todos os raciocínios eram inúteis e não conseguia corrigir-me desse desagradável defeito. Não sei como acalentava a doce idéia de ingressar no Carmelo, estando ainda nos cueiros!..." Foi preciso Deus fazer um pequeno milagre para eu crescer de repente, e esse milagre se deu num dia inesquecível de Natal, nessa noite luminosa que ilumina as delícias da Santíssima Trindade. Jesus, a doce criancinha recém-nascida, transformou a noite da minha alma em torrentes de luz... nessa noite em que se fez fraco e sofrido pelo meu amor, fez-me forte e corajosa, equipou-me com suas armas e, desde essa noite abençoada, não saí vencida em nenhum combate. Pelo contrário, andei de vitória em vitória e iniciei, por assim dizer, "uma corrida de gigante!..." A fonte das minhas lágrimas secou e só voltou a jorrar pouquíssimas vezes e com dificuldade, o que justificou essa palavra que me fora dita: "Choras tanto na infância que, mais tarde, não terás mais lágrimas para derramar!..."

Foi em 25 de dezembro de 1886 que recebi a graça de sair da infância, em suma, a graça da minha completa conversão. Estávamos voltando da missa do galo, em que tinha tido a felicidade de receber o Deus forte e poderoso. Ao chegar aos Buissonnets, alegrava-me por pegar meus sapatos na lareira. Esse costume antigo causara-nos tanta alegria durante a infância que Celina queria continuar a me tratar corno um bebê, por ser a menor da família... Papai gostava de ver minha felicidade, ouvir meus gritos de alegria ao tirar cada surpresa dos sapatos encantados, e a alegria do meu Rei querido aumentava muito a minha. Mas, querendo Jesus mostrar-me que devia me desfazer dos defeitos da infância, tirou de mim também as inocentes alegrias; permitiu que papai, cansado da missa do galo, sentisse tédio vendo meus sapatos na lareira e dissesse essas palavras que me magoaram: "Enfim, felizmente, é o último ano!..." Subi a escada para ir tirar meu chapéu, Celina, conhecendo minha sensibilidade e vendo já as lágrimas em meus olhos, ficou também com vontade de chorar, pois amava-me muito e compreendia meu sofrimento: "Oh, Teresa!", disse-me, "não desce, te causará tristeza demais olhar já teus sapatos". Mas Teresa não era mais a mesma, Jesus havia mudado o coração dela! Reprimindo minhas lágrimas, desci rapidamente e, comprimindo as batidas do coração, peguei meus sapatos... então, colocando-os diante de papai, tirei alegremente todos os objetos, parecendo feliz como uma rainha. Papai ria também, voltara a ficar alegre e Celina pensava sonhar!... Felizmente, era uma doce realidade. Teresinha reencontrar a força de alma que perdera aos 4 anos e meio e ia conservar para sempre!...

Nessa noite de luz, começou o terceiro período da minha vida, o mais bonito de todos, o mais cheio das graças do Céu... Num instante, a obra que eu não pude cumprir em dez anos, Jesus a fez contentando-se com a boa vontade que nunca me faltara. Como os apóstolos, podia dizer-Lhe: "Senhor, pesquei a noite toda sem nada pegar". Ainda mais misericordioso comigo do que com os discípulos, Jesus pegou Ele mesmo a rede, lançou-a e retirou-a cheia de peixes... Fez de mim um pescador de alma, senti um desejo imenso de trabalhar pela conversão dos pecadores, desejo que não sentira tanto antes... Em suma, senti a caridade entrar em meu coração, a necessidade de me esquecer para agradar e, desde então, fiquei feliz!... Num domingo, ao olhar uma foto de Nosso Senhor na Cruz, fiquei impressionada com o sangue que caía de uma das suas mãos divinas. Senti grande aflição pensando que esse sangue caía no chão sem que ninguém se apressasse em recolhê-lo. Resolvi ficar, em espírito, ao pé da Cruz para receber o divino orvalho que se desprendia, compreendendo que precisaria, a seguir, espalhá-lo sobre as almas... O grito de Jesus na Cruz ressoava continuamente em meu coração: "Tenho sede!" Essas palavras despertavam em mim um ardor desconhecido e muito vivo... Queria dar de beber a meu Bem-amado e sentia-me devorada pela sede das almas... Ainda não eram as almas dos sacerdotes que me atraíam, mas as dos grandes pecadores. Ardia do desejo de arrancá-los às chamas eternas...

Para estimular meu zelo, Deus mostrou-me que meus desejos eram-lhe agradáveis. Ouvi falar de um grande criminoso que acabava de ser condenado à morte por crimes horríveis. Tudo fazia crer que morreria impenitente. Quis, a qualquer custo, impedi-lo de cair no inferno"'. Para conseguir, usei de todos os meios imagináveis: sentindo que, de mim mesma, nada poderia, ofereci a Deus os méritos infinitos de Nosso Senhor, os tesouros da santa Igreja, enfim, pedi a Celina para mandar celebrar uma missa nas minhas intenções, não ousando pedi-la eu mesma, temendo ser obrigada a dizer que era para Pranzini, o grande criminoso. Não queria, tampouco, dizê-lo a Celina, mas insistiu com tanta ternura que lhe confiei meu segredo; longe de zombar de mim, pediu para ajudar a converter meu pecador. Aceitei com gratidão, pois teria desejado que todas as criaturas se unissem a mim para implorar a graça para o culpado. No fundo do meu coração, tinha certeza de que nossos desejos seriam atendidos. Mas, a fim de ter coragem para continuar a rezar pelos pecadores, disse a Deus estar segura de que Ele perdoaria o pobre infeliz Pranzini, que acreditaria mesmo que não se confessasse e não desse sinal nenhum, de arrependimento, enorme era minha confiança na misericórdia infinita de Jesus, mas lhe pedia apenas um sinal de arrependimento, para meu próprio consolo... Minha oração foi atendida ao pé da letra! Apesar da proibição de papai de lermos jornais, não pensava desobedecer lendo as passagens que falavam de Pranzini. No dia seguinte à sua execução, cai-me às mãos o jornal La Croix. Abro-o apressada e o que vejo?... Ah! minhas lágrimas traíram minha emoção e fui obrigada a me esconder... Pranzini não se confessou, subiu ao cadafalso e preparava-se para colocar a cabeça no buraco lúgubre quando, numa inspiração repentina, virou-se, apanhou um Crucifixo que lhe apresentava o sacerdote e beijou por três vezes suas chagas sagradas!... Sua alma foi receber a sentença misericordiosa Daquele que declarou que no Céu haverá mais alegria por um só pecador arrependido do que por 99 justos que não precisam de arrependimento!...

Obtive o "sinal" pedido, e esse sinal era a reprodução fiel de graças que Jesus me fizera para atrair-me a rezar pelos pecadores. Não foi diante das chagas de Jesus, vendo cair seu sangue divino, que a sede de almas entrou em meu coração? Queria dar-lhes de beber esse sangue imaculado que devia purificá-las das suas sujeiras, e os lábios do "meu primeiro filho" foram colar-se às chagas sagradas!!!... Que resposta indizivelmente doce!... Ah! desde essa graça única, meu desejo de salvar as almas cresceu a cada dia. Parecia-me ouvir Jesus dizendo como para a samaritana: "Dê-me de beber!" Era uma verdadeira troca de amor; às almas, eu dava o sangue de Jesus; a Jesus, oferecia essas mesmas almas refrescadas pelo seu divino orvalho. Dessa forma, eu parecia desalterá-lo e mais lhe dava de beber, mais a sede da minha pequena alma aumentava e era essa sede ardente que Ele me dava como a mais deliciosa bebida do seu amor...

Em pouco tempo, Deus conseguira fazer-me sair do círculo apertado no qual eu girava sem encontrar saída. Vendo o caminho que Ele me fizera percorrer, minha gratidão é grande, mas preciso convir que, se o passo maior fora dado, muitas coisas restavam ainda a abandonar. Livre dos escrúpulos, da sua sensibilidade excessiva, meu espírito desenvolveu-se. Sempre gostara do grandioso, do belo, mas naquela época fui tomada de um desejo extremo de saber. Não satisfeita com as lições e as tarefas que minha mestra me dava, dedicava-me, sozinha, a estudos especiais de história e de ciências. Os outros estudos deixavam-me indiferente, mas essas duas áreas atraíam minha atenção. Em poucos meses, adquiri mais conhecimentos que durante meus anos de estudos. Ah! isso só era vaidade e aflição de espírito... O capítulo da Imitação em que se fala das ciências voltava à minha mente, mas achava o meio de prosseguir assim mesmo, dizendo-me que, estando na idade de estudar, não havia mal nenhum em fazê-lo. Não creio ter ofendido a Deus (embora reconheça ter passado nisso um tempo inútil), pois só ocupava um certo número de horas que não queria ultrapassar a fim de mortificar meu desejo excessivo de saber... Estava na mais perigosa idade para as moças, mas Deus fez por mim o que relata Ezequiel em suas profecias: "passando perto de mim, Jesus viu que havia chegado para mim o tempo de ser amada, Ele fez aliança comigo e passei a ser sua... Estendeu sobre mim seu manto, lavou-me em perfumes preciosos, revestiu-me de roupas bordadas, dando-me colares e jóias sem preço... Alimentou-me com a mais pura farinha, com mel e azeite abundante... então passei a ficar bela aos olhos Dele e fez de mim uma poderosa rainha!..."

Sim, Jesus fez tudo isso para mim, poderia retomar cada palavra do que acabo de escrever e provar que se realizou em meu favor, mas as graças que relatei acima são prova suficiente. Vou apenas falar da alimentação que me prodigalizou "com abundância". Havia muito que me alimentava da "pura farinha" contida na Imitação, era o único livro que me fazia bem, pois ainda não havia achado os tesouros escondidos no Evangelho. Sabia de cor quase todos os capítulos da minha querida Imitação, nunca me desfazia desse livrinho. No verão, levava-o no bolso; no inverno, no meu regalo. O hábito tornou-se tradicional e, na casa da minha tia, divertiam-se muito abrindo-o ao acaso e fazendo-me recitar o capítulo que se apresentava aos olhos. Aos 14 anos, com meu desejo de ciência, Deus achou necessário acrescentar "à pura farinha mel e azeite em abundância". Esse mel e esse azeite, fez-me encontrá-los nas conferências do padre Arminjon, sobre o fim do mundo atual e os mistérios do mundo futuro. Esse livro havia sido emprestado a papai pelas minhas queridas carmelitas; por isso, contrariamente a meus hábitos (pois eu não lia os livros de papai), pedi para lê-lo.

Essa leitura foi ainda uma das maiores graças da minha vida. Eu a fiz janela do meu quarto de estudo e a impressão que tive é por demais íntima e doce para que possa expressá-la...

Todas as grandes verdades da religião, os mistérios da eternidade, mergulhavam minha alma numa felicidade que não era da terra... Já pressentia o que Deus reserva a quem o ama (não com o olho do homem, mas com o do coração) e, vendo que as recompensas eternas não tinham proporção alguma com os leves sacrifícios da vida, quis amar, amar Jesus com paixão, pedir-lhe mil marcas de amor, enquanto ainda podia... Copiei muitas passagens sobre o amor perfeito e a recepção que Deus deve fazer a seus eleitos no momento em que Ele próprio se tornará sua grande e eterna recompensa. Repetia sem parar as palavras de amor que haviam abrasado meu coração... Celina tornara-se a confidente íntima dos meus pensamentos; desde o Natal, podíamos nos compreender, a distância de idade não existia mais, pois eu me tornara grande em tamanho e, sobretudo, em graça... Antes dessa época, reclamava com freqüência por não conhecer os segredos de Celina. Dizia-me que eu era pequena demais, que precisaria crescer a altura de um banquinho para ela ter confiança em mim... Gostava de subir nesse precioso banquinho quando estava ao lado dela, e lhe dizia para falar-me intimamente, mas meu esforço era inútil, uma distância nos separava ainda!...

Jesus queria fazer-nos avançar juntas e, por isso, formou em nossos corações laços ainda mais fortes que os do sangue. Tornou-nos irmãs de almas. Realizaram-se em nós essas palavras do Cântico de são João da Cruz (falando com o Esposo, a esposa exclama): "Seguindo vossas pegadas, as moças percorrem leves o caminho, o toque da centelha, o vinho condimentado fazem-nas produzir aspirações divinamente perfumadas". Sim, era com leveza que seguíamos as pegadas de Jesus, as centelhas do amor que semeava profusamente em nossas almas, o vinho delicioso e forte que nos dava de beber faziam desaparecer a nossos olhos as coisas passageiras e dos nossos lábios saíam aspirações de amor inspiradas por Ele. Como eram doces as conversações que tínhamos, toda noite, no mirante! O olhar fixo no horizonte, observávamos a branca lua içando-se atrás das altas árvores... os reflexos argênteos que se espalhavam sobre a natureza adormecida, as brilhantes estrelas cintilando no azul profundo... o sopro ligeiro da brisa noturna fazia flutuar as nuvens nevadas, tudo elevava nossas almas para o Céu, o belo Céu do qual ainda só contemplávamos "o reverso límpido" ...

Não sei se estou enganada, mas parece-me que a efusão das nossas almas assemelhava-se à de santa Mônica com seu filho quando, no porto de Óstia, ficavam perdidos em êxtase à vista das maravilhas do Criador!... Creio que recebíamos graças de uma categoria tão alta como as concedidas aos grandes santos. Como diz a Imitação, às vezes Deus se comunica em meio a um vivo esplendor, outras vezes "suavemente velado, por sombras e figuras. Era dessa última maneira que se dignava manifestar às nossas almas, mas como era transparente e leve o véu que separava Jesus dos nossos olhares!... A dávida era impossível, já não havia necessidade da Fé e da Esperança, o amor fazia-nos encontrar na terra Aquele que buscávamos. "Tendo-o encontrado sozinho, dava-nos seu beijo, a fim de que, no futuro, ninguém pudesse nos desprezar."

Graças tão grandes não haviam de ficar sem frutos. E foram abundantes. A prática da virtude tornou-se para nós suave e natural; no começo, meu rosto deixava transparecer a luta, mas aos poucos essa impressão desapareceu e a renúncia passou a ser fácil para mim, quase espontânea. Jesus disse: "A quem possui dar-se-á mais e ficará na abundância". Em troca de uma graça fielmente recebida, dava-me muitas outras... Ele próprio se dava a mim na santa Comunhão mais vezes que eu teria ousado esperar. Adotei como regra de conduta comungar todas as vezes que fosse autorizada pelo meu confessor e deixar a este resolver o número das minhas comunhões, sem nunca interferir. Não tinha na época a audácia que tenho agora, pois teria agido de outro modo. Tenho certeza de que uma alma deve dizer claramente a seu confessor a atração que tem para receber seu Deus. Não é para ficar no cibório de ouro que Ele desce do céu todos os dias'", mas para encontrar um outro céu, infinitamente mais querido que o primeiro, o céu da nossa alma, feito à sua imagem, o templo vivo da adorável Trindade!... 

HISTÓRIA DE UMA ALMA (Santa Teresinha do Menino Jesus) COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora