Capítulo 1

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Dave

Meu Mercedez Classe C 2015 estava parado em frente ao edifício há dez minutos. Era um prédio de tijolos em Brixton, área típica da cidade para novatos como a Mia. Nunca havia estado naquele lugar em particular, mas podia imaginar seus apartamentos, todos estúdios cheios de aspirantes a modelos e atores comendo mal, dormindo pouco, se prostituindo em busca de uma foto pequena em um canto de página ou um papel de figurante com duas falas. Sei porque já fui um deles.

Mas ao menos era pontual.

Não havia nada naquela manhã que não fosse, no mínimo, indigno de quem batalhou tanto para chegar onde cheguei. Um trabalho virou uma viagem de carro com uma garota imatura e sem profissionalismo, que não podia nem ao menos descer as escadas no horário correto. Trabalho esse que a minha chefe achava que eu não podia me dar ao luxo de recusar. Eu podia. Podia e fazia o que queria. E o que queria no momento era mostrar que não era uma porcaria de modelo em fim de carreira. Era contratado e entregava o produto, e o entregava bem. Mas seguia as minhas regras. Agia do meu modo. Apesar de estar plantado no carro há doze minutos, continuava agindo da minha maneira. Essa maneira era mostrar que as pessoas achavam que me domavam, mas, se eu não fosse o profissional que era, as teria mandado se foderem e estaria buscando algo mais divertido para fazer. Eu estava ali por livre e espontânea vontade.

O que não fazia de mim um idiota que pudesse passar quatorze minutos dentro do carro.

A porta do prédio se abriu e apareceu uma loura alta e esguia, um belo corpo, pernas sensacionais em um shortinho jeans, camiseta regata, um chapéu de palha e óculos escuros. Ela equilibrava uma bolsa de viagem estufada em cada braço e um copo em cada mão.

-Oi! Me ajude aqui! – Ela gritou para mim.

-Quinze minutos – Falei, sem me mexer.

-Hã?

-Estou aqui há quinze minutos. Tente mais pedidos de desculpas e menos ordens.

Ela ficou me olhando durante alguns segundos. Parecia perplexa. Para a sua informação, Mia, você não me dá chá de cadeira e depois me trata como um carregador. Não é assim que funciona comigo.

-Desculpe o atraso, Dave, meu querido. Você poderia por favor me ajudar com as malas? – Ela disse por fim.

Ignorei o sarcasmo e saí do carro. Afinal, só queria me ver livre dela logo.

Tirei as bolsas das suas mãos enquanto ela tentava equilibrar os copos e as coloquei no porta-malas. Enquanto o fechava, percebi que ela se dirigia para a porta do carona.

-Os copos ficam.

-É café. Trouxe um pra você.

-Não tomo café e ninguém bebe nem come nada no meu carro. Jogue fora os copos.

-Você nasceu assim ou se esforça para ser mal-educado? – Ela perguntou.

Sorri, calmo. Não tinha tempo para sarcasmos, ironias, nem para uma menina achando que uma carona significava qualquer tipo de liberdade ou mesmo propriedade compartilhada do meu carro. Me aproximei dela o suficiente para que ela visse que, quando falava com ela, eu olhava para baixo. E ela tinha que olhar para cima para me ver.

-Marcamos às oito, esteja aqui às oito. Não deixe os outro esperando. Em caso de atraso, peça desculpa. Na casa ou carro de alguém, peça licença antes de comer ou beber. "Não" é "não", o dono da casa ou do carro coloca as regras. Isso é educação. E não requer muito esforço. Se livre logo dos copos que estamos vinte e dois minutos atrasados.

Antes e Depois de Você  [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora