Only a Day

André Schürrle - Parte 2

- Eu preciso ir. - A voz de Amelia ecoou no era para ser o quarto deles.

André não sabia o que tinha acontecido, nem como ele tinha deixado aquela garota escapar de suas mãos. Talvez fossem as mudanças, ele pensava. Mas ele sabia que tinham sido tantos outros motivos, sua ausência, a comodidade, a falta de prazer, as diversas brigas que antes não existiam, mas que passaram a existir. E isso foi desgastando não só a mulher que ele mais temia em machucar, mas ele também.

- Acho melhor Keks ficar com você. - Ela disse engolindo em seco, enquanto respirava fundo para que nenhuma lágrima rolasse pelo seu rosto.- Ele é mais seu do que meu.

- Você ainda pode ficar comigo. - Ela ouviu a voz rouca de André e mais uma vez pensou se aquela era a decisão certa.- Podemos tentar novamente. - Ele caminhou até ela e pegou em suas mãos.- Construímos uma vida juntos, Amy. Primeiro em Londres, depois em Wolfsburg e agora aqui, em Dortmund.

- Estou esgotada, André. - Ela sussurrou.- Esses foram os melhores anos da minha vida, mas parece que eu tenho vivido a sua vida, os seus sonhos.

- Podemos fazer o que você quiser, ir para onde você quiser. - Ele falou acariciando a face da garota, mas Amelia sabia que as coisas não funcionavam daquele jeito.

- Não torne isso mais difícil do que está sendo... Você sabe que eu te amo. - Ela falou baixinho e olhou para suas mãos entrelaçadas, enquanto sentia algumas lágrimas rolarem por sua bochecha.- Você encontrou o que te faz feliz, o que você poderia morrer fazendo, mas eu não. Eu preciso disso, desse tempo separada de você. Preciso me reencontrar.

Amelia retirou suas mãos das de André e olhou ele por mais alguns instantes, como se pudesse guardar cada detalhe. Ela sorriu tristemente e deu às costas à ele, caminhando em direção a porta. Pegou a sua última bolsa, a caixa de transporte com Himmel e acariciou mais uma vez a cabecinha de Keks, antes de colocar os pés para fora do apartamento sem nem olhar para trás. André ficou parado, olhando para a porta por onde a garota que ele amava tinha saído, desejando ardentemente que aquilo não passasse de um sonho. Contudo, quando escureceu, ele percebeu que aquilo era real e que Amelia não voltaria para casa.

***

Já estava quase na hora do jogo quando Amelia colocou uma vasilha de pipoca e um copo de suco na mesinha de centro que ficava de frente para Tv. Ela ainda estava meio inerte por causa do anel de noivado que tinha encontrado. Imaginava e criava situações em que ele pediria sua mão, mas não conseguia imaginar sua resposta diante de tal pedido.

Ela o amava, claro. No entanto, por quê a pressa? Não estavam tão bem? Ela não era a mesma garota de três anos atrás, ou de oito meses atrás, claro que não. Ela sabia o que queria na vida profissional e o que esperava do futuro. Mas André era a escolha certa? Ele era o homem que ela imaginava passar o resto da sua vida ao seu lado? Porque ela não fazia o tipo de pessoa que quebrava promessas e um divórcio estava fora de questão.

Era certo ter medo de se casar com um homem que ela supostamente amava? Não deveria ser algo tão fácil e simples como mascar chicletes ou abrir e fechar os olhos?

Talvez eles estivessem casados, claro que não aos olhos da sociedade. Mas ela adorava passar os dias com ele e eles se davam maravilhosamente bem. Apesar de não morarem juntos, eles já tinham feito isso antes e funcionava. Por que, então, colocar um anel e gastar dinheiro com vestidos, festas e decorações? Não deveria ser tudo simples? No final, iria ser só eles dois mesmo.

Esses pensamentos estavam enlouquecendo-a e parecia que não havia oxigênio suficiente naquele apartamento para ela. Faltava menos de 15 minutos para o jogo, quando ela pegou seu casaco e saiu pelas ruas de Dortmund. O vento gelado lhe acalmou de certa forma, mas não o bastante e isso a levou para um pequeno, mas aconchegante, pubzinho que ficava a algumas quadras do apartamento de André.