Acordei atordoada com os primeiros raios de sol incomodando minhas vistas, eu estava deitada no chão de pedra frio e sentia como se cada parte do meu corpo doesse. Me acostumei com a claridade e aos poucos absorvi a cena ao meu redor. Havia filetes de fumaça cinzenta subindo aos céus, espalhados por toda a cidade. Lembrei de nossa luta na noite anterior e de Pedro levando uma espadada da mulher demônio. Me levantei rápido demais e quase caí no chão, minha cabeça rodando e minhas pernas tremendo como se não conseguissem me sustentar. Após alguns segundos me forcei a andar, procurei por Pedro, ele estava a poucos metros de mim, deitado no chão totalmente inerte.
Cobri a distância que nos separava em alguns segundos, me ajoelhei perto dele, temendo descobrir se estava vivo ou morto. Visualizei o corte no seu tórax, através da linha reta cortada na sua camiseta. Notei que ele respirava e uma onda de alívio percorreu meu corpo, levantei um pouco sua camiseta instintivamente, havia apenas uma linha fina na sua pele, cercada por um tom de vermelho intenso. Não sabia como ele havia sobrevivido, mas ainda bem que havia. Sorri e me deixei cair de bunda no chão, descarregando a tensão que havia se instalado em meus ombros. Tentei acordá-lo dando leves sacudidelas, mas demoraram alguns longos minutos até que Pedro despertasse.
— Alexa! — ele levantou exasperado. — Graças aos céus você está bem.
Ele pôs a mão no peito como se houvesse lembrado do corte. Se levantou com alguma dificuldade, no que foi ajudado por mim. Levantou sua camiseta e passou o dedo pela região avermelhada em seu peito, olhando de maneira incrédula.
— Co-co-como foi q-que eu so-sobrevivi? — gaguejou, ainda tinha a expressão embasbacada na cara.
— Eu não sei — revelei a verdade —, mas graças a Shai por isso.
Ele deu seu primeiro sorriso luminoso daquele dia, assentiu levemente com a cabeça e me abraçou.
— Pensei que morreríamos naquela hora, nunca havia visto nada como aquele demônio antes; como foi que você a derrotou?
— Não a derrotei — Pedro me encarou curioso. — Na verdade, após você levar aquele golpe de espada e cair desmaiado, eu tentei atacá-la, mas ela me derrotou com extrema facilidade, quando pensei que ela iria acabar o serviço, houve uma explosão vermelha no céu e ela simplesmente foi embora.
Pedro me olhou surpreso. Assim como para ele, era um enorme mistério para mim o motivo de termos sobrevivido, contudo, quem era eu para reclamar? Começamos a caminhar instintivamente para a igreja, que tinha as portas escancaradas. Entramos, mas havia um silêncio profundo ali, quase sinistro.
— Olá, tem alguém aí? — minha voz saiu mais estridente do que o normal, era um sinal claro de que eu estava incomodada, pra não dizer com medo.
Não obtivemos resposta, então continuamos a avançar, muito lentamente. Haviam resquícios da batalha anterior ainda presentes; bancos de madeira haviam se quebrado em várias partes, deixando pedaços para todas as direções. Havia algo seco no chão de pedra, pequenos círculos vermelhos que agora estavam escurecidos, parecia sangue. Eu e Pedro nos movíamos com dificuldade, era visível que não estávamos em nossa melhor forma após nossa derrota esmagadora.
— Ah! Vocês estão bem! — o estranho da noite anterior apareceu de súbito. Trajava vestes longas puramente brancas, se apoiava pesadamente numa bengala, como se estivesse machucado, e exibia um enorme olho roxo. — Qual de vocês dois foi o responsável pela nossa sobrevivência?
Expliquei brevemente o ocorrido evidenciando bem a parte de não saber por qual razão aquele demônio não havia nos matado. O homem ficou pensativo após ouvir, andando pra lá e pra cá, a carranca aumentando a cada segundo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vermilion - A sociedade das máscaras
Fantasía3° lugar no concurso de Fantasia Heroica do Concursos FantasiaBR A vida tranquila de Alexa passa por um reviravolta quando uma invasão chega à sua aldeia. Criaturas que ela nunca havia visto antes, trazem a destruição ao seu amado vilarejo, deixando...