Capítulo: V

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"A cada respiração a situação piora. — The Terror"

Ponto de vista: Primeira Vítima

Tic...

Os sons das batidas desenfreadas do coração pareciam gritar em meus ouvidos enquanto me mantinha abaixada atrás da caçamba de lixo em uma das vielas que davam acesso a Universidade e acabavam atrapalhando no discernimento entre escutar o ambiente ao meu redor e entender o que estava, de fato, acontecendo.

O homem havia surgido misteriosamente no meio do caminho, cambaleando, parecia machucado quando me aproximei. Ele disse alguma coisa que não entendi muito bem, então ignorei o aviso mental e me curvei em sua direção para compreender o que era dito.

Contudo, qual foi a minha surpresa ao ser atacada?

Tac...

Foi em um ato de sobrevivência que joguei meu corpo para trás, afastando-me do homem que apresentava estar machucado segundos atrás até o ver se erguer em uma velocidade impressionante.

Contei até cinco para então começar a correr.

Tic...

Esta era uma das muitas vezes a qual agradecia mentalmente por não gostar ou ter o costume de utilizar saltos altos.

Parecia que estava correndo há muito tempo quando entrei em uma das vielas que rodeavam o ambiente próximo a Universidade e me escondi atrás de uma caçamba de lixo, sentando-me no chão sujo enquanto meu corpo tremia devido a alta dose de adrenalina injetada na corrente sanguínea.

Tac...

Peguei meu celular e desbloqueei a tela, discando o número famoso para emergências. Não demorou para que eu conseguisse escutar o "911, qual a sua emergência?".

Minha língua parecia enrolada na boca.

Não consigo lembrar as palavras exatas utilizadas.

Talvez tenha sido um: "Tem um homem me perseguindo." ou "Por favor, me ajude!".

Tic...

O som da garrafa de vidro rolando próximo ao meu esconderijo temporário aumentou o ritmo cardíaco, fazendo com que minhas mãos fossem até a região da boca e a tampassem para impedir que qualquer som escapasse por entre os lábios e entregassem minha localização atual.

A respiração se tornou pesada quando o som dos passos pisando forte sobre algumas poças se fizeram presentes, forçando-me a tentar aguçar a audição em um nível quase impossível.

Tac...

Precisei dizer um "Ele irá me matar..." para a policial do outro lado da linha antes de encerrar a ligação e esconder o aparelho telefônico no bolso frontal da calça que vestia.

Os passos pareciam cada vez mais próximos de onde estava abrigada.

Ergui-me do chão e permaneci agachada.

O tempo parecia eterno. O pesadelo não chegava ao fim.

Tic...

Foi o instinto de sobrevivência que me forçou a esquecer o esconderijo, aparentemente, seguro e me colocou de pé sobre as duas pernas dormentes, logo voltando a correr em disparada para longe daquela viela.

Eu não olhei para trás.

Eu não olharia para trás.

Não agora.

Não quando um erro pode custar absolutamente tudo.

Tac...

Em algum momento, minha respiração falhou e correr se tornou uma tarefa árdua, obrigando-me a desacelerar até cessar com a corrida.

Curvei o corpo levemente para a frente, apoiando as mãos sobre os joelhos, sentindo meus batimentos cardíacos aumentarem cada vez mais.

Respirei fundo.

Os pulmões arderam.

Os olhos lacrimejaram.

Tic...

Não sei ao certo por quanto tempo fiquei naquela posição, apoiando o corpo curvado nas mãos em cima dos joelhos trêmulos, mas consigo lembrar que as costas começaram a arder devido a dor e incomodo da posição desconfortável. Foi a dor intensa que me fizera gemer de dor quando tornei a corrigir a postura.

Os batimentos estavam mais regulares.

Tac...

Expirei e inspirei profundamente durante o tempo em que buscava forças e coragem para olhar, pela primeira vez, para trás.

A sensação de estar sendo observada começava a crescer de maneira desesperada, trazendo a agonia consigo.

Quando a coragem se fez presente, o ato não foi completado, pois fui surpreendida por um braço rodeando meu pescoço, completando o que os lutadores chamam de "mata leão", ao mesmo tempo em que um pano com um cheiro forte era colocado sobre o meu rosto.

Todas as vezes em que tentei me desvencilhar do golpe, ele apertava mais a área, mantendo-me imobilizada.

O ar finalmente faltou.

Tic...

Eu odeio a escuridão.

Tac...

A escuridão trás o medo consigo.

O medo trás o pavor que paralisa o corpo e a alma.

Tic...

Um pavor que paralisa o corpo e a alma deixa aberturas para que a insegurança se espreite por entre os espaços deixados, trazendo desespero e então doenças como síndrome do pânico, ansiedade e depressão.

Talvez seja errado da minha parte dizer que apenas o pavor pode ocasionar tamanhas complicações mentais.

Tac...

Raramente estou errada.

Terror Psicológico [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora