A Máquina Das Segundas Chances - C.D

Quem nada é peixe

-Quando vai ser a próxima viagem? Podemos ir para um show da Nirvana?! -Jessie disse quando já havíamos nos instalado no porão do quarto de Morgan, pelo visto estava com o mesmo pensamento de Nash.

-A máquina só volta três dias, sua tonta. -Morgan falou revirando os olhos.

-Desculpa...Eu não sabia...

-Nossa Morgan, pra quê ser tão grossa? Ela acabou de chegar.-Falei, e ela só revirou os olhos mais ainda murmurando um "Affe"

-Bem que nós poderíamos ir no Lollapalooza né? O último show foi ontem, e como a máquina volta três dias... -Nash disse, uma ideia boa, pensei. Jessie também se animou com a ideia, apenas Morgan que não parecia contente com aquilo.
Enquanto Jessie e Nash conversavam, eu fui até Morgan.

-O que foi? -Perguntei.

-Nada.

-Morgan.

-O que?! -Ela disse irritada.

-Quem nada é peixe.

Ela riu.

-Para de ser babaca, por favor.

-Eu tento parar se você me contar o que tá acontecendo.

Ela respirou fundo, olhou para o teto, suspirou, olhou para o chão e novamente voltou seus olhos para mim, e disse quase como um desabafo:

-É estranho, sabe?

-O que? -Perguntei, entusiasmado pelo fato dela finalmente se abrir comigo para alguma coisa.

-Essa era a minha experiência, era meu, só meu, meu segredo, minha máquina, meu projeto, era meu, e agora é seu, da minha irmã irritante e de um gatinho metido a besta. -Ela disse indo até a pequena janela do porão.

-Pensa pelo lado positivo, agora você tem muitas mentes para te ajudar. Quatro cabeças pensam melhor do que só uma. -Falei à seguindo.

-Jessie tem uma minhoca no lugar do cérebro. E Nash? O HD dele deve ser feito de mulheres nuas e carros de marca. -Ela disse.

-HD?

-É, tipo, eu acredito que as pessoas são como computadores, elas tem um HD, uma memória interna, e aquela memória que você pode apagar facilmente quando quiser, um software, um Hardware, exatamente como um computador. A diferença é que o dos humanos é mais potente e ninguém sabe aproveita-lo direito. -Ela disse me deixando impressionado. Foi até a escada que levava ao seu quarto e subiu. Fui atrás dela.

-E o que a senhorita tem a dizer sobre o meu HD? -Perguntei subindo as escadas.

-Ele é bem aproveitado, mas falta algo...Que eu ainda não sei dizer o que é. -Ela disse esboçando um pequeno sorriso ao fechar a porta do porão -Mas estou animada em descobrir.

Sorri também. 

O clima estava ficando estranho, de um jeito bom.

-Olha, eu entendo que é seu projeto, mas acho que se todo mundo se envolveu nisso, deve ter um motivo não é? Talvez seja pra ser.-Falei.

-Talvez seja, talvez não, talvez nós nunca saberemos. -Ela disse passando os braços sobre meu pescoço.

-Afinal, o que nós sabemos? -Falei, colocando a mão em sua cintura.

-Bom, eu sei que eu quero dançar com você, aqui e agora. -Ela disse novamente com o sorriso meigo mas com um toque involuntário de malícia. Pegou o celular e colocou uma música pra tocar.

-Aqui e agora?

-Uhum...-Ela começou a balançar a cintura, como uma dança do ventre, no ritmo da música.

-Se solta, Dallas! -Disse mexendo minhas mãos.

Meu deus, seu sorriso era tão lindo e contagiante.

-Eu não posso dançar, meu ritmo vai te seduzir. -Brinquei, ela riu jogando a cabeça para trás.

-Você não disse que ia parar de ser babaca?

-Eu disse que ia tentar e pra sua sorte, eu não consigo.

-Ah é?! -Ela disse, esticando o braço e depois voltando girando fazendo nossos corpos colidirem - Que sorte a minha.

Íamos para a esquerda, direita, ela me guiava, e quando notei, estávamos dançando naquele quarto rosa de menininha que não tinha nada a ver com ela.

Algo nasceu alí, nós não éramos mais só primos distantes obrigados a conviver juntos, nós éramos mais que isso.
Éramos amigos.

~Continua?~