Capítulo 3

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Toquei o interfone.

- Boa tarde, em que podemos ajudar?-alguém que parecia ser a secretária respondeu, do outro lado da linha.

- Ah... Eu vim para uma entrevista de emprego com Monique Torres.

- Me desculpe, qual é o seu nome? - a tal secretária perguntou.

- Maria Gabriela Souza Pimenta. - falei.

- OK, sua entrevista está marcada, Monique está esperando por você.

Logo em seguida, o portão se abriu automaticamente. Comecei a caminhar pátio adentro, sem saber ao certo o que fazer. Bati suavemente na enorme porta de madeira. Um mordomo todo engravatado a abriu para mim e me desejou boa tarde.

- Boa tarde para você também. Pode me levar aonde a Monique está me aguardando para a entrevista? - solicitei.

- Claro. A propósito, meu nome é Antônio. Você é Maria Gabriela, não?

- É... Pelo jeito, todos aqui já sabiam que eu viria, hein?

- Pois vá se acostumando, querida. Aqui, as notícias correm bem rápido. Pronto, chegamos, esse é o escritório da Monique.

- Muito obrigada, senhor Antônio. - agradeci ao mordomo e, logo em seguida, bati na porta do escritório com tanta suavidade quanto havia batido na primeira. Monique parecia estar ocupada falando ao telefone, mas, mesmo assim, me mandou entrar. Assim que o fiz, ela desligou o telefone e pediu que eu me sentasse.

- Então, você é Maria Gabriela, não é?

- Sim, senhora. A propósito, muito obrigada por ter me recebido.

- Hum... OK. Então, trouxe o currículo?

Aí é que eu fui me lembrar. Que mancada! Ir para uma entrevista de emprego e não levar currículo. Como eu pude me esquecer do mais importante?

- Me desculpe, dona Monique, eu me esqueci totalmente. - falei, enquanto sentia meu rosto corar de vergonha. A aquela altura, eu já tinha quase certeza de que não conseguiria o emprego.

- Ai meu Deus, eu já deveria saber! Contratar uma adolescente que nunca trabalhou não podia mesmo dar em coisa boa! Está bem, Gabriela, já que me fez perder meu precioso tempo te recebendo, pelo menos me diga um motivo para eu te contratar. - ela respondeu, sua expressão demonstrando a raiva que estava sentindo.

- Bom, eu sei fazer todas as coisas que a senhora pediu no anúncio porque eu sempre as fiz em casa. Arrumo minha casa desde os 8 anos e cozinho desde os 11. E, além disso, eu quero muito fazer faculdade e a mamãe não tem condições de pagar. Esse emprego me permitiria ajudar minha mãe e pagar a faculdade. Se a senhora me contratasse, garanto que não se arrependeria. Eu me esforçaria de verdade para dar o meu melhor... Bom, acho que já tomei muito o seu tempo. Tenha um bom dia, dona Monique.

Eu já havia me levantado e estava saindo, quando ela me chamou.

- Espera, Maria Gabriela - Monique disse. Eu parei e me virei em direção a ela. - Essa sua historinha me convenceu. Vou te contratar.

Dei aquele sorriso. Eu não sabia nem como agradecer! Tive vontade de pular de alegria ou de dar um abraço bem apertado na Monique. Ao mesmo tempo, ela parecia ser muito rígida e isso me dava medo.

- Ah, muito obrigada dona Monique, vou fazer de tudo para não decepcioná-la!

- É bom mesmo que faça. Sente-se, temos muitas coisas a conversar. Primeiramente, você deve acordar todos os dias às 7:00 horas em ponto, nem um minuto a mais, pois eu gosto de me levantar às oito e, quando eu me levantar, quero que a mesa esteja posta com o meu café da manhã. Esta casa é muito grande e os pátios são muito extensos, por isso, uma faxineira virá ajuda-la com a limpeza três vezes na semana. Você vai morar aqui e será dispensada apenas no sábado a noite, tendo que estar de volta na segunda feira de manhã, às sete. Você irá receber 8 salários mínimos por mês, mas desde já, irá receber isso de acordo com o salário do próximo ano, afinal, já estamos em dezembro. Você me disse por telefone que o seu aniversário de 18 anos é amanhã, não é?

Balancei a cabeça afirmativamente como resposta.

- Hum, ok, volte amanhã para que eu assine sua carteira. E traga suas malas, pois amanhã já será seu primeiro dia.

- Certo, dona Monique. Mas eu tenho uma pergunta. - falei

- Pergunte.

- Você deixaria eu ir para a faculdade? É que isso é muito importante para mim.

- Eu não a proibiria de fazer isso. Mas apenas a noite, de manhã e a tarde, preciso de você aqui.

Eu sorri como agradecimento. Ela ficou me encarando por alguns instantes, e, só depois, disse:

- Antes de você ir, quero que conheça meus filhos. Antônio! - Monique chamou. Logo depois, começou a tocar um sininho para que ele a escutasse. Eu não podia acreditar! Ela usava um sino para chamar o mordomo, como se ele fosse um animal. Será que as outras madames também faziam aquilo?

Quando Antônio finalmente apareceu, ela disse:

- Antônio, pode por favor chamar meus filhos?

- Claro, dona Monique - ele respondeu, e saiu em seguida.

Quando ela disse "filhos" , achei que apareceriam na minha frente duas criancinhas metidas. Me enganei. Os filhos dela já eram adultos. Eram mais velhos do que eu, com certeza. Um rapaz e uma moça. Os dois eram lindos, se percebia de longe que eram cheios da grana.

- Queridos, quero que conheçam a nossa nova empregada, Maria Gabriela - Ela disse aos dois, poucos segundos depois de eles surgirem na porta do escritório onde estávamos.

- Prazer - o rapaz me disse.

- Hum - Monique resmungou, deixando na cara que não havia gostado do filho dela ter me cumprimentado. - Maria Gabriela, esses são meus gêmeos, Gabriel e Giulia. Agora podem ir, queridos, voltem a fazer o que estavam fazendo antes.

A garota me olhou com desdém, virou a cara e saiu sem dizer nada. O rapaz sorriu, acenou para mim e também saiu logo em seguida. Os dois eram loiros e de olhos azuis. Pareciam europeus. Confesso que, desde aquele momento, aquele garoto me chamou atenção... Mas, que chance eu tinha, sendo eu uma mísera empregada, enquanto ele era milionário, filho de uma socialite famosíssima?

- Chegue aqui amanhã bem cedo - Monique falou, fazendo aqueles pensamentos se dispersarem da minha mente - Você já começa a trabalhar amanhã. Você veio para cá de que maneira? Ônibus?

- Foi. Peguei um ônibus de viagem e desci na rodoviária e, em seguida, ainda peguei um ônibus comum e desci aqui perto.

- OK, vou pedir nosso motorista para levar você a rodoviária.

Agradeci a Deus por ela ter me oferecido carona, afinal, eu não tinha um centavo para chegar até a rodoviária, mesmo.

- Obrigada, dona Monique. - agradeci. Eu já estava saindo do escritório quando ela me chamou novamente.

- Espera, Gabriela, só mais uma coisa.

- O que? - perguntei.

- Qual é o nome da sua mãe?

Não entendi o por que daquela pergunta. Que diferença isso fazia? É claro que eu não questionei os motivos dela. Apenas respondi:

- É Helena.

- Ah. - ela respondeu, simplesmente. A cara dela não ficou das melhores com o que eu havia dito. Parecia ter ficado com raiva, frustrada e confusa. Não entendi um pi, mas ignorei. Achei que nada daquilo era importante. Mal sabia eu o grau de importância daquela pergunta. Na realidade, era muito mais importante do que pensei. Muito, muito mais.

(Quase) Perfeita - PAUSADAOnde histórias criam vida. Descubra agora