Parte 4: Entrando nas Profundezas.

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Ricardo estava ficando cada vez mais sério. Os olhos dele refletiam as chamas da pequena fogueira, enquanto uma expressão de melancolia crescia em seu rosto. Eu estava de braços cruzados e com a cara fechada, mas não pude deixar de notar que, pela primeira vez, Ricardo  externalizava seus sentimentos, sentimentos por Belina, imaginei. Eu também estava muito triste por ela, entretanto, a ideia dele de tentar contactá-la no Além Vida era muito ousada, arriscada demais. Ele então mirou meus olhos e falou:

- Eu preciso de você, Isa. Sozinho, não vou conseguir fazer a invocação.

Desviei o rosto encarando  o chão, fiz uma negativa com a cabeça. Demorei a responder:

- Não, Ric, não dá! Você tem noção do que está querendo fazer? 

Os olhos dele brilharam e então começaram a lacrimejar. Eu quase cedi, sentindo um aperto no coração. Coloquei minhas mãos nos ombros de Ricardo, algo que eu jamais imaginei fazer, então continuei:

- Eu também gostaria muito de poder me despedir da Belina, e talvez ela realmente ouviu algo importante, mas como vamos  fazer isso? Eu estou esgotada, e você não tá muito melhor. Não seria mais prudente a gente descansar e depois tentar chegar em um outro povoado? Pedir ajuda para nossos amigos em Tamizara, talvez?

 - Você não está entendendo, Isabel! - Ele subiu o tom e se afastou, largando meus ombros e me fazendo largar os dele. - O que você está propondo é que deixemos Ignis nas mãos dos Hellwegs! Você quer fugir? É isso?

- Não! Ric, eu não disse isso! Só acho que devemos descansar e pensar melhor nas opções! Além disso, o que podemos fazer contra eles? A essa altura já deve ter um exército de Hellwegs. E ainda tem um maldito Galferion solto lá fora. Felizmente, temos Prateado que pode nos levar até Tamizara bem rápido.

Ele bufou.

- Prateado? Quem é esse?

- Longa história. Você vai adorar ele. Mas agora nós precisamos sair daqui, vamos ?

Ricardo fechou a cara, irredutível.

- Não, Isabel! Minha família está em Ignis, sua família está em Ignis! Pelos Deuses, todos os nossos amigos!  E meu pai está lutando com tudo que tem contra os malditos Hellwegs, tenho certeza. Eles precisam da nossa ajuda, Isabel.

Caramba, e ainda tinha isso, o Nestor. Por um segundo a imagem do pai do Ricardo apertando a mão do Hellweg voltou à minha mente, e foi tempo suficiente para Ric visualizá-la também. Senti um arrepio.

- Isabel!? O que significa isso?!  - Ele segurou firme nos meus braços. Os olhos arregalados, transtornado.

- Ei, me larga, você está me machucando! - Empurrei o peito dele e me afastei. No mesmo instante, Ricardo invadiu minha mente. Senti uma pontada na nuca e me atirei no chão, tentando resistir à invasão psíquica, mas  ele continuou, forçando cada vez mais fundo.

- Pare com isso, você não precisa fazer isso! - Gritei, sentindo minha cabeça latejar. Vencida, deixei a lembrança inteira voltar à tona, e ele finalmente encontrou o que procurava. 

Subitamente, a presença de Ricardo desapareceu da minha mente e, no mesmo instante, um grunhido aterrador invadiu o interior da caverna. Era Prateado. Com os olhos arregalados e uma expressão de pânico, Ricardo retrocedeu até a parede de rochas.

 - Tem alguma coisa vindo prá cá! Temos que fugir, Isabel! Temos que descer até o lago!

Preteado surgiu das sombras e parou ao meu lado. O Lobo-Dragão rosnava, as presas ameaçadores brilhando. "Calma, amigo, calma!", eu mentalizava. Logo ele obedeceu, mas manteve as presas à mostra, rugindo. Confesso que gostei daquilo. 

Sangue de BruxoOnde histórias criam vida. Descubra agora