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A professora de ballet colocou a perna em cima da barra, deitando o tronco sobre a perna e abraçando os pés logo em seguida. Observei todas as garotas da sala fazerem a mesma coisa, até que meus olhos caíram no garoto a minha frente.

Além de mim, Sai era o único garoto da aula de ballet, antes eram três, ele, eu e Sasuke. Os dois tinham o mesmo tamanho e por um segundo eu vi Sasuke ali no lugar dele, fazendo os movimentos tão graciosamente quanto uma pena.

- Ei, pinto pequeno, tudo bem com você ? - Sai disse baixinho para que a professora não escutasse.

- Tudo. - Minha voz saiu quase que inaudível enquanto colocava a perna na barra e me deitava sobre ela.

- Você teve outro pesadelo com ele, não foi?

A professora mudou de posição, segurando na barra e mantendo a perna esticada no ar.

- Sim, dormi apenas duas horas. - falei imitando a professora assim como sai.

- Naruto! A apresentação é hoje de tarde, você precisa está descansado.

Mudou de posição outra vez, levantando a mão esquerda e apoiando o pé esquerdo no joelho da perna direita.

- Eu sei disso, mas desde que ele morreu tenho pesadelos horríveis. E eles acontecem apenas de noite, é muito estranho, como se eu sentisse a presença dele em cada pesadelo.

Cruzou as pernas e logo em seguida as separou. E enquanto a imitava percebi Sai ficar desconfortável ao meu lado.

- O que foi?

- Sabe quando você me disse que o Sasuke não se lembrava de você?

A última posição foi a mais simples, ficar na ponta dos pés e levantar a mão um pouco acima da cabeça.

- Quero que façam essas cinco posições 30 vezes. - A professora disse e se sentou na frente da sala.

- Sei. - sussurrei, apoiando meu pé na barra novamente.

- Eu não sei porquê não te disse isso antes, mas ele nunca me perguntou qual era o seu nome.

Parei no lugar com a perna apoiada no joelho. Tenho certeza que fiquei pálido como um papel naquele momento.

- Você não está brincando comigo, não é ?

Ele virou um pouco o rosto e pela sua expressão tive certeza que ele falava a verdade, nunca conseguia se manter sério quando me pregava uma peça.

- Algum problema, Naruto? - A professora chama minha atenção.

- Nenhum, me desculpe.

Continuei a fazer as posições mas o que Sai falou não saiu da minha cabeça nem por um milésimo de segundo.

Ele nunca me esqueceu.

📌

- Por hoje é só pessoal, vocês estavam um espetáculo como sempre.

Esperamos a professora sair da sala para só então sair da posição de descanso então aplaudimos a aula como sempre fazíamos. Fui me sentar no chão no mesmo lugar onde tinha jogado minha mochila, peguei a garrafinha d'água e tomei um bom gole antes de começar a massagear meus pés por cima da sapatilha. Eles estavam muito doloridos.

Duas garotas que estavam sentadas mais ao longe estavam conversando e eu tentei não escutar mais foi quase impossível quando o nome "Sasuke" foi mencionado.

- Eu ainda não acredito que isso aconteceu.

- Ninguém acredita, ele parecia tão feliz e cheio de vida... Principalmente quando dançava, nunca imaginei que ele sofria tanto a ponto de se matar.

- Como assim? Você não estava aqui quando o pai dele fez aquilo?

- Aquilo o que?

- Acho que foi no ano retrasado, parece que o pai dele não queria que ele entrasse no ballet mas ele entrou assim mesmo. E quando o pai dele soube disto ficou furioso, apareceu aqui e bateu nele na frente de todo mundo. Imagina como deve ter sido horrível crescer com o pai desses?

- Meu deus eu não sabia disso, entrei no ano passado. Sasuke fez o que depois disso?

- No dia seguinte apareceu aqui com o olho roxo mas fingiu que nada tinha acontecido.

Desviei o olhar quando uma delas olhou em minha direção.

- Pessoal, vocês tem meia hora para se aprontarem para apresentação! - A professora disse entrando na sala de novo e todos correram para o vestiário mas eu permaneci parado no mesmo lugar.

É, parece que a vida de Sasuke Uchiha não era fácil como eu pensei.

📌

- Naruto! - Sai me chama enquanto corro chorando.

Ele me chama novamente e tenta me alcançar, mas quando não dei brecha e acelerei os passos.

Estou correndo e lutando contra as lágrimas da humilhação que acabei de passar em frente de todos do curso de dança. Apenas paro de correr quando saio do prédio e me apoio nos grandes portões ao lado da árvore do beijo, escorregando minhas costas nele e sentando na grama molhada. Eu havia ensaiado durante anos para me apresentar para um público grande mas quando finalmente tenho a chance acabo errando e caindo na frente de todos. E tudo era culpa de uma noite muito mal dormida por causa de mais um pesadelo com Sasuke.

Mais um pesadelo com aqueles olhos negros me implorando por um motivo para viver.

Fazia três semanas desde aquele dia e não teve um segundo em que eu não me sentisse culpado por ele não estar mais aqui.

Será que aquilo nunca iria acabar?

Suspiro alto, tirando minhas sapatilhas de ballet e as jogando longe. Pego minha mochila e tiro as cartas velhas de tarot de lá, embaralhando e as colocando em cima da grama.

Puxei a primeira.

A torre.

Simboliza uma nova chance, mudança radical com o anterior para não voltar a repeti- lo.

Segunda carta.

O diabo.

Impulso, paixão e aviso de destino (bom ou mau).

Terceira e última carta.

A morte

Rapidamente jogo a carta longe de mim, da última vez que a tirei perdi alguém.

Será que vou perder mais alguma pessoa? Eu não aguentaria perder mais alguém especial.

- Ela é linda, não é?

Meus músculos endurecem ao escutar aquela voz. Olho para o lado, mas não havia ninguém ali. Eu estava completamente sozinho no lugar. A única coisa que tinha do meu lado era uma borboleta, mas tinha algo estranho, ela estava flutuando mas não batia as asas.

Eu nunca acreditei em fantasmas mas fui obrigado a rever essa crença com a ideia sendo inserida sem dó, nem piedade de que fantasmas existem, a medida que Sasuke Uchiha foi se formando em frente dos meus olhos. Sem truques, luzes especiais, ou nada do tipo. Talvez uma névoa? O cara simplesmente surgiu, seja lá o que for.

Eu estava de olhos arregalados, meu queixo batia no chão e tenho certeza que estava mais branco que uma folha de papel.

- Ela é tão cheia de cores. - Ele disse olhando para a borboleta que estava no seu dedo.

Prendi o ar, finalmente fechando a boca. Não consigo me mexer mais que isso. Acho que estou em choque, mas quero correr daqui.

Impossível. É a única palavra no meu cérebro desse momento.

Consegui sair do estado de choque e fiz a única coisa que todos fariam se estivessem na minha situação. Gritei, apoiando uma mão no chão e com a outra apontei para o fantasma (?).

Sasuke me olhou, curioso e com um sorriso de lado.

- O que foi? Parece até que viu um fantasma.

Efêmero - NarusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora