Capítulo 1 - Degustação

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Melanie

Enfim formada! Depois de longos seis anos, eu, Melanie Castro, termino
a faculdade. Foi bom enquanto durou, na realidade, foi ótimo! Muitas
amizades, festas, garotos…. Certo, estudei bastante também, afinal, era a aluna destaque. Pirei quando chamaram o meu nome e fui homenageada.
Queria sair pulando e gritando, mas me contive e tentei fazer a fina, o que não era a minha cara.
Ralei muito para pagar a faculdade, desdobrei-me em mil, fiz tantos
bicos… Só não cortei a grama dos vizinhos, porque, hoje em dia, todo
mundo tem um cortador de grama. Aprendi cedo a me virar com o que
tenho, vi meus pais suarem a camisa para me proporcionar a melhor
formação possível enquanto crescia. Quando tive idade para trabalhar,
assumi os meus gastos e banquei o meu curso.
Meu plano inicial era sair da faculdade direto para um emprego na área de Relações Públicas, mas depois que conheci a Bia e a Thay, no meu
segundo ano, acabei mudando de ideia; as meninas já tinham um plano, ambas iam fazer um intercâmbio em Nova York e, quando fiquei sabendo
disso, decidi na hora que iria junto, sou louca por aquela cidade, seria bom finalmente colocar meus anos de cursos de inglês em prática.
A maioria das pessoas que conheço não aprovou a ideia: meus pais
ficaram tristes, pois sou filha única e superprotegida, meus amigos disseram que era loucura e até hoje não entendo o motivo, mas não estou nem aí, preciso mesmo de novos ares e sei que isso vai me fazer bem. Sou conhecida na minha cidade por ser impulsiva e geralmente choco as pessoas, tanto pelo meu temperamento quanto pelas minhas atitudes! Digamos que gosto de
aproveitar a vida, só que não me encaixo nos padrões da sociedade, esse papo de mulher santa e recatada me estressa, então, eu bebo, faço sexo selvagem quando quero e com quem estou a fim e curto a vida adoidada.
Depois de um chororô danado — odeio mimimi — ficou tudo resolvido.
Malas feitas, passagem comprada, passaporte e todas as centenas de outras coisas burocráticas que tive de fazer. Eu estava pronta. Meus pais fizeram uma festinha — um jeito espertinho para me encurralar e encher de recomendações — para a família. A minha família era grande e éramos muito unidos, não tinha irmãos, apenas primas e tias que valem ouro, a melhor avó que alguém poderia pedir e a memória dos momentos felizes que passei com aqueles que já se foram. Sentirei saudade dessas reuniões.
Meus amigos queriam uma despedida diferente, então reservaram três
camarotes numa boate que amo. Ficou decidido com as meninas que nos arrumaríamos na casa da Treice, por ela morar próximo à festa, e assim passarmos o máximo de tempo juntas na minha última noite!
Depois de uma tarde maravilhosa com a minha família, estou preparada para curtir com os meus amigos. Enquanto aguardo a Clarinha, verifico minha bolsa e a extravagância que cometi ao comprar um vestido vermelho de matar, colado, curto e com uma abertura nas costas capaz de deixar qualquer homem que me olhasse babando e um salto de dez centímetros preto metálico e acessórios dourados. Uma buzina soa na frente de casa, confirmo pela janela que é a minha carona. Despeço-me com um beijinho nos meus pais e me mando.
Quando entro no carro, recebo um abraço de urso da Clarinha.
— Ai, que amor todo é esse? — pergunto.
— Estou com saudade, além de ser um dos últimos abraços que vou te
dar. — Ela faz cara de cachorrinho que caiu da mudança.
— Deixa de besteira, gata, esta noite, quando tu ficar bêbada, vai me
encher de abraços e beijos melados na minha bochecha. — Caímos na
gargalhada.
Clarinha aumenta o som e seguimos nosso caminho conversando.
— Como estão os preparativos? — pergunta sem desviar os olhos da
estrada.
— Tudo pronto, só falta embarcar no avião, estou tão animada! —
respondo, meio que pulando.
Clarinha desvia o olhar da estrada e diz:
— Vou sentir saudades, mas estou tão feliz por você, quero que aproveite
muito lá.
Chegamos à casa da Treice e as meninas pulam em cima de mim, todas gritando histericamente. Tentando me desvencilhar de todas aquelas mãos, digo:
— Ei, meninas, calma que sou uma só e preciso arrasar esta noite!
Elas me largam.
