"(...) O corpo só existe como suporte e medianeiro de uma vida que, mediante ele, abarca o mundo inteiro." (Gusdorf, 1960, p. 265)
"Não sei exatamente como isso começou, mas sei perfeitamente como quero que acabe."
Essas eram as palavras de Louis Tomlinson para sua atual psicóloga. A verdade era que ele estava fazendo consultas semanais há três anos, desde que resolveu entregar-se à polícia.
Foi um choque para todos os presentes no local quando o mesmo começou a relatar — sem separar sua mão a de Styles em momento algum — toda sua vida, sem nenhum parênteses, sem aspas, apenas vírgulas e pontos para separar um fato de outro. Havia um psicólogo criminal no local, e o mesmo não desviava o olhar de Tomlinson um segundo sequer, transparecendo uma calmaria que, uns anos atrás, seria um tanto impossível do mesmo identificar.
Chegava a ser engraçado a forma que Harry olhava todos ali, mais ansioso e nervoso que seu próprio marido. Sim, eles se casaram. Foi tudo extremamente simples, afinal, eles não precisavam de alguma aprovação social para se amarem, apenas de seus corações e almas interligados para todo sempre. Mas Niall, como a ótima pessoa que é, ainda insistiu que ao menos seus amigos mais próximos também comparecessem; no caso, os amigos mais próximos são apenas eles, então continuou sendo uma cerimônia superficial. Até mesmo Anne se proibiu de comparecer, pois, segundo ela, era "necessário tempo para digerir tal acontecimento fatídico e não queria atrapalhar a lua de mel do mais novo casal". Completamente contraditória, afirma Styles. Louis a compreende, mas não retruca o marido.
"... e vocês podem tomar as decisões que forem necessárias, eu de fato não ligo. Mas só não quero ser proibido de vê-lo, nem que seja apenas uma vez na semana", não havia lágrima alguma ameaçando cair dos olhos de Louis, não era como se ele sentisse pena de si mesmo, afinal. Apenas queria acabar com tudo aquilo e tentar viver uma vida normal — o que estava longe de ser possível.
Todos os oficiais ali se dissiparam, colocando o moreno em uma cela temporária, enquanto arquitetavam uma solução plausível para a sociedade. Claro, a sociedade. Esse era o trabalho deles, proteger alheios. Por esse motivo, antes de, de fato, comparecerem à delegacia, Louis e Harry tiveram uma séria conversa sobre isso. Sabiam que o lado de Louis não seria aliviado, e o mais velho não queria isso, ele queria, sinceramente, uma punição válida.
Contudo, enquanto todos se distraíam nas próprias conclusões precipitadas, aquele mesmo psicólogo continuava em seu lugar, observando com um pequeno sorriso o casal que interagia, um do lado de dentro da cela e o outro apenas olhando-o de fora, ambos os olhares se encontrando e um brilho passando pelos mesmos, como se as mesmas lembranças fossem revividas em suas cabeças. E então sorriram. Foi ali que ele pensou melhor e decidiu interferir. Assim como em nem todos os casos remédio é necessário, seria mesmo necessário uma pena de trinta anos? Ainda se perguntava por que as pessoas perdiam tão rápido a esperança, sendo que havia tanta de sobra para ser acumulada.
"Prisão perpétua?", um dos oficiais arriscou, claramente confuso.
"A gente nem sabe se já foi liberada a prisão perpétua por aqui", outro falou, absorto a tudo, contemplando algum desnecessário em seu celular.
"Vocês deveriam parar", ele soava como mais sensato entre todos os outros, mas não podia garantir. "Notaram que apenas correram para formar um círculo infantil e decidir o futuro de não só uma, mas duas pessoas? Vocês chegaram a, de fato, realizar seus trabalhos aqui e fazer interrogatórios racionais, analisar comportamentos e juntar fatos? Com toda educação que me foi dada, vocês são idiotas."
Talvez ninguém ali esperasse um sermão daqueles: simples, mas arrebatador. No mesmo momento se colocaram em ordem; ajeitaram suas roupas e posturas e respiraram fundo, antes do chefão — era assim que Charlie o chamava, pois não sabia diferenciar as posições direito — tomar a frente e encarar o "mero psicólogo estagiário" que tivera a audácia de os enfrentar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Deep Web (Larry Stylinson AU)
De TodoVeja bem o chão por onde passa; os locais nos quais você toca; mas, principalmente, não clique onde não deve.