Moscas ninjas e a fuga

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"Lydia Martin? Mas nós mal nos conhecemos!" Mel exclama indignada. "E da última vez que ela me viu, ela me perguntou se tinham me contratado da rua para fingir ser filha dos meus pais, porque meu senso de moda não podia ser de alguém de seu sangue!"

"Querida, eu tenho certeza de que ela mudou." Marlene diz com cautela. "Natalie disse que Lydia não apenas é uma boa menina, mas também é extremamente inteligente." Ela esperava que esse argumento mudasse alguma coisa no ponto de vista de Mel, que certamente achava que a ruiva era uma cabeça de vento. "Melzinho, você sabe que eu não faria nada que te deixasse desconfortável, e você realmente não tem uma escolha nisso. Amanhã vou te deixar na casa de Lydia. Espero que você prepare sua mala até a hora de sairmos."

"E a escola? Não que eu me importe com aquela bosta, mas a casa dos Martin é bem longe de Devenford Prep, e você e papai não deixam eu dirigir de manhã."

Isso era verdade. Mel era uma pessoa terrível para acordar. Como ela dizia, seu cérebro só funcionava a partir das dez ou depois de ingerir algum açúcar. Por ser tão desligada, Davi e Marlene tinham chagado à conclusão de que deixar Mel dirigir sua moto para a escola seria um perigo para a sociedade e para ela mesma. Além disso, ela não era uma pessoa paciente no trânsito. Sempre cortava os outros carros e dirigia acima do limite de velocidade permitido. Combinando isso com seu mal humor, Mel era uma máquina mortífera motorizada, ou MMM, se você prefere siglas.

"Natalie trabalha para Beacon Hills High. Suas notas serão transferidas, e ela já ajeitou tudo para que você comece as aulas na segunda-feira."

"Ok."

"Ok? Isso é tudo que você tem a dizer?" Marlene pergunta, preocupada com a reação de sua neta. "Não vai gritar, socar as coisas ou tentar me dar uma rasteira e fugir de casa?"

"Na verdade não." Sua avó agradece mentalmente. Ela já tinha problemas demais para lidar agora. "Eu só estou esperando você sair para eu me jogar da janela."

"Mel!" Marlene a repreende, percebendo que estava tudo muito bom para ser verdade, visto o usual sarcasmo de sua neta. "Não vai ser tão ruim assim. Pelo que eu sei, Lydia tem ótimo gosto para moda. Vai ver ela te ajuda. Você sempre reclama das suas roupas."

"Eu reclamo das minhas roupas porque eu não tenho nada para fazer e gosto de reclamar. Mas talvez, melhorando um pouco meu gosto, ela acredite que eu sou sua prima, e não uma criança de rua alugada."

Marlene respira fundo, se acalmando. "Mel, para de implicância. Você nem a conhece! Tenho certeza de que vocês vão se tornar ótimas amigas!"

Com isso, ela sai do quarto, deixando Mel para arrumar suas coisas. Assim que a porta se fecha, Mel retruca. "Meu cu."

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"Não acredito que eu não vou mais te ver todo dia." Mel diz com o telefone no ouvido, rolando de barriga para cima na cama. Ela olha para a janela, onde vê as estrelas brilhando. Ela nunca contou para ninguém, mas, por não terem deixado que ela visse o corpo de sua mãe, tinha uma esperança boba de que ela ainda estava viva. Mas, no fundo, sabia que era porque mostrar para uma adolescente o corpo dilacerado da pessoa que a botou no mundo e criou seria traumatizante. Por isso, ela se contentava em olhar para as constelações e as traçar com seus dedos enquanto as nomeava, do mesmo jeito que as duas faziam juntas quando ela era pequena, e imaginar que, em algum lugar daquele planeta estranho, sua mãe fazia o mesmo.

"Eu vou sentir sua falta." Brett diz do outro lado da linha. "Não sei o que a escola vai fazer sem sua melhor líder de torcida." Ele brinca, sabendo como a menina achava ridículo as coreografias sincronizadas e gritos de guerra, mas berrava até ficar rouca em qualquer jogo que assistisse. "Eu posso não estar te vendo, mas sei que você está revirando os olhos."

Mel ri, mas para subitamente, tendo uma ideia. "E se você estivesse?"

"Como assim? Você quer que eu invada sua casa?"

"Não idiota. Não quero meus vizinhos chamando a polícia porque acham que tem alguém assaltando minha casa na véspera da mudança. Eu estava pensando em fazer uma coisa mais sensata."

"Tipo uma chamada de vídeo?" Brett pergunta, entendendo seu raciocínio.
"Não." Ela diz fazendo uma careta.

"Tipo fugir de casa."

"Ata. Porque isso é bem mais sensato." Ele retruca rindo. "Além disso, você mal consegue mentir. Acha mesmo que consegue fugir de casa?"

"Brett Talbot, é isso mesmo que eu ouvi? Você está duvidando da minha capacidade ninja?" Mel finge estar ofendida, enquanto segura ao máximo sua risada.

"Não estou duvidando nada, estou apenas falando o óbvio." Ele diz rindo, adorando implicar com a menina.

"Que seja. Me encontre no parque em meia hora. Se eu demorar mais, é porque resolvi estudar botânica por baixo."

"Você realmente perdeu seu tempo de vida procurando eufemismos para morrer no Google depois daquela conversa?" Ele pergunta incrédulo, apesar de saber que não deveria mais ficar surpreso depois de tantos anos de amizade.

"Tenho quer ir. Se eu não botar meu plano em ação logo, posso acabar batendo um papo com Deus antes do imaginado. Adeus meu caro amigo." E com isso, ela desliga o telefone.

Com cuidado, bota um chinelo e pega um casaco para por em cima de seu conjunto de moletom, e guarda seu celular no bolso. Andando pelo corredor sem fazer barulho, ela olha pela porta entreaberta do quarto de sua avó. As luzes já estão apagadas, e Marlene está dormindo profundamente.

"Hehehe." Mel solta sua risada maligna para entrar no clima enquanto faz um movimentos com as mãos, querendo parecer tão suspeita quanto as moscas quando limpam suas patinhas. Mas ao ver que sua avó se mexeu, ela sai correndo, percebendo o porquê dos ninjas não terem uma risada maligna.

Depois de sair de sua casa sem ser pega, Mel faz sua dancinha da vitória, e caminha em direção ao parque, que não é muito distante de sua cidade. Mas, quando, já a uma distância de sua moradia, ela resolve olhar para trás, tem a sensação de que fugir de casa é apenas a primeira de muitas outras missões secretas.

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