Ver todas ali, reunidas, dá-me um aperto no coração, eu sentiria muita
saudade. Conhecíamo-nos há muito tempo, algumas delas eram minhas
amigas desde o jardim de infância, se eu pudesse levaria todas comigo.
— Será que não consigo colocar vocês nas minhas malas? Queria todas
comigo. — Faço cara de triste.
— Ai, Mel, nós também queríamos ir, mas você irá nos representar lá, e
muito bem, diga-se de passagem. Tu estás gata, hein? Vai enlouquecer os
gringos! — Dou risada.
— Acreditas, Fê, que a Carol e a Alice me disseram praticamente a
mesma coisa? “Vai lá e enlouquece aqueles americanos!” Vocês são tudo
farinha do mesmo saco. — Caímos na gargalhada.
— É, Mel, e tu foste o primeiro pacote a ser feito — Rose fala.
— Acho que eu fui o último, o mais perfeito de todos! — Um sorriso
brincalhão se instala no meu rosto.
A Mari já tinha deixado uma bebida pronta, ela me conhece bem, não que precise de algo para me soltar, mas sempre gostei de tomar algo antes, além do mais, a batida de morango com vodca dela é divina.
Começamos a nos arrumar e, como sempre, faço primeiro a maquiagem
de todas as meninas, elas adoram dizer que eu poderia ser profissional, todavia, é mais um hobbie do que qualquer outra coisa. Em seguida, arrumo o meu cabelo, que é cacheado e bem comprido, um palmo acima do bumbum, mas, hoje, prefiro deixá-lo liso, jogo todo para o lado, prendendo com uma presilha de borboleta dourada para não cair nas costas, faço uma maquiagem preta com dourado nos olhos e um batom bem vermelho nos lábios, combinando com a roupa que eu escolhera.
Uma van nos pega às 23 horas, afinal, somos quinze meninas e vamos
para a festa.
— Definitivamente, eu amo este lugar! — grito para as garotas.
Luzes banham a boate num estilo cabaré chique. Ela fica no centro da
cidade e é o melhor lugar para curtir, hoje, um DJ está tocando música
eletrônica, sempre me perco nesse estilo, meu corpo automaticamente
começa a balançar e sinto todos os olhares em nós, as meninas dão gritinhos e batem palmas enquanto subimos para o nosso camarote.
Encontramos os namorados das meninas acompanhados dos gêmeos, Rafa e Diogo, meus melhores amigos. Abraço os rapazes e conversamos um pouco, não demora muito para que o Diogo me puxe de lado e pergunte:
— Mel, meu docinho, tu tá querendo enlouquecer a galera? Esse vestido vai me causar problemas, logo vão querer te agarrar.
— Di, esse é o ponto! Não esqueças que esta é a minha última noite no
Brasil, a única coisa que eu quero é me perder! — Dou um beijinho na
bochecha dele e vou ficar ao lado das meninas.
Todos já estão bebendo, pego o meu copo e passo a dançar uma música
eletrônica. Os camarotes enchem rapidamente, estamos entre trinta pessoas, alguns amigos dos meninos, conhecidos meus, foram convidados, inclusive o Pablo. Conhecemo-nos faz duas semanas, e, desde então, estou pensando seriamente em perder umas horinhas naquele corpo gostoso, olhos castanhos, cabelo loiro arrepiado e aquela boquinha linda. Tudo isso vestindo uma calça jeans escura e uma camisa bordô, dobrada em seus antebraços, dá-me a certeza de que a minha noite terminaria com ele. Logo que me vê abre um sorriso, encurta a distância e me dá um beijo de tirar o fôlego. Pronto, esta noite ele é meu!
— Eu passei cada segundo destas duas semanas querendo experimentar
esta boca! — Pablo fala, ofegante.
Assim não dá! Por que ele tem que deixar na reta? Inclino-me e sussurro no ouvido dele:
— Só a boca?
Quando me endireito e vejo o seu olhar, percebo que a noite, de fato,
promete. Danço e me divirto muito com os meus amigos. Meu corpo está molhado de suor, mas é disso que eu gosto, sinto-me completa quando estou assim, dançando e me divertindo com as pessoas que eu amo. Aproveito cada segundo, não sei quando verei os meus amigos novamente.
Acordo assustada e exausta, olho para baixo e vejo um braço musculoso me abraçando, dou uma viradinha de leve e vislumbro o Pablo. Levanto bem devagar, não quero acordá-lo, odeio despedidas pela manhã. Recolho a trilha de roupas que fiz e gemo quando encontro a minha bolsa e verifico a hora, dormi mais do que deveria, além de estar atrasada para o almoço, preciso chegar ao aeroporto às 16 horas. Envio uma mensagem ao taxista e visto-me, relembrando a noite divertida que tivemos, sorrio. Sério, quando eu voltar ao
Brasil, terei que repetir a dose! O garoto é bom!
Depois de meia hora, estou almoçando com a minha família. Mamãe é ótima cozinheira e tudo que ela faz é bom. Hoje ela fez uma galinha escabelada, meu prato favorito, para o almoço.
— Bebê, como foi a festa? — mamãe pergunta.
— Estava ótima, mãe, vou morrer de saudades das meninas, não sei o que
vou fazer sem elas! — respondo, reprimindo a saudade que já estava
sentindo.
— Minha filha, ainda dá tempo, é só desfazer a mala e ficar em casa!
— Não, pai, eu quero ir! Vou sentir saudades de todo mundo, vou quase
enlouquecer sem vocês dois, mas já está decidido!
Meus pais olham-me como se eu fosse embora para nunca mais voltar,
mas, mesmo assim, colocam um sorriso no rosto e assentem.
Depois de um almoço espetacular, tomo um longo banho e começo a me arrumar. Não sei quem disse que ter cabelos cacheados é fácil, dá uma
trabalheira para arrumar e acordo todos os dias parecendo o rei leão! Valeu, mãe! Muito obrigada por me dar esses cabelos!
Faço uma maquiagem leve, coloco meu jeans rasgado e uma blusa azul
de ombro caído que fica colada ao meu corpo, meu sapato preferido está me esperado, um scarpin meia pata de dez centímetros. Bato tanto esses sapatos que usá-los é como estar com os pés descalços. Pego uma jaquetinha de couro preta e a minha bolsa.
Olho o meu quarto, não posso esquecer-me de nada. Vasculho a minha bolsa e lá estão os meus companheiros: um bom livro, carteira, o celular e o iPod.
Meu pai carrega tudo no carro e saímos. Chegamos uma hora adiantados, faço o check-in e choro litros enquanto me despeço da minha família e amigos. Prometo que, vou manter contato sempre por Skype. Meus pais são os últimos a me abraçarem, enchem-me de beijos e dizem o quanto me
amam.
— Espero que tu encontres o que procura, filha. — Com um último beijo, seco os olhos e me encaminho para a sala de embarque.
No trajeto previamente montado, eu faria uma escala de quatro horas em
Guarulhos, e depois disso iria direto para o JFK, chegaria perto das nove da manhã, as meninas já estariam me esperando no aeroporto.
A parada em São Paulo é longa e me deixa com tempo suficiente para
comer alguma coisa. Restando três horas, faço o check-in, despacho minhas malas e me direciono para a sala de embarque. Faço o possível para não cair no sono enquanto aguardo o meu voo.
O avião decola, o friozinho no meu estômago só para no momento em
que ele se estabiliza. Sentada em minha poltrona confortável, olho pela janela e vejo as luzes da cidade, respiro fundo e me despeço.
— Tchau, Brasil, logo eu volto.
Estou exausta e apago. Acordo com alguém falando que vamos pousar
dentro de alguns instantes, entre outras coisas que o sono não me deixa entender bem. Pego um espelho dentro da bolsa e vejo que a minha cara está terrível. Preciso de um banheiro urgentemente.
Desembarco e pego as malas. Tenho certeza de que um dia vou perder a
minha bagagem, parece que todas chegam, menos a que a gente mais quer, a nossa! Estranho as meninas não estarem me esperando, falei o número do voo, horário e portão para elas. Espero uns vinte minutos e nada, decido procurar um banheiro, acho que estou assustando o pessoal com a minha juba.
Entro no lavabo, molho o rosto e retoco a maquiagem. Amanso os meus cabelos rebeldes e tento ligar para o número que as meninas me deram.
Claro que eu não consigo nada, o celular está quase sem bateria e, ao tentar ver as horas, ele apagou. Para a minha sorte, o endereço está anotado na minha agenda. Pego um táxi e vou ao meu destino.
Eu olho tudo, fico impressionada com a cidade e me apaixono. Sempre
achava graça ao ver as meninas dos filmes coladas às janelas do táxi, com cara de abobada, e, neste momento, estou do mesmo jeito.
O pai da Thay tem dinheiro e conseguiu um local bem legal em
Manhattan para nós, e, quando digo legal, é porque ele gastou uma boa grana com isso! Eu sabia o nome da rua, o número do prédio e o andar, mas não fazia a mínima ideia de qual era o número do apartamento.
O taxista me deixa na frente de um prédio de tijolos vermelhos, daqueles que a gente lê em livros e vê nos filmes. Ele tem quatro andares e parece aconchegante. Umas meninas saem e eu entro com as minhas tralhas. Subir aquelas escadinhas me mata, sério, vou dar um jeito de começar a correr, não gosto de academia, mas as escadas andam me matando!
Mais escadas e estou no segundo andar. Agora é só escolher uma das
quatro portas e rezar para acertar. Resolvo ir ao apartamento mais
barulhento, tem um som legal saindo dele, e como as meninas adoram
música… Mal bato na porta e ela se abre, atiro-me de olhos fechados, agarro uma das meninas e começo a gritar.
— Ai, que saudade!! Agora vocês não se livram mais de mim! Eu amo
vocês, suas periguetes safadas.
— Ninguém nunca me chamou de periguete safada, mas se quiser pode
colar em mim, que eu não me importo — uma voz rouca de homem com
sotaque carregado, mas com português perfeito, fala e eu estremeço.
— Merda, porta errada! — Abro os olhos devagar e vou me desgrudando daquele corpo.
Quando estou a uma distância segura, olho o dono da voz sexy e, Senhor,
ele é um pedaço de mau caminho! Recebo um sorrisinho de boquinha torta e vejo dentes brancos perfeitos, um cabelo preto cortado bem baixo, olhos azuis absurdamente incríveis e um corpo que me faz salivar! Porra, tinha que estar sem camisa? Dá para lavar roupa no tanquinho dele, e que tatuagem…?
Com uma calça azul-marinho de pijama, pés descalços e cara de sono, ele me observa.
Tenho que fechar a boca, caso contrário, vou me babar toda.
— Desculpa, gato, errei a porta!
Ele me olha dos pés à cabeça. Parece que vai me comer ali, no corredor, e
quer saber? Eu nem iria me importar! Assim que abro a boca para falar
alguma coisa, a Thay e a Bia aparecem, cheias de sacolas, e começam a gritar.
— Meeeeeeeeeeel, tu chegaste!
Agarram-me e levam-me para a porta em frente, quebrando o clima entre
mim e o vizinho.
— Que saudade, meninas! A faculdade sem vocês não foi a mesma coisa!
— Abraço as duas e elas me enchem de beijos.
Ficamos separadas por quase um ano e não dá para medir a saudade que
senti delas, encontrávamo-nos praticamente todos os dias, tanto na faculdade quanto fora dela.
— Mel, a gente não via a hora de você chegar — Thay fala, secando as
lágrimas.
Ela é uma manteiga derretida.
— Esta casa precisava de um agito, sabe como a Thay é, né? Toda
santinha e puritana! Eu querendo me divertir com os caras aí da frente e ela tentando me manter na linha. — O suspiro da Bia é cômico e eu rio muito, começo a imaginar essas duas brigando.
— Eu só imagino! Falando em “caras aí da frente”, depois quero saber
mais do pedaço de mau caminho que agarrei, mas, antes disso, contem-me o que vocês andam aprontando e me mostrem a casa.
Preciso saber mais do vizinho gato, mas não agora! Minhas amigas são
mais importantes do que qualquer machinho, mesmo que ele exale sexo e tenha me deixado louca para arrancar as suas calças.
— Se tu não fizesses alguma besteira, logo na entrada, não seria a
Melanie que nós conhecemos, mas vamos te apresentar a casa e depois aos rapazes.
Na sala, um sofá preto de couro com três lugares estava na frente de uma
televisão grande de tela plana, dois pufes de oncinha estavam num canto, provavelmente pela falta de espaço, uma mesinha de madeira baixa ficava entre a TV e o sofá. As paredes eram creme e numa delas um mural com
várias fotos estava fixado, o piso era de parquet escuro. A cozinha americana era toda de lajota branca, os armários e a bancada, marfim, o tampo de mármore preto e as banquetas altas com assento da mesma cor completavam o ambiente. O apartamento era pequeno e aconchegante.
— Adorei este apê, meninas! Já estou me sentindo em casa!
— Vem ver os quartos, o teu é todo branco! Amanhã podemos sair e
comprar alguma coisa pra decorá-lo — Bia fala enquanto vamos por um
corredor azul com flores brancas decorando as paredes.
— Estou louca para conhecer essa cidade, grudei no vidro do táxi
enquanto vinha pra cá. A propósito, queria saber por que vocês não foram me buscar?
— Desculpa, Mel, nós achamos que tu chegarias às onze horas, então nós
fomos comprar comida, quando voltamos, você já estava aqui.
— Ok, vamos esquecer isso! Sorte minha que tinha o endereço de vocês.
O corredor tem quatro portas, a primeira é a do banheiro, depois, a do quarto da Bia, do da Thay e a do meu por último. Como a Bia falou, ele é
todo branco, com um roupeiro embutido, uma cama de casal e uma cômoda. Tudo é muito branco. Preciso urgentemente colocar uma cor nas paredes! Em cima da cama tem uma janela com vista para a rua. Todos os quartos são grandes e confortáveis. Atiro-me na minha cama e as meninas vêm logo atrás, ficamos as três espremidas, em silêncio, olhando para o teto.
Minha vida está mudando, tenho duas semanas de folga antes de começar
o curso de inglês e usarei esse tempo para procurar um emprego, pois as
minhas economias me manterão por dois meses, mas não poderei cometer extravagâncias. O curso já estava todo pago, mas as despesas eram muitas,
manter uma casa não era fácil, mesmo dividindo as contas.
Sentei-me e encostei-me à parede, pronta para começar o interrogatório.
— Me falem tudo. Vocês estão gostando das aulas?
— Sim, são ótimas! Tem tanta gente diferente na nossa turma, de todos
os cantos do mundo, muitas culturas diferentes. — A Thay adora conhecer
pessoas novas, ela é meiga, carinhosa e muito correta.
— Tem cada gatinho que tu nem imaginas. Os espanhóis são tão quentes, tem um na minha turma que, nossa! Cada vez que ele passa, fico sem ar! — Bia fala com um sorriso travesso, nós somos muito parecidas e sempre achamos um cara quente para diversão.
Lembro-me das festas que fazíamos em Porto Alegre, a Bia e eu
enlouquecíamos, enquanto a Thay tentava nos manter na linha, coisa que ela nunca conseguia.
— E o trabalho? Vocês continuam naquele pub?
Elas trabalhavam num pub de terça a domingo à noite e estudavam à
tarde, provavelmente, essa também seria a minha rotina. Quero conseguir um emprego no mesmo pub, assim, será mais fácil e não ficarei tão perdida. Além das gorjetas serem ótimas.
— Estamos lá ainda, vou falar com o gerente sobre ti, ele falou que
precisava de alguém nas noites de sexta e sábado, não damos conta! Aquele lugar enche nesses dias!
— Isso, Bia, fala com ele! Posso ajudar nesses dias e aí vou procurando
outro emprego. Agora, quero saber desses rapazes aí da frente.
— Bom, aquele que tu estavas agarrada como se fosse um poste de pole dance é o Tom! Ele é um gato, dei toda a bola do mundo para ele, mas nada aconteceu!
— Quê? — Nunca encontrei um homem que não a quisesse.
— Estamos sem sorte, parece que não transa com vizinhas. Eles estão
morando aqui há uns dois meses, tiveram um probleminha com uma garota grudenta.
— Isso é fácil de resolver! Eu preciso daquele homem. O que é aquele
corpo?
Só de lembrar daquele abdômen já fico louca, pura perfeição! Queria
lambê-lo todinho, além daquela cara de safado e a grande tatuagem fechando o braço e terminando no peito… Tenho fetiche por tatuagens!
— Podes parar quieta, Mel, tu chegaste hoje e já queres pegar o cara? Pode parar!
— Thay, calma, gata! Eu não vou fazer nada hoje, mas quem sabe o dia
de amanhã…
— Isso aí! Deixa de ser estraga prazeres, Thay! Agora vamos sair e
deixar a Mel descansar um pouquinho.
Com uma cara de poucos amigos, Thay sai do quarto, sendo empurrada pela Bia. Quase morro rindo, e, quando elas fecham a porta, deixando-me sozinha, deito na cama novamente e fecho os olhos por alguns instantes. Crio uma lista mental do que preciso fazer. Apesar de ter dormido muito no avião, eu ainda estou cansada, então meus próximos movimentos são banho
e cama.
Depois de dormir sete horas, sinto-me renovada, vou pra sala procurar as
meninas. Ambas estão jogadas nos pufes que foram arrastados para o centro da sala.
— E aí, Bela Adormecida, com fome?
Atiro-me no sofá.
— Sim, muita fome. Vou fazer uma torrada, vocês querem?
— Não! — as duas respondem juntas — Acabamos de comer, mas vais lá
conhecer um pouquinho da cozinha — Thay me responde, sem desgrudar os olhos da TV.
— Depois que tu comeres, nós vamos te apresentar para os meninos.
Acabamos não te falando, mas tem o Kadu e o Mike, eles dividem o apê com o Tom, outras duas coisinhas gostosas ambulantes.
— Certo! — respondo, enquanto faço a minha torrada.

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