Parte 3: A Caverna dos Lamentos Perdidos.

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Não demorou muito, e logo encontrei a entrada da caverna. Eu arfava, minha cabeça rodava e  a fome me corroía por dentro. Percebi que enquanto estava conectada com Prateado, parte da energia dele fluía para mim anulando o cansaço físico e mental, como se tivéssemos um só coração, mas, naquele momento em que estávamos separados, todas as dores voltaram com mais intensidade. Então, desabei no chão.

Fiquei ali caída durante algum tempo, apenas olhando para a escuridão sem fim lá dentro da caverna. Algum tempo depois, já conseguindo respirar melhor, me sentei e observei a floresta e os arredadores, temerosa de que algum inimigo  me achasse. Lentamente, me arrastei para dentro da caverna buscando abrigo. 

"Ricardo?", pensei para então dizer em voz alta:

- Ricardo! Você está aí dentro? Cadê você?

Mas não veio nenhuma resposta, o que achei muito estranho, pois eu consegui sentir a presença dele lá dentro. Repentinamente, vi uma luz verde e muito brilhante, que flutuava vagarosamente na minha direção. 

- Ricardo? - gritei para a luz, que nada respondeu.

Quando ela ficou na minha frente, pude ver, assombrada, que era uma espécie de nuvenzinha. Fiquei de pé pronta para sair correndo, mas me segurei; "seja forte, Isabel, é só uma fumacinha fosforescente", repeti tentando me acalmar. E aí as coisas ficaram ainda mais estranhas, pois comecei a ouvir vozes, ou melhor, gritos que ecoavam nas rochas.  E eles saíam de dentro da pequena nuvem.

- Socorro! Por favor me ajude! - dizia uma voz masculina e amedrontada.

Eu fiquei morta de medo quando a nuvem passou ao meu lado. Aquela voz fantasmagórica reverberava nas paredes preenchendo todo o ar, era apavorante, eu nunca havia lido nada a respeito daquele... daquele fenômeno tão estranho. Felizmente, a nuvem passou e saiu da  caverna, levando a voz junto, e aí ela simplesmente desapareceu ao se aproximar floresta.

Que diabo de lugar era aquele? Por que Ricardo escolheu se esconder justamente ali? Como se lesse meus pensamentos, a voz do meu amigo finalmente surgiu na minha cabeça:

- Cadê você, Isa? Eu sei que está aqui dentro, posso sentir seu coração!

Me lembrei como essas invasões mentais eram inconvenientes, mas dada a situação, era bom saber que eu não estava sozinha. Respirei fundo e tentei me acalmar. Entrei com tudo naquela escuridão enebriante. 

- Isso, siga a minha voz - dizia Ricardo com certa empolgação.

- Não vejo nada aqui dentro, Ric, você tem alguma luz?

- Sim, eu fiz uma fogueira, mas você não vai vê-la até ficar mais perto, faça o seguinte: siga os Lamentos! - ele respondeu seguro de si.

- Como assim, Lamentos? 

- Você vai ver pequenas nuvens brilhantes pelo caminho, basta sempre ir na direção delas e sempre continuar. A caverna tem algumas galerias e bifurcações, e se você entrar em uma pode ser muito difícil achar o caminho de volta, então faça o que eu disse, vá sempre para os Lamentos que eles passam por onde estou, e só por aqui.

Então ele sabia o que eram aquelas coisas! Mas como? Subitamente, vi uma nova nuvem flutuando na minha direção, dá mesma cor da outra. Eu já não tive tanto medo. Aumentei os passos e percebi que estava em uma descida um pouco ingrime, e a medida em que adentrava mais fundo, mais frio ficava. A nuvenzinha passou ao meu lado e dessa voz a era de uma mulher, ela gritava: "vamos todos morrer aqui! Vamos todos morrer aqui!", uma sensação muito ruim me invadiu, mas me mantive firme e continuei descendo, deixando a nuvem para trás. O caminho fazia curvas fechadas, e muitas vezes eu me deparei com paredões, só encontrando o caminho devido a luz dos Lamentos.

Sangue de BruxoOnde histórias criam vida. Descubra agora