CAPÍTULO 5: ANATASYA.

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Meu medo da noite, medo das ruas e medo das pessoas me faz avagarar meus passos. Se Olga me visse agora diria que eu estava paranóica. Tudo estava com uma peculiar aparência burlesca nessa noite, deve ser pela presença do circo na cidade. Eu estava com medo de voltar para casa, apesar do anseio de meu quarto, eu suplicava por paz, algo em mim estava prestes a mudar, eu sentia.

Não, não é hoje que eu volto para aquele ninho de escorpiões. Vou para o bar mais próximo.

As luzes do bar estavam todas acesas, não sei quem querem agradar, todos que frequentavam o bar eram obrigados a ficar no escuro porque o dono era mão de vaca e odiava gastar com gente comum. Sento-me no balcão, procuro dinheiro em minha bolsa.

-Droga... -Resmungo, parece que aqueles garotos não só me deram uma surra.

-Dia difícil, não? Eu pago. -Eu estava prestes a me virar e dizer que "não precisa" até ver a figura em minha frente.

Grandes e redondos olhos extremamente azuis, contornados com maquiagem forte, nariz arrebitado e uma curva amistosa de lábios com batom faltando graças aos drinques que ela poderia ter tomado. Que encanto.

-Obrigada. -Digo sorrindo um pouco sem graça, abaixando a cabeça.

-Não há de quê, sou Anastasya. -Disse me deixando levemente surpresa ao levantar minha cabeça pelo queixo com seu dedo indicador que estava sob luvas de renda preta e estendendo a outra mão sem luva para me cumprimentar, agora que eu notei, ela estava com roupas peculiares, seria ela uma mulher da vida?

-Charlotte. -Disse eu tocando suas mãos, de repente ela puxa meu braço e beija minha mão. Mas o que estava acontecendo ali?!

-Ei, calma...haha, parece que você não é muito cortejada, não é?! -Disse dando um sorriso de canto que confesso ter me dado calor.

-Não é que eu não seja, é que não me deixo ser, você me pegou de surpresa. -Disse fixando meus olhos nos dela.

-É uma das minhas especialidades, imagino que já tenha me confundido com uma prostituta pelas roupas que eu visto, já que não parou de olhar para o meu decote desde que sentou do meu lado.

-N-não foi minha intenção. -Disse ruborizada. -Você se veste diferente das pessoas da cidade...eu só achei que...

-Esse é o problema dessa geração, um bando de caretas! -Disse levando as mãos ao ar e balançando a cabeça.

Segundos de silêncio, eu estava muito sem graça.

-Hmm...mas aposto que você é diferente...afinal, a maneira como olhava meu decote não era a mesma que outras garotas olham... -Disse Anastasya com um olhar de malícia, o sorriso de canto...eu já estava suando.

-HÁ! Sabia! -Você não é bem vinda sendo você, não é? -Disse se aproximando com o banco e colocando os cotovelos no balcão como quem espera uma história.

-Você deveria se calar, eu não gosto de falar sobre isso. -Levo o rosto ao outro lado do bar, chamando o garçom com o olhar.

Ela puxa meu rosto para ela com as duas mãos e com olhar de sarcasmo.

-Huh...então é isso, você rejeita romantismo, é grossa com as pessoas que podem ser futuras companheiras de segredos e...PIOR! Faz tudo isso só porque lambe buceta e acha que é a única! Há, se enxerga, você está cercada de gente como você.

-Calada!! -Grito impulsivamente.

Ela leva as mãos ao meu rosto novamente, me deixando assustada ao juntar seus lábios com os meus em pleno público, o bar estava cheio.

Charlotte Onde histórias criam vida. Descubra agora