Capítulo 2 - Degustação

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Thomas

Eu tento ficar quieto, no meu canto, mas sempre tem uma mulher caindo
no meu colo, nesse caso, nos meus braços, e, que morena é esta?
Quando as meninas disseram que uma amiga estava chegando, os caras já me fizeram prometer que não pegaria nenhuma vizinha. Entendo a preocupação deles, afinal, tivemos que nos mudar do nosso antigo
apartamento porque tive bons momentos com uma ruiva de pernas longas. Mas ela se transformou numa louca, queria se casar e ter filhos, começou a perturbar os meus amigos e qualquer mulher que chegasse perto de mim corria um sério risco de vida.
Encontramos este apartamento com ajuda da Abby, e os rapazes me
fizeram prometer que não olharia para nenhuma vizinha e manteria o meu pau dentro das calças. Acabei concordando, e, quando conhecemos as meninas da frente, tornamo-nos amigos, para mim, elas são homens.
Contudo, vai ser difícil manter minhas mãos afastadas daquela morena perfeita!
— Tom, querido, volta para cama! — Kate me chama meio choramingando.
Suspiro alto, eu sinceramente não sei o que ela ainda está fazendo aqui,
ela sabe como as coisas funcionam comigo: diversão garantida durante a noite e, pela manhã, cada um vai para o seu lado, não estou atrás de
relacionamentos e não é porque sou contra o casamento e não acredito no amor. Sargento Mestre do Exército e um sniper por natureza não deve criar raízes. Vou até o quarto e encosto-me ao batente da porta. Kate, com sua pele branca e longos cabelos loiros, está enrolada nos meus lençóis. Passamos bons momentos essa noite, mas ela já deveria estar em sua casa e não na minha cama.
— Kate, preciso fazer algumas coisas na rua e você conhece as regas. —
O lençol é deixado para trás com um bufo e um corpo alto e magro aparece.
Eu sempre gostei de mulheres com corpos de modelo e Kate é exatamente o meu número. Enquanto veste suas roupas e coloca os sapatos, dá-me um beijo no canto da boca e se vai.
O meu compromisso é só à tarde, mas não queria ser grosso com a Kate.
Papai me ensinou a brincar com as mulheres, mas a mamãe me ensinou a ser educado, geralmente, unir os dois é difícil. Não entendo o que acontece com as mulheres, sempre fui sincero e deixo bem claro do que gosto e o que quero, elas aceitam num primeiro momento e depois querem casamento. Eu quero sexo de uma noite, perder-me num corpo e não precisar mandar flores no outro dia.
Aumento o som e pego o café que ia tomar antes de ser interrompido pela vizinha. Não consigo tirá-la da cabeça e nem sei por que, ela não faz o meu
tipo, mas tem algo quente nela, aquele corpo pequeno e cheio de curvas me
deixou louco, eu queria agarrá-la ali no corredor e saber como ela é por
baixo daquelas roupas…
— Tem café pra mim? — Levanto a cabeça e vejo o Mike apoiado na
bancada, nem o notei chegando.
— Tem sim, está quente ainda, desliguei a cafeteira agora.
“Thomas Landon Savage, pare de pensar naquela mulher”, mando meus pensamentos para longe e me concentro no meu amigo.
— A festa estava boa ontem?
— Estava sim, o Kadu não chegou ainda? Ele saiu mais cedo ontem com uma garota!
— Ainda não, ela devia ser boa, caso contrário ele já estaria aqui! — O
Kadu gosta de relacionamentos. Curtos, mas gosta! Se ele ainda não voltou, é porque provavelmente essa será a namorada do mês.
Penso no tanto de namoradas que o Kadu teve nesse tempo em que estou
ficando com eles, é um número alarmante! Ele está procurando uma mulher para casar, mas nunca dá certo, ele é cheio de manias e sempre acha algum defeito louco e termina o relacionamento.
— É, deve ser mesmo! Ei, você tem uma consulta hoje, não é? — O Mike
é um controlador e ficou pior depois que esqueci algumas consultas, ele
acabou se tornando uma agenda pessoal, mesmo eu não querendo.
— Tenho sim, mas é só à tarde!
Essas consultas são um lembrete constante de um dia que quero esquecer.
— Não vá se atrasar, você sabe que é importante para a sua recuperação.
— Eu bufo, sei que ele está preocupado, que todos estão, mas estou bem, já
sou bem grandinho e posso me cuidar sozinho, afinal, sou um homem de
trinta anos, e não um moleque de dez.
— Vou deitar, não dormi nada esta noite! Até mais tarde, Mike. —
Encerro o assunto e vou para o meu quarto.
Acordo no susto, falar nesse assunto sempre atrai pesadelos. Abro a porta
do roupeiro e escuto um som de metal que prende a minha atenção. Olho
para a dog tag pendurada e tento empurrar as imagens que elas me trazem.
Durante uma década eu usei essas chapas de identificação em todos os
momentos do dia. Elas me lembram de momentos obscuros, assim como são um prelúdio para eu voltar a ser o que era. Pego as roupas que estão
separadas e vou para o banho. Abro o chuveiro e me concentro na água
gelada batendo em meu corpo. Minha consulta está marcada para as 14 horas, só tenho tempo de terminar de me arrumar e comer um sanduíche, pego minhas coisas e saio do apê, minha moto está estacionada ao lado do prédio, e é em cima dela que
esqueço todos os meus problemas.
O trânsito de Manhattan está agitado como sempre e não me importa se
ele está lento, o que eu realmente precisava era andar na minha moto. Dou algumas voltas e depois de uma hora chego ao meu destino, estaciono e vou para o psicólogo, quando os soldados sofrem traumas e ficam muito tempo em casa tentando se recuperar, são encaminhados para tratamento, muitos de nós realmente precisam, mas não eu.
— Boa tarde, Sargento Savage, o Dr. Willis já irá atendê-lo. — Sento-me
em uma das cadeiras confortáveis e pego uma revista qualquer enquanto espero.
— Sargento Savage. — Vou até a porta e cumprimento o Dr. Willis, ele
deve ter uns sessenta anos, a pele já está enrugada e parece que sua vida foi difícil, pois anda devagar dentro do consultório. Meu instinto é de ajudá-lo, mas pelo seu olhar e o jeito que sua boca forma uma linha rígida e fina, acho que ele não gostaria.
— Então, Thomas, conte-me como foi o seu mês e como anda a sua
recuperação. — Ele sabe sobre a preferência no uso do meu primeiro nome fora do campo, levou certo tempo para convencê-lo a usar. Lá vamos nós para a mesma ladainha de sempre, falo algumas coisas e respondo várias perguntas, estou me consultando com ele há cinco meses e não vejo a hora de ser liberado dessa merda e voltar para a minha vida, quero estar com os rapazes, preciso de ação, gosto do que faço e ficar em casa coçando está me
matando.
Depois de meia hora de papo furado e conversa sem sentido, saio do
consultório, pego minha moto e volto a andar sem rumo pela cidade, quando estou perto de casa, decido ir ao Central Park, sento-me no chão, encostado numa árvore, fico olhando as crianças correndo feito loucas com suas babás atrás, sendo que estas me olham com interesse e não posso mentir, algumas delas fazem o meu tipo, mas minha mente volta para o encontro dessa manhã.
Olho o relógio e vejo que já está ficando tarde e é hora de voltar pra casa, passo no mercado antes e compro alguma coisa pra comer, quando chego, Mike está atirado no sofá, assistindo a um canal de esportes. Aproximo-me e percebo que, na realidade, a TV o está vendo dormir. Não sei como ele consegue transar, se vive dormindo. Faço um café bem forte e duas torradas, enquanto estou comendo, a campainha toca. Mike pula do sofá e sai correndo para atender, fico olhando aquela cena e não sei se caio na gargalhada ou levo-o ao meu psicólogo. Porra! O cara sempre acorda assustado.
Enquanto ele abre a porta, coloco as coisas na pia e vejo a Thay e Bia
paradas na sala e, por último, uma morena baixinha de longos cabelos e curvas de parar o trânsito, que está me olhando com certo interesse. Devolvo o olhar com um sorriso irônico.
— Oi, meninos, viemos apresentar a Melanie para vocês, cadê o Kadu?
— Thay pergunta, olhando para todos os lados.
— Acho que está no quarto, vou lá olhar! — Saio da sala respirando
fundo, se aquela mulher continuar me olhando daquele jeito, eu juro que ela vai terminar essa noite no meu quarto. Escuto um barulho de chuveiro, abro a porta e o Kadu grita:
— Banheiro ocupado! — É bom irritá-lo, ele é todo privacidade e cheio
de manias.
— Já sei, idiota, as meninas estão aqui para apresentar a amiga delas, não
demora! — Fecho a porta e volto pra sala, que diabos, por que ela tinha que vir com uma bermuda tão curta? Imagino aquelas coxas apertando a minha cintura, enquanto eu…
— Tom, quero te apresentar oficialmente a Mel, e se vocês quiserem, podem se abraçar. — Bia fala rindo, com certeza quer deixar a garota envergonhada. Quando olho para a Mel, um sorriso safado brinca em seus lábios.
— Vem cá, Garotão, me dá outro abraço de urso! — Acho que não tenho mais um tipo de mulher.
— Quer me agarrar de novo, é? Já te aviso que sou difícil! — Abraço a
sua cintura, enquanto ela passa os braços no meu pescoço e sussurra no meu ouvido.
