David havia pedido a terceira dose de whisky quando Ned apareceu no recinto. O lenhador estava suado devido aos últimos serviços prestados e comprimentou vários conhecidos até chegar ao balcão, pedindo uma garrafa de rum com entusiasmo.
David tomou sua dose num só gole e se aproximou do irlandes. Uma leve tontura o acometeu, mas nada que tirasse totalmente sua lucidez.
- Boa tarde, Ned.
- Ora, ora, chefia! Meio cedo pra beber, não? Não deveria estar em serviço?
- E estou. - mentiu - Preciso dos seus serviços.
- Ih, chefia. Já encerrei meu expediente. - Ned diz enquanto tirava a tampa da garrafa com os dentes - Se ficar, pode ganhar mais alguns trocados como ontem.
Ned piscou para o homem se afastando do balcão. David o assistiu abrir os braços para agarrar uma das dançarinas. David bateu os dedos no balcão com impaciência e foi atras do homem para uma última jogada.
Ned contava uma piada qualquer para um grupo de desocupados no salão, sendo interrompido por David que o puxou de leve para sussurrar ao seu ouvido:
- Se mudar de ideia, tenho contatos nas docas da Flórida até Jersey e poderá partir para sua pátria por um preço camarada. Esperarei dez minutos lá fora.
Dito isto, David deixou a taverna e puxou um pedaço de fumo para mascar. Não demorou muito até o lenhador surgir.
- Certo, chefia. - Ele disse - Qual é o trabalho?
[...]
Margareth e Judith cavalgaram pelas terras cedidas de Solomon. Pequenas residencias disputavam espaço, compartilhando colheitas de subsistência. Aquela hora, a maioria das pessoas estavam nos campos de algodão de Solomon.
- Ouvi rumores sobre você, garota. - Judith disse - Creio que não dos melhores.
- Sobre eu ter me tornado uma desonra para o meu pai e me transformado numa dançarina do Tota? - Ela pergunta - Meias verdades.
- Então não se deita por dinheiro?
- Oh, por Deus! Não. - ri Margareth - Nem todas as mulheres independentes são prostitutas. Aliás, essa relação entre independencia feminina e prostituição é deveras antiquada.
- Desculpe. - Judith diz parecendo confusa - Não quis te ofender.
- Não ofendeu. - Margareth sorri para ela.
As plantações de Solomon tomaram conta da paisagem, vastas e prósperas. Margareth lembrou da infância naquelas terras, correndo livre pelos campos, cavalgando e se escondendo de sua governanta. Sua mãe sempre a levava para tomar chá, próximo a um lago. A frequência diminuiu quando sua mãe adoeceu e em seus estágios terminais, o chá era servido as dezesseis horas em seu quarto.
Sentia saudades daqueles tempos, agora quase imemoriais. Quando ela voltou o olhar para os trabalhadores das plantações, lembrou-se do motivo que a levara a abandonar essa vida.
Era injusto. Era desumano. Ela nunca mais participaria disso.A sede das terras surgiu no fim da estrada. Um casarão colonial de dois andares e inúmeros quartos vazios. Um grande celeiro era abastecido e alguns animais pastoreavam livremente. Margareth reconheceu a figura do pai ao longe. Solomon Mallory estava contemplando sua propriedade com orgulho, apoiado numa bengala envernizada no hall de entrada do casarão. O homem senil também pareceu reconhecer a filha ao longe, pois deixou transparecer um desconforto em sua postura.
Margareth tomou a dianteira com seu cavalo, mas dois peões de seu pai, impediram-na de continuar.
- Desculpe, senhorita Mallory. - disse um deles - Não pode passar. Ordens do patrão.
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A Ordem de Caronte
Mystery / ThrillerA narrativa se passa na antiga capital dos Estados Confederados: Montgomery, Alabama. Alguns negros começaram a desaparecer nos arredores da cidade. A suspeita recai principalmente num importante latifundiário da região, que após o final da Guerra C...