Capítulo: VIII

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"Comecei a suspeitar que ela é muito mais importante para seus planos do que me levou a acreditar. — O Mundo Sombrio De Sabrina"

Ponto de Vista: Assassino

Coloquei a mão esquerda, protegida pelas luvas pretas, sobre a trava da porta e a pressionei, abrindo a porta da lanchonete e ouvindo aquele som estridente do sino acima do batente ecoar pelo espaço, logo adentrando no recinto acolhedor.

A temperatura ambiente do local encontrava-se quente. Em contrapartida do clima externo. A previsão do tempo daquela semana havia avisado da possibilidade de esfriar a ponto de gear. Mas, o céu ainda não havia se tornado cinza. E também existia a probabilidade do frio ser temporário, algo que durasse apenas um ou dois dias, até o sol e o inferno voltarem a tomar conta da superfície terrestre.

Era nessas horas que eu atacava.

Caminhei até uma das mesas vazias no fundo do local, mas que estrategicamente me possibilitava ver a rua através das janelas enormes e dava acesso a saída dos fundos.

Apoiei os braços sobre a superfície, aparentemente, limpa da mesa, não demorando para cruzar os dedos das mãos entre si ao mesmo tempo em que analisava os rostos das poucas pessoas ao meu redor.

Uma das garçonetes caminhou até a mesa em que estava e colocou o cardápio sobre a madeira, próximo a minha mão esquerda. Em seguida, ela partiu para atender outra mesa que solicitava sua presença.

Ela ficaria uma graça em minha coleção.

Todavia, não seria perfeita. Não como as outras.

Decidi abrir o cardápio e olhei página por página, apesar de saber todos os pedidos que a lanchonete fazia. Eu odiava o lugar e ainda assim não deixava de aparecer uma vez por semana.

Quando a jovem garota decidiu aparecer novamente, pedi uma xícara de café forte, como todas as vezes. Ela sorriu gentil e partiu, deixando o cardápio assim que coloquei a mão sobre o mesmo.

Não houve tempo para que minha mente criasse novas possibilidade até o som do sino acima da porta se apresentasse e anunciasse a chegada de um novo cliente. Ergui meus olhos e sorri ao ver a mulher, finalmente, aparecer.

Observei a mulher andar de maneira confiante em meio ao corredor pouco movimentado da lanchonete naquele horário de início da madrugada, atraindo olhares luxuriosos dos homens presentes e de inveja de algumas mulheres mais velhas. Seus cabelos loiros se iluminavam e pareciam cegar momentaneamente, apesar da ausência do Sol, dando-lhe a aparência de um anjo a mulher infernal. O som dos seus saltos tocando o chão cessou assim que ela parou próximo a mesa e sentou na cadeira disponível a minha frente, focando seus olhos azuis nos meus castanhos, quase pretos de tão escuros.

Ela representava uma calmaria inexistente e eu um caos comprovado.

- Você está atrasada. - Constatei pacientemente.

- Você está adiantado na verdade. - Retrucou ela assim que conseguiu se acomodar, deixando a bolsa preta da Prada que eu, confesso, não notei antes no apoio da cadeira e então encostando suas costas no encosto, mostrando toda a tranquilidade que era nítido que não havia ali.

O contato entre nossos olhos se perdeu naquele momento.

Ela me temia. E isso era muito bom.

Extremamente bom.

- Quer alguma coisa? – Perguntei com calma, apontando para o cardápio.

- Não, estou sem fome. – A resposta foi simples, quase automática.

Ela iria falar alguma coisa quando ergui o indicador esquerdo em sua direção, fazendo-a se calar.

- Obrigado. – Agradeci a garçonete quando ela voltou e colocou minha xícara de café a minha frente, se retirando assim que minha companheira agradeceu pela gentileza e a dispensou.

Segurei a xícara com firmeza antes de assoprar o conteúdo levemente e tomar um gole pequeno, ignorando o calor extremo em contato com a superfície sensível do interior da minha boca e então sistema digestivo.

Tornei a colocar a xícara sobre a mesa e olhei a mulher com atenção.

- Quais as novidades? – Perguntei com curiosidade, deixando um sorriso gentil surgir no canto de meus lábios.

- Nenhuma, além do Noah continuar me enlouquecendo. – Ela respondeu tranquila, balançando os ombros. Apenas arqueei as sobrancelhas, desacreditado.

Desde quando o Detetive não fazia nada surpreendente?

- Na verdade, ele comprou um quadro e se trancou em sua sala o restante do dia. – Ela parecia pensativa e, por isso, não me pronunciei. – Quando fui embora, ele ainda estava lá dentro, trancado, protegido. – Os olhos dela se estreitaram minimamente. – Mas, ele ainda não tem nenhuma informação útil quanto ao novo caso. – Murmurou. - Garotas desaparecidas. Corpos descartados sempre há meia-noite. – O suspiro pesado demonstrava o cansaço atrás de alguém que estava a sua frente, mas a verdade parecia ser ignorada com esmero pela bela mulher.

Um dia ela teria que pagar por cada um de seus pecados e não seria eu a acelerar o processo.

Conversar com ela era sempre interessante, pois, inconscientemente, a Detetive me passava detalhes do andamento da investigação e me ajudava a deixar o jogo cada vez mais interessante. Sem contar que ela me prevenia de cair em uma armadilha de Noah.

Ouvi o desabafo sobre os colegas de trabalho que a tratavam com frieza desde o incidente naquele caso maldito anos atrás; na loucura ignorada por todos de Noah que era chamado de gênio por isso; na falta de incentivo que ela tinha apesar de ter um dos melhores índices de casos resolvidos do Departamento; no fato da sexta vitima ser como as outras e não ter pista alguma a ser seguida; no impasse que a Policia estava sobre o crime; no peso que haviam colocado sobre os ombros de Noah como se ele fosse um herói e não contrário; no fato de que o sequestro de Jasmine estar deixando Noah cada vez mais vulnerável e irresponsável, obrigando-a a ser babá do homem barbudo.

Eu disse que era interessante, tanto que acabei rindo quando ela parou de falar.

- Calma. - Pedi assim que ela me encarou irritada. – Garanto que escutei cada uma das palavras ditas com tanto rancor, mas é engraçado notar quão irritada você fica por qualquer coisa que envolva o Detetive Noah Bärwald. Você parece nutrir um sentimento pelo homem que jura odiar e eu não sei se devo sentir ciúmes por isso ou apenas aguardar para acompanhar a cena do próximo capitulo desse livro. – Expliquei.

- Eu o odeio. – Ela fez questão de deixar aquilo claro. – Por mim, ele estaria morto ou preso. – A seriedade em sua voz me deixou surpreso.

- Não parece. – Retruquei.

- Tenho que ir. – Ela apenas se levantou, pegou sua bolsa e saiu da lanchonete, como se nunca tivesse estado ali.

A atitude me deixou curioso, afinal o que ela planejava?

Terror Psicológico [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora