Alone

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‘ALONE’

30 de junho de 2013

Pela primeira vez este mês dou comigo a pensar na minha mãe. Como era, o que fazíamos, como me sentia com ela. Todas as manhãs ao acordar a minha mãe tinha sempre o pequeno-almoço pronto: sumos, leite, chás, torradas, panquecas, ovos mexidos, bacon, tudo o que poderia ser imaginado. Depois do pequeno-almoço tomado eu e a minha mãe íamos sempre dar uma volta até ao parque. Era fantástico. Ela empurrava-me no baloiço, e torcia por mim enquanto descia no escorrega e fazia castelos na caixa de areia. Normalmente ficávamos no parque até a hora de almoço e quando chegávamos a casa a minha mãe preparava sempre a melhor das refeições. À tarde costumávamos ver um filme juntas ou bebíamos chá imaginário do meu conjunto preferido. E o melhor? Antes de ir dormir, a minha mãe contava-me sempre uma história para adormecer, aconchegava-me e dava-me um beijo de boa noite. Eu sentia-me protegida. Eu sabia que eles estariam sempre lá para mim e nunca me sentia sozinha...

Mas, a minha mãe ficou doente, muito doente. Não percebi o que se passou, mas ela piorava de dia para dia. Foi aí que ela ligou ao meu pai.

#Flashback

«"Sim, eu sei que tu não querias ter nada a ver connosco, mas ela precisa mesmo de ti. Eu estou a piorar rapidamente e quando eu ja não estiver aqui ela não vai ter ninguém.

Por favor toma conta dela, só durante algum tempo, por favor”

A mamã começou a chorar. Ela vai-se embora? Porque é que mamã não quer ficar aqui comigo? E se a mamã for embora porque é que eu não posso ir com ela? A mamã vai-me deixar sozinha?»

Na altura não percebi, mas quando ela faleceu o meu pai veio me buscar. Nunca me esquecerei desse dia. Eu não conseguia parar de chorar, tudo o que sabia é que a minha mãe não iria voltar e isso é algo que nenhuma criança de cinco anos está preparada para ouvir. E nessa altura um carro para a frente da nossa casa e a minha vizinha até à porta. Ela disse-me que gostava muito de mim e para ser forte, que a minha mãe olharia sempre por mim. Dito isto, um homem saiu do carro e mandou-me entrar. E foi assim que vim parar ao orfanato. Ao princípio foi muito difícil pois eu nunca tinha estado mais do que algumas horas sem a minha mãe, então senti-a mesmo muito a falta dela, na realidade ainda sinto.

Só há alguns anos é que percebi que o homem que me trouxe para cá era o meu "pai". Para mim o meu pai não passa de um homem que me abandonou. Ele não me criou nem me viu crescer. Não esteve comigo durante os meus primeiros anos de vida e quando eu o finalmente vejo a única palavra que me dirigiu foi "Já não tens idade para chorar". Sim, ele disse-me isso logo após a minha mãe ter