— Eu gosto dos difíceis! — Beija a minha bochecha e se afasta.
Como vou cumprir a minha promessa?! Ela é quente, gostosa e tem um cheiro muito bom, estou ferrado.
— É um prazer te conhecer, Tom, espero que sejamos ótimos amigos!
Agora só falta o Kadu, onde ele está? — ela fala isso com um sorrisinho
malicioso e me dá uma piscadinha. Que merda, estou fodido!
— Aqui, prazer, Mel! As meninas falaram muito de você! — Ela dá três
beijinhos nele e um abraço! Por que eu não recebi esses três beijinhos?
— Eu espero que elas só tenham falado as coisas boas, as ruins vocês
aprendem com o tempo! — Mais sorrisos! Sério, ela não se cansa de sorrir? E que tanto de coisas ruins assim ela fez? Ela parece um anjo, um anjo quente como o inferno! Sacudo a cabeça e tiro as imagens suadas de nós dois.
Promessa, Thomas!
— Meninas, vocês querem beber alguma coisa? — pergunto, não posso ficar muito perto dessa mulher, preciso sair daqui.
— Eu fiz uma batida de morango, vou lá pegar! — Bia se levanta e vai
para o apartamento delas.
— Eu vou pegar os copos! — digo, já saindo da sala.
— Eu te ajudo! — Deus, essa morena vai me matar! Dou um sorriso e
faço um sinal para ela me seguir.
Definitivamente, eu não tenho mais um tipo de mulher. A Mel é cheia de
curvas, e eu gostei dessas curvas! Tiro os copos e a olho de canto. Além dos
shorts curtos, a camisa que ela está vestindo não ajuda a tirar os pensamentos sujos que estou tendo, é verde e transparente, e, se ela não cuidar, os botões vão arrebentar e ela vai ficar só de sutiã! Eu estou ficando excitado só de pensar nela de sutiã?
— E aí, Tom, tu és brasileiro? — É melhor eu não olhar pra ela, assim
evito imaginá-la gemendo.
— Minha mãe é brasileira e meu pai é americano, eu nasci aqui, mas
morei até os dez anos no Brasil.
— Hum, de que estado a sua mãe é? — Pego os copos e coloco na mesa.
— Minha mãe é do Rio, por quê? — Curiosa.
— Nada não, só queria saber mesmo! Eu sou curiosa e gosto de conhecer
as pessoas. — Ela deve ler pensamentos também.
— Pega os copos, morena. E você é gaúcha, certo? — Alcanço os copos
para ela e vou em direção à sala, a bebida está na mesa, deixo os copos ali e começo a servir.
— Sim, as meninas falaram? — Ela pega um cheio e bebe, durante o
processo, fecha os olhos e lambe os lábios.
Nossa, eu quero lamber essa boca!
— Isso, mas a beleza foi um forte indicativo. — Mantenha o controle,
Tom, é só mais uma mulher.
— Entendo! — Aquele sorrisinho de enlouquecer de novo, ela pega
alguns copos cheios e sai para entregar ao pessoal, enquanto eu fico que nem um idiota olhando aquela bunda durinha rebolar.
Levo o restante dos copos e me sento no sofá, a Mel é comunicativa e
divertida, faz piada de tudo e conversa com os caras como se fossem velhos amigos. Descubro que ela se formou recentemente em relações públicas e que conheceu as meninas no início da faculdade, depois disso não se desgrudaram mais.
Já é noite e decidimos pedir umas pizzas para jantar, o Mike está cheio de charme pra Mel e sinceramente isso já está me irritando, o pior é que ela está dando bola pra ele, podemos ser amigos desde pequenos, mas se ele não parar agora, eu juro que vou quebrar a cara dele. Se eu não posso pegar as vizinhas, ele também não pode!
— Mel, você deixou algum namorado no Brasil?
— Na realidade, não, eu não namoro, Mike. Só curto o momento,
relações só complicam as coisas. — Ponto para mim, se ela não quer
compromisso, podemos nos divertir.
— Por que você acha que relações complicam as coisas? — Não consigo
me manter calado, preciso saber se ela só quer curtir.
— As pessoas mudam muito quando se apaixonam! Elas ficam
irracionais, não quero alguém que me controle! Quero me divertir por uma noite e, se for bom, eu repito a dose.
— O papo está ótimo, mas tenho um compromisso! — Todas as cabeças
se viram pra mim, sei que cortei o assunto, mas não consigo ficar no mesmo ambiente com ela por mais um minuto. Não espero por despedidas, fujo o mais rápido que posso sem me importar com explicações.
Quando o barulho e o ar pesado da rua me atingem, só consigo pensar no quão surreal é a atração que sinto pela Melanie. E como isso me assusta.

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