Poderíamos cair + além (2.º Temporada)

Capítulo Extra 2. Pov. Christopher ✦

E tudo volta a isto

Este é um momento ordinário

E agora Se desprendeu o céu e nos cortou

e agora eu não posso perdoar

ou esquecer o que nós fizemos

o silencio se tornou o fim de nós-

David Hodges

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                     Ainda posso me lembrar muito nitidamente a sensação de tê-la ainda nos meu braços, respirando contra minha pele e me fazendo cócegas, me lembro do seu cheiro invadindo todos os meus pensamentos como uma fumaça nebulosa. Quando despertei, aquele dia a exatos dois meses atrás tudo tinha se transformado, e eu soube que mais uma vez as coisas estavam perdidas momentaneamente em um limbo que eu não tinha acesso.

— Você realmente foi embora. Você foi e não me deu a chance de dizer adeus. Maldita seja você Dulce. — Amassei o bilhete que ela tinha me deixado em cima da escrivaninha e vi o café da manhã preparado por ela para mim como se pedisse desculpas por não poder ficar, como se tentasse remediar algo irremediável. Ela fez o certo, repeti para mim mil vezes. Será melhor para ela, para nós... Dei um tapa na minha testa e sai da cama tropeçando nas minhas roupas espalhadas pelo chão. Vesti o mais rápido que pude a camisa social com o terno preto e os sapatos brilhantes e subi no carro abotoando aquilo tudo de qualquer jeito enquanto uma mão se prendia ao volante. Enquanto passava rapidamente por árvores que ficavam atrás tudo parecia em câmera lenta, como aquela droga não ia mais rápido?

                Mais uma vez ela partia para longe, mais uma vez era eu naquele aeroporto atrás dela. Sempre quis saber por que nossa história tem essas pequenas coisas que se repetem várias vezes, coisas que parecem fugir do nosso controle embora eu saiba, ambos somos culpados, terrivelmente culpados. O avião tinha partido e eu não poderia fazer nada a respeito, ela estava longe do meu alcance como nós tínhamos planejado, como eu tinha lhe dito.

              Me sentei no chão olhando os móveis cobertos por lençóis brancos que sabiam que sua dona levaria algum tempo para voltar. Permanecia segurando as chaves da casa de Dulce pensando sobre o que fazer. Eu a tinha afastado e precisava concertar isto. Não há afastei por que queria, afastei por falta de opção. O bebê de Natalia, no caso meu também, não era para existir. Todas as vezes que pensava isto me sentia horrível, que pessoa nojenta e egoísta estava me tornando. Ele existe e devo ser o melhor que ele pode ter do modo que meu pai não foi, do modo como eu sonhei em ser e além do mais precisava trazer aquela pessoa completamente e ridiculamente insuportável de volta pra mim, eu pegaria o primeiro voo e logo tudo estaria resolvido. Mais uma vez nós concertaríamos o quebra-cabeça e colocaríamos as peças faltantes, pois assim é que tinha que ser. A porta se abriu com um estralo e por um momento eu pensei que aquela garota houvesse voltado atrás de sua decisão.

— Dul... — Me levantei. Eu devia ter um péssimo aspecto.

— Christopher... Não esperava encontra-lo aqui. Dulce se esqueceu de levar o saco de ração da Triana. — Dona Blanca fechou a porta e caminhou com uma sacola nas mãos rumo à cozinha quando deu meia volta e parou a minha frente. A decepção eu sentia na ponta da língua parecendo bastante familiar. — Christopher eu gostaria de lhe pedir algo, eu sei que não tenho este direito.

— Por que está tão relutante? Estou aqui, pode me dizer. — Cruzei os braços na frente do peito.

— Sabe que eu nunca tive nada contra você Christopher, na verdade eu gosto muito da sua mãe, somos amigas, passamos por muitas coisas juntas enquanto aguardávamos vocês voltarem de cada viagem de turnê, de casa gravação de novela, de cada photoshoot. Às vezes me sentia aliviada porque sabia que você estava lá por ela, para cuidar dela.