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Minha mente estava atribulada. Parecia que nos últimos dias aquela antiga Bella que existia em mim havia retornado, e aquilo me deixava insana. O dia no hospital havia sido cansativo, por isso decidi ir embora antes mesmo de o sol se pôr. Minha cabeça estava pesada... Tudo o que eu precisava naquele instante era de uma cama pra me deitar e não levantar nunca mais. E foi esse o meu pensamento até estacionar o meu carro na garagem de casa e adentrar a porta da frente.

- Amor, cheguei... - Falei inutilmente, sabendo que Damon me ouvira chegando.

Coloquei minha bolsa em uma mesinha no hall de entrada, tirando meus sapatos de salto enquanto encontrava meu marido na sala, de costas, em frente à enorme lareira. Ainda era dia e nem fazia frio, então não entendi a necessidade daquilo... Mas a sala estava escura, e as cortinas fechadas, iluminada apenas pelas chamas.

- Por que acendeu a lareira, amor? - perguntei curiosa, aproximando-me com um leve sorriso brincando em meus lábios.

No entanto, não obtive qualquer resposta. Damon continuava estático, embora eu pudesse notar sua respiração ofegante... E, abaixando o olhar, pude vislumbrar um copo de uísque em sua mão esquerda enquanto na direita havia o que parecia ser um papel desgastado...

- Damon, amor, o que houve?

- O que houve, Bella? - perguntou, a voz cínica, ainda sem se mover - Por que você nunca me falou sobre isso?

E, então, ele ergueu levemente a mão que segurava o papel. E a minha dúvida era ainda maior.

- O que é isso? - questionei, sem entender onde ele queria chegar.

- Isso é a porra de uma carta que o Edward deixou pra você antes de partir, há quinze anos! - esbravejou, jogando o copo de uísque na lareira, fazendo-a chamuscar e enraivecer as chamas.

Eu fiquei estática. Aquele momento jamais havia se passado em minha mente... Eu me sentia um soldado inexperiente pisando em minas ocultas; e um sentimento de angústia começou a preencher o meu peito de uma forma tão agonizante a ponto de me fez esquecer como se respirava. Era um misto de raiva, culpa e remorso que talvez apenas Judas entendesse.

- Isso não é nada... - sussurrei sem conseguir encarar Damon, fechando os olhos e sentindo uma lágrima traiçoeira deslizar pelo meu rosto. E eu continuava a mentir para mim mesma...

- Nada? - ele abafou um riso irônico - Então você decidiu guardar esse nada só pra mostrar ao Papai Noel o quanto você sofreu e pra ele trazer o seu Edward de volta?

- Por favor, não me julgue... - Minha voz saiu em um fio, ainda sem conseguir fitá-lo.

- Aja como uma adulta e admita que você ainda ama esse infeliz! - Damon gritou, insano, fazendo-me abrir os olhos para olhar sua expressão desesperada. E eu não perdi a chance de revidar.

- Você ainda a ama? - questionei sem hesitar, secando o meu rosto com as mãos, bruscamente, trazendo à tona um assunto antes esquecido.

- Como? - Ele me olhou confuso, provavelmente julgando minha sanidade.

- Assim como você ama... Rose? - Aproximei-me a passos ardilosos, avaliando sua reação. - A sua primeira namorada que fora prometida a outro homem?

O escárnio em minha voz provocou Damon, eu sabia. E por mais que eu também soubesse que a canalha na história era eu, foi impossível ficar calada. Aquilo cutucava o meu peito há um bom tempo e apenas alimentava as feridas não cicatrizadas.

- Bella, me poupe! - Ele riu, sarcástico, seus olhos azuis faiscando tanto quanto as chamas. - Você não acha que quem deveria sentir ciúmes aqui sou eu?

Respiro MeOnde histórias criam vida. Descubra agora