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1° de Setembro de 2009

Insônia misturada com ansiedade é uma coisa estranha: mal dormi essa noite e não sinto um pingo de cansaço (mesmo sabendo que daqui horas sentirei meus olhos pesando). Há um grande motivo para eu estar desse jeito: primeiro dia de aula do colegial.

Meus olhos se acostumam com o escuro do meu quarto e se perdem nos números esverdeados fantasmagóricos que mostram as horas no relógio que se encontram sobre a cômoda do outro lado do quarto.

05:00.

Mesmo sabendo que faltam 3 horas para a aula, me sento na cama e coço minha nuca, junto minhas mãos e estico os braços para cima até ouvir um estalo sair de minhas costas. Bocejo e sinto como se minha cama criasse braços e me segurasse pela cintura, me puxando de volta para si. Não adianta eu tentar dormir novamente, não vou conseguir.

Tiro as cobertas de cima de mim e saio da cama, sentindo o tapete felpudo sob meus pés. Acendo a luz que ilumina meu quarto inteiro, minha toca. Passo os olhos rapidamente pelo menos e vejo que tudo continua no lugar, do jeitinho que havia deixado ontem. Arrumar o quarto um dia antes do primeiro dia de aula é uma antiga tradição que aprendi com minha mãe. Ela dizia que traz sorte pelo resto do ano letivo.

Antes de começar meus preparativos, arrumo minha cama para que minha vó não o tenha de fazer. Assim que está feita, pego minha toalha e abro a porta devagar, indo para o banheiro ao fim do corredor.

Tranco a porta e ligo o chuveiro, não esperando uma água quente, mas sim morna. Enquanto a água fica na temperatura que desejo, tiro meu pijama e dobro-o, deixando-o sobre a pia. Enquanto prendo meu cabelo em um coque, evito me olhar nua no espelho. Não é algo bonito de se ver. Entro no box e deixo as gotas percorrerem meu corpo, acordando cada músculo para um grande dia.

Alguns minutos depois estou de volta ao meu quarto, parada diante do espelho, com o uniforme vestido. A camisa cai por fora da saia, que para pouca coisa acima do joelho, meu cabelo cai por cima dos meus ombros e meu rosto expressa nervosismo. A voz de meu irmão ecoa em minha cabeça, falando algo que ele sempre me disse durante seus anos no colegial: "Agora é a hora de você se produzir, ficar bonita para os meninos. Se não causar uma boa impressão no primeiro dia de aula, pode ter certeza que esses três anos serão os piores da sua vida."

Abotoo a camisa e ponho a mesma para dentro da saia, fazendo com que minhas curvas tortas e cheinhas fiquem marcadas. A ideia de deixar a mostra minha fraqueza me assusta, então vou puxando a camisa para fora aos poucos, até deixa-la na forma que me agrada: nada muito explícito e nada muito implícito. Ajeito a saia, coloco as meias e dobro a manga da camisa até meu cotovelo.

Ando até a cômoda e abro a primeira gaveta, onde guardo a gravata fininha que faz parte do uniforme e envolvo-a em meu pescoço, por baixo da gola da camisa. Faço um laço meio caído, tentando lembrar do laço que as meninas que vi na rua milhares de vezes tinham ao redor do pescoço. Antes de fechar a gaveta, vejo o folheto do colégio com as regras, pelo menos as regras sobre aparência. Além de ter o uniforme sempre limpo e engomado, duas regras estão em negrito: cabelos sempre ajeitados/presos e face sem maquiagem.

Olho para o espelho e me deparo com meu rosto. Nunca curti usar maquiagem e a única coisa que o marca são minhas sardas que vão de bochecha a bochecha, se desfazendo delicadamente sob meus olhos e na altura do nariz. A parte do cabelo é mais difícil. Se eu fosse 100% coreana não teria problema, mas não é assim que as coisas funcionam. Meu cabelo é o que eu chamo de "tsunami", por causa das varias ondas enormes que tenho por todo ele. Não me leve a mal, eu adoro meu cabelo, acho-o único, mas quando se mora no lugar onde eu moro, usa-lo tão naturalmente não é algo bom.

Maybe One Day {Park Jimin} - HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora