Era manhã de sábado, acordei às 9h pronta para a faxina de sábado. Levantei da minha cama e tomei um banho, coloquei um vestidinho simples e fui para cozinha tomar um breve café. Sai da cozinha e fui para o quarto, tirei os lençóis da cama e as roupas sujas, fui para o quarto da Milena e tirei a roupa de cama. Levei para a varanda e voltei, tirei todas as outras peças e levei novamente. Separei colocando na máquina e configurando para bater. Comecei a limpar toda a casa, lavando tudo em seguida. Coloquei todos os forros nos lugares e tirei a poeira dos móveis. Olhei para o relógio e era 12h30. Milena estava prestes a chegar do trabalho e iria começar o inferno. Separei tudo para fazer lasanha. Montei a lasanha e coloquei no forno. Lavei o que estava sujo e guardei. Fui para o banheiro e tomei banho e tomei banho lavando o cabelo. Me troquei e deixei o cabelo solto.
Estava entrando na cozinha quando a campainha tocou.
Estranho, o porteiro não interfonou.
- Milena, a gente precisa conversar. — Arragalei os olhos e ele fez o mesmo jeito quando me viu. — Você?
- Você. — Digo bufando. — Porque não foi anunciado? A Milena não está.
- Sou irmão da Milena. — Eu revirei os olhos mesmo — E você?
- Ora, ora. Cunhadinho! E então?
Conrado se engasgou com a própria saliva e me olhava assustado.
- Você e a minha irmã... namoram? Eu sempre soube que ela gostava da fruta! Sabia.
Eu gargalhei, gargalhei muito.
- Como você é idiota, professor. É claro que eu não namoro a sua irmã!
Ele revirou os olhos.
- Que piada sem graça.
Dei passagem e ele entrou, fechei a porta e o deixei sozinho na sala.
- O que faz aqui? — Ele perguntou entrando na cozinha.
- Eu moro aqui.
- O quê? Desde quando?
- Um mês. — Disse dando de ombros.
- O que te trouxe a morar com a Milena?
- Digamos que eu não escolhi, a faculdade me trouxe da França e por um motivo desconhecido, me jogaram no apartamento da sua irmã.
- Você é francesa? — Assenti — Não parece. Quer dizer, você parece do pescoço pra cima.
- O que você quer dizer com isso?
- Fiz um intercâmbio na França tem algum tempo. E digamos que você não possui o biotipo das francesas.
Ok, ele estava certo. Segundo meus pais, eu havia puxado o meu lado paterno. Como minha avó era brasileira, digamos que ela tinha um maravilhoso corpo violão e eu havia herdado.
- Conrado, você é meu professor. Para com isso!
- Professor da sala até a porta da faculdade.
Ele disse se aproximando. Revirei os olhos.
- Deveria haver uma lei. Professor em qualquer ambiente e se manter distante dos seus alunos.
Fechei a boca e ele vinha se aproximando. Só me dei conta quando já estava encostada no balcão da pia com os braços do Conrado ao meu redor. Fiquei nervosa com aquela proximidade e o forno apitou.
Salva pelo forno!
Passei por debaixo dos seus braços e desliguei o forno.
- Salva pelo apito.
- Você devia tomar vergonha nessa sua cara linda e me deixar em paz, Conrado.
Ele gargalhou.
- Você é engraçada!
- PUTA QUE PARIU! — Berrei e tirei minha mão da assadeira — Me ajuda, Conrado.
Choraminguei e ele me olhou com dó. Levou minha mão a pia e logo em seguida abriu uma parte do armário que ficava um kit de primeiros socorros que nem eu sabia. Enfaixou o dedo que eu havia queimado e colocou tudo no lugar.
- Eu tiro a assadeira.
Ele retirou a assadeira do forno e colocou no apoio da mesa. Peguei pratos, talheres e os copos.
- Suco ou refrigerante?
- Suco.
Peguei a jarra e coloquei na mesa. Me sentei e ele sentou a minha frente.
- Você não é tão petulante quando precisa de ajuda.
- Você não é tão carrasco quando quer se aproveitar de uma garota indefesa.
Ele gargalhou.
- Você não é indefesa. — Arqueei a sobrancelha — Fala sério, Anne. Você ta longe de ser uma garotinha indefesa.
- Eu não sei o que você pensa sobre mim mas eu estou com fome. Então, cala a boca.
Ele me olhou assustado e não disse nada. Comemos na maior tranquilidade e quando dei a última garfada, Milena chegou.
- Oi, Anne!
Apenas acenei e ela veio na minha direção.
- Não sabia que teríamos — Conrado se virou para ela — Conrado.
A sua voz soou decepcionada
- Irmã!
- Irmã um caralho, Conrado. O que você tá fazendo aqui?
- Voltei. Você não está feliz?
- É claro que não, seu imbecil. Você me abandonou, Conrado. Quando eu mais precisei, quando nossa mãe morreu. Você foi embora e só me ligou 2 semanas depois. — Ela falou com a voz chorosa.
- Eu precisei desse tempo, Mimi.
- Não me chama assim! Precisava de tempo, Conrado? PRECISAVA DE TEMPO? O TEMPO TE FEZ BEM? VOCÊ CUROU A SAUDADE DA MAMÃE?
- Não. — Ele disse cabisbaixo.
Ela gargalhou armadura.
- Parabéns! Você foi um completo idiota pra nada então!
- Milena! Para com isso. Nós sabemos que você não é assim.
- Você não me conhece, Conrado. Você nunca me conheceu. Você sempre foi fútil! Você sabe toda a minha história mas não sabe um terço da minha dor.
- Mimi
- Não sou mais a Mimi, Conrado. Meu nome é Milena! A Mimi morreu quando o monstro do teu pai me abusou, quando você me culpou pela separação dos teus pais. A Mimi morreu quando você se tornou um irmão ausente. A Mimi terminou a sua morte quando a nossa mãe morreu e você me abandonou, Conrado. A Mimi morreu!
Eu estava horrorizada! A Milena tinha sido estuprada, perdido a mãe, abandonada pelo irmão, socorro!
- Não te torne o que te feriu. — O Conrado disse e até eu tive vontade de bater na sua cara.
- VOCÊ É LOUCO, CONRADO! LOUCO! LÓGICO QUE NÃO! NÃO VOU ME TORNAR UMA ESTUPRADORA. NÃO ME TORNEI ESSE TIPO DE PESSOA QUE JOGA A CULPA DOS OUTROS EM CIMA DE UM INOCENTE.
Ela berrou e Conrado se sentou e suspirou pesado.
- Você não devia ter visto isso. — Milena me olhou chorosa e eu apenas assenti.
Eu estava chocada e imóvel. Não sabia o que dizer. Eu sentia a dor dela por ter sido abandonada por um irmão. Eu sabia que não havia sido nada fácil.
- Onde está o Caio? — Conrado perguntou
- Não me fala desse idiota! Quer saber, sai da minha casa. AGORA!
Conrado me olhou como se pedisse ajuda e eu desviei meu olhar para o pano da mesa.
[...]
Haviam se passado 2 dias da discussão entre Milena e Conrado. Ela estava fechada e havia me pedido desculpas algumas vezes, apenas aceitei. Ela não queria conversar sobre isso e eu não reclamei. Estava pensando sobre o assunto até meu despertador tocar, havia acordado mais cedo. Fiz o que já era de rotina e desci para ir até o ponto.
Cheguei na faculdade e fui direto para sala. Eu estava em um dia horrível, minha cabeça latejava e minha vista estava embaçada. Assisti as três primeiras aulas com muito custo. O sinal tocou e todos saíram da sala, eu permaneci ali, imóvel. Minha cabeça não parava. Não aguentava mais tomar remédio.
- Tenho sentido sua falta. — Richard disse colocando dois lanches na minha mesa e arrastou uma cadeira — Você precisa ir ao médico
- Ai amigo, eu só quero dormir. Minha cabeça não para de latejar.
- Come. Você não come nada. Só estuda, trabalha, dorme e toma remédio, Anne.
Revirei os olhos e com muito esforço, aceitei o lanche.
- Está tudo bem por aqui?
Era a última voz que eu queria ouvir hoje.
- Tudo bem, professor Conrado. — Disse sem olhar pra ele.
Continuei conversando com Richard até o sinal bater. Ele me deu um beijo na testa e saiu da sala. Conrado me encarou e eu revirei os olhos. Que implicância.
- O intervalo já acabou. Se acomodem e sem barulho, por favor.
Conrado disse ríspido e a sala se formou um completo silêncio. Ele começou a explicar o assunto e eu não ouvia nada. Era muito estranho, minha cabeça latejava e minha visão ficou turva.
- Anne? — A voz do Conrado soou longe. — Ta tudo bem? A aula já acabou.
Apenas assenti e me levantei. Vi tudo girar e senti os braços do Conrado em mim até tudo ficar preto.
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365
Teen Fiction"Para sempre" é tudo aquilo que fica na sua memória. O para sempre pode durar 30,60, 365. ou uma vida inteira. Isso é você quem escolhe!