Capítulo 34

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Bernardo

É engraçado como as coisas podem mudar de uma hora pra outra, ou como pode desandar num piscar de olhos, tudo que estava tão perfeito, pode desmoronar sem que possamos fazer algo. Abri os olhos e não encontrei o Victor na cama junto comigo, a manhã estava fria e sem ele ali tudo parecia ainda mais gelado. Tinha dormido tanto que precisei me esforçar pra lembrar que dia da semana era, estávamos num final de semana e, ao que parecia, já tinha começado com o pé esquerdo.

"Lucas ligou... Os gêmeos vão nascer e eu fui pro hospital" era o que dizia o bilhete em cima do criado mudo, poxa, ele tinha recebido a notícia e saído de casa sem nem me acordar, que espécie de revolta era aquela? Além dos pais serem pessoas muito importantes pra mim, os bebês também eram meus sobrinhos e eu queria estar presente, mas eu já tinha entendido tudo, era a forma dele me castigar pela discussão que tivemos a um mês atrás. "Já que não gosta de crianças, não precisa acompanhar o parto da minha irmã" era o que eu via oculto nas entrelinhas do bilhete e o que com certeza estaria se passando em sua cabeça.

Depois daquela nossa briga, as coisas simplesmente desandaram entre a gente, mal conversávamos e quando fazíamos, era algum assunto de extrema importância, tipo no trabalho. Eu não sabia até quando íamos continuar assim, tava mais que na cara que fazia mal pro nós dois tudo aquilo, mas nas vezes que tentamos conversar, nada tinha adiantado. Nada tirava da sua cabeça aquela idéia louca de ter filhos, adotar, sei lá, ele estava obcecado e não conseguia entender que nem todo mundo tem que compartilhar da mesma idéia. Mas fazer o que? Eu iria ver até onde aquilo iria durar.

Me vesti as pressas, escovei os dentes, tentei ao máximo parecer apresentável e corri pro hospital que eu julgava ser o certo, ele poderia pelo menos ter dito no bilhete qual era, né, pensei. Rezei pra que tudo estivesse ok e não houvesse nenhuma complicação no parto, ainda não estava na hora do nascimento, me lembrava bem da Larissa ter me falando que ainda faltavam alguns dias, mas, até onde eu sabia, era normal bebês nascerem antes do dia previsto.

No caminho até o hospital mais conhecido e competente da cidade, e que possuía uma maternidade de primeira, eu pensava um pouco naquela nossa situação. O Victor queria ter filhos, eu não queria, nossas opiniões e desejos não batiam e nós estávamos mal por isso. Tão mal que eu não via uma solução imediata sem que um de nós cedesse e, nesse caso, ceder seria um tanto quanto complicado, tanto pra mim, quanto pra ele.

Deixando de pensar em todas essas coisas, ao chegar no hospital, eu imediatamente reconheci o carro do meu marido nervosinho, vingativo e briguento no estacionamento quase vazio. Ponto pra mim, estava no lugar certo! Desci rapidamente do carro e corri pra recepção, lá me informei corretamente e assim segui em direção apontada. Encontrei a mãe do Lucas sentada sozinha na sala de espera, parecendo estar pensando e ansiosa.

-Oi tia, como estão as coisas? Já nasceram?

-O Lucas foi assistir o parto e ainda não saiu, então provavelmente não nasceram ainda. Acho que eles devem avisar. –Ela me respondeu.

-A senhora sabe se tá tudo bem? Faltavam alguns dias ainda.

-Tá sim, a bolsa estourou antes da hora, mas o médico garantiu que os três vão ficar bem.

Relaxei depois de ouvir essa resposta, tudo estava bem e iria ficar bem com eles, menos mal. Mas, olhando em volta, eu senti falta de mais uma pessoa ali, cadê meu marido?

-A senhora sabe onde está o Victor? –Voltei a perguntar a ela.

-Ele disse que ia dar uma olhada nos bebês do berçário, segue esse corredor que você vai achá-lo.

Segui o corredor indicado e logo já vi a placa indicando que o berçário está próximo. Encontrei o Victor parado atrás da tela de vidro, provavelmente observando os bebês, e poderia jurar que naquele momento ele estava pensando em roubar um, tamanha adoração. Aproximei-me bem devagar dele e o abracei por trás ali em meio ao hospital.

Quando o Amor Prevalece - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora