Três anos de inverno eram o suficiente para congelar qualquer mente. Sachiel, uma dos milhares de civis do império, não aguentava mais ficar presa em casa, pois apenas seus pais saiam da casa. Eles falavam que era perigoso demais uma garota de sete anos desfilar por toneladas de neve.
Porém, seu irmão, Joseph, tinha apenas quatro anos e já possuía o passe verde para o mundo branco. Enquanto Joseph ia com seu pai para o trabalho, Sachiel ficava em casa a ajudar sua mãe com as tarefas domésticas, mas nem com esse auxílio ela poderia sair de casa.
– Não acredito que a senhora permitiu o Joseph sair com o papai, mas continua comigo aqui – Sachiel falou, mais uma vez, na tentativa de anular aquela decisão injusta.
– Seu irmão também não sai muito, querida. Na verdade ninguém está saindo de casa, quem é o doido de enfrentar um mundo frio como esse? – Sua mãe falou, com a intenção de produzir dois sentidos, nessa ultima frase.
– Eu só queria brincar um pouco lá fora. – Quase não vejo minhas amigas.
– Elas logo virão aqui em casa, Sachiel, acalme-se. Você só tem sete anos, ainda viverá muito, poderá brincar depois.
– Mas eu quero agora!
A menina saiu chorando para seu quarto. Seu vestido, às vezes, prendia nos móveis de madeira da casa, mas conseguiu deitar em sua cama sem rasgá-lo.
O coração da mãe de Sachiel estava em pedaços, mas eram tempos difíceis. Não havia espaço para a felicidade no coração de ninguém, não com a fúria dos damasos. Por culpa deles, aquele inverno teria se prolongado por dois anos a mais que o normal. A comida estava escassa, muitos estavam morrendo de frio, restava apenas batata, vodka e lágrimas para os mais pobres.
Eles queriam a criança escolhida.
Mas ela nunca entregaria o que estavam procurando, não viva. Seus instintos maternos nunca permitiriam iss
☾☾☾
Joseph estava encantado com aquele enorme tapete branco de neve. As pedras que montavam as casas eram magnificamente lindas. O pequeno menino não possuía muita experiência de vida. Mais da metade de sua vida foi dentro de uma casa por conta daquele inverno rigoroso.
Mas agora ele estava fora de casa, sorria como se aquele momento nunca fosse acabar. Esbaldava-se com as outras crianças que também foram acompanhar seus pais no trabalho.
Seu pai era professor e carpinteiro nos horários vagos. Um verdadeiro gênio, mas que não possuiu muitas oportunidades para melhorar de vida. Aquela sociedade, na opinião de seu pai, era bastante injusta. Nunca poderia melhorar a condição de vida de forma satisfatória, pois tudo era em prol da segurança.
Mais da metade de seu salário era destinada a impostos, até mesmo o homem mais bem sucedido era pobre, comparado ao imenso forte em que viviam os damasos com os prodígios.
As notícias corriam em pequenos jornais, os papeis estavam um pouco borrados, a tinta estava falhando, mas era de se esperar em uma época como aquela. Mais um ato de loucura fora feito pelos damasos. Ele se perguntava se era justo aqueles homens, que pareciam mais crianças teimosas, comandarem um reino, tão prejudicado pelas guerras.
– Talvez seja preciso mudar essa ordem já defasada.
– Que blasfêmia! – Gritou um dos professores que estava sentado ao seu lado. – Está duvidando da sabedoria dos deuses?
– Não disse nada, só pensei alto.
– Pois aviso-lhe que é melhor parar de pensar, meu caro. Sua alma agradece.
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Anjo da Água
FantasyEm meio aos escombros de uma guerra, são as crianças que carregam o fardo de seus ascendentes. Elas são as únicas capazes de transformar uma centelha em uma erupção. Possuem o potencial de iniciar uma revolução, mas também podem trazer o apocalipse...