Capítulo 13

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Adriana foi levada ao forte. Assim que chegou, encontrou três damasos sentados em uma mesa com o formato de uma meia lua, na qual havia seis cadeiras vazias, a do meio e aquelas que estavam situadas na ponta.

Atrás daquela mesa, havia duas estátuas, que lhe chamaram muito a atenção. Elas representavam os dois deusas de Dilecto, que representavam a Alma e a Matéria, o Imanente e o Transcendente, o Manifesto e o Imanifesto e todas as suas complexidades.

A mulher se questionou.

Como eles poderiam tentar personificar o mais elevado grau de pureza em estátuas sem deturpar sua verdadeira glória? Algo dentro dela se revirou. Ela não sabia o que sentia, mas entendia apenas que aquilo não era nada bom.

– Vocês não deveriam ter sido tão audaciosos – ela escarrou e sentiu todo aquele líquido percorrendo por sua boca até continuar – tiveram a coragem de retratar em imagens a figura de nossos deuses? – Disse a mulher enojada.

– Nós não fizemos absolutamente nada. – Disse um dos damasos que estavam sentados atrás da mesa – antes de nascermos elas já estavam aqui e permanecerão depois que morrermos também, eles se permitiram ser vistos e não cabe a você julgá-los.

Embora a sala fosse enorme, ela se sentia comprimida, como se não houvesse espaço suficiente. As paredes feitas de pedras cinzas, decoradas com enormes mosaicos pareciam que estavam a julgando. O chão negro parecia mais um enorme buraco que iria a sugar até a sua alma. Sentia-se extremamente claustrofóbica, mas por mais desconfortável que estivesse, ela não podia e não queria demonstrar aquilo.

O olhar julgador daqueles homens também não ajudavam Adriana a se sentir melhor. Ela conhecia um a um e enquanto passava seus olhos sobre aqueles homens, diversas lembranças angustiantes vieram à tona em sua mente. Adriana sabia o que cada um era, sabia que Mosheh era o mais dedicado, que Eurípedes era o amigo fiel, e Melchior, seu pai.

Pai.

Ele realmente merecia esse título? O que ele teria feito para conquistar isso? Procriação necessariamente garante tamanha honraria? Ela sabia que não e ele também.

– Ajoelhe-se – disse Mosheh.

– O que vocês fizeram para merecer tal ato? – Retrucou Adriana.

– Somos seus senhores – rebateu Eurípedes.

– Se serei condenada a morte, esperarei minha sentença de pé, não me dobrarei diante de suas hipocrisias.

– Adriana... – começou Melchior, mas faltaram-lhe palavras para continuar.

– Onde está a prostituta? – Perguntou Mosheh, mas tal pergunta parecia mais uma provocação.

Mal escutou a provocação e seus punhos se fecharam instintivamente. Sua mandíbula se contraia e ela sentia todas as correntes de ira percorrendo pelo seu corpo.

– Em mil vidas que eu tiver, nunca revelarei a vocês!

Eurípedes gargalhou.

Não precisava ser muito inteligente para perceber que eles não precisariam de nenhuma informação de Adriana. Eles sabiam exatamente o que iriam fazer e o que deveriam fazer. Melchior olhou com desdenho para Adriana, aquilo certamente não era um olhar paterno e melancólico pelo tempo perdido com a filha, mas sim um olhar de desprezo.

– Aquela cortesã me enganou – disse Melchior – você foi um erro. Um terrível erro que terei de suportar por toda a eternidade.

– Pois mate-me! – ela interrompeu – Não estamos aqui para o meu julgamento? Para que tanta demora?

Anjo da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora