O contratempo

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Ao chegar na casa de Alice no dia seguinte, Sarah viu que tudo já havia sido arrumado, mas algo estava diferente.
Alice estava sentada no sofá, olhando o chão, distraída, talvez pensando, quando Sarah a indagou sobre o que estava fazendo, Alice deu um sobressalto, assustada.
- Oh. Não a vi chegando, desculpe. Estou apenas pensando. Está com fome? Tem sanduíche na cozinha.
Sarah sentou-se ao lado da menina e tocou em seu ombro.
- O que estava pensando?
- Ahn... bom... sua irmã é linda.
- Como sabe...? Como...? - subindo o tom de sua voz, Sarah entendeu o que havia acontecido. - Você me seguiu?! - Levantou-se do sofá e começou a andar em círculos.
- Bom, sim. Segui você por que nunca sei nada a seu respeito. Queria saber onde vai toda madrugada e por que me deixa só por todo um dia.
- Sabe porque Alice? Por que minha vida não gira em torno de você. - Batendo os pés no assoalho, Sarah foi para o quarto e poucos instantes depois retornou a sala com uma mala mal feita com todos os seus pertences. - Aprenda a ser você mesma e pare de me seguir. - As últimas palavras ecoaram por todo o ambiente e Sarah saiu, batendo a porta por trás de si.
Aturdida, Alice mirou seus pés que se moviam freneticamente, tamborilava seus dedos em suas coxas e brigava contra as lágrimas. Seria possível que nunca faria algo certo? Que estaria sempre só? Que nunca poderia ser verdadeiramente feliz? Não conseguiu mais segurar. Uma após a outra as lágrimas caiam no chão e em seu colo. Decidiu então ir para cama e fingir que não existia.
Sentia-se medíocre, pequena, só. Encolheu-se em um canto da cama, afim de não incomodar mais ninguém com sua existência.
Sarah caminhava rápido, também continha lágrimas em seus olhos, lágrimas de raiva, lágrimas de arrependimento. Não queria ter entrado na vida de Alice. Não queria tê-la encontrado naquela cafeteria, naquela madrugada chuvosa.
Aumentou os passos ao longo de sua caminhada, e de repente estava correndo. Já não sabia mais para onde ir, só queria que naquele momento a chuva lhe castigasse o corpo, mas o tempo estava fresco, sem nuvens. Então correu. Apenas correu.
O que teria ela feito? Como poderia ter sido tão ingênua e estúpida? Uma medida deveria ser tomada, mas qual?

A BailarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora