Caminhávamos pelas ruas da cidade pela manhã, estava curiosamente quente, quente demais, passamos em frente à um senhorzinho que vendia doces e que, por conta do calor excessivo estavam derretendo, o senhor tirou o suor da testa e nos cumprimentou com a cabeça, dava pra ver que ele não estava tendo um dia bom, as ruas estavam vazias, sem clientes, sem animais, sem carros, até mesmo a maioria das lojas estava fechada. De repente ouço o estômago de Anastasya roncar.-Vamos parar ali. -Disse apontando para uma cafeteria perto de nós.
Entramos na cafeteria e fomos recebidas gentilmente por uma garçonete idosa que estava com um esfregão na mão.
-Bom dia! -Disse a senhora, cujos olhos eram pequenos e azuis e os cabelos cor de palha seca presos num coque baixo, ela usava um vestido azul de mangas médias e um avental branco manchado de algo que parecia glacè com um grande bolso no centro. Ela deixou o esfregão encostado na parede atrás do balcão e nos apontou uma mesa, na qual sentamos e esperamos a senhora se aproximar.
-Bom dia, pode nos trazer dois cafés e o cardápio? -Perguntei, já adivinhando os pensamentos famintos de Anastasya.
-Pra já, moças, qual o nome das beldades? -Sorriso falso.
-Gentil da sua parte, Anastasya e essa é Charlotte. -Já devem imaginar quem disse.
-Hm. -Resmungou a velha enquanto se aproximava do balcão para pegar dois cardápios. Ou ao menos pareciam cardápios.
-Aqui. O que vão pedir? -Disse nos dando duas finas tábuas talhadas com tinta preta e dourada, era um cardápio bonitinho até. Em seguida ela nos trouxe duas xícaras de porcelana branca, sem detalhe algum, preencheu a minha e pude notar a falta de vontade de encher a de Anastasya.
Anastasya caçava vorazmente algo doce na tábua, enquanto eu provava o café suspeito da senhora, estava bom, recém feito, quente e agora com açúcar na medida certa.
-Amn...senhora? Qual o seu nome? -Perguntei.
-Olga.
Entrei em choque.
"Como pude esquecer de Olga?"
-Vamos querer strudel, eu vou querer de maçã e Lotte provavelmente prefere banana e, sim, iremos querer creme.
-Hm. -Resmungou novamente enquanto anotava tudo num bloco de notas aparentemente novo que havia acabado de retirar do bolso do avental, aquilo me incomodou um pouco, até eu chegar à conclusão de que estava me irritando por pouca coisa.
Ela se virou, arrancando a folha escrita do bloco e indo em direção à cozinha enquanto cantarolava uma música famosinha por aqui.
-Odeio essa música... -Anastasya falava enquanto agarrava a barriga.
-Não come desde quando? -Perguntei.
-Desde a noite anterior a termos enfiado um cano no seu pai.
-Fale mais baixo!! -Disse num tom de sussurro que mais parecia um grito.
-Desculpe hehe. -Sussurrou.
-Ficaram sabendo da notícia por aqui? Fico surpresa que não estejam lá, mas também fico feliz por estarem aqui.
Nos olhamos confusas.
-Que notícia?
-Parece que a criada negrinha dos Theodosia foi encontrada morta no quintal.
-Olga!
-É o meu nome. -Disse rindo.
Saí correndo, quase derrubei a mesa. Anastasya segurou minha mão com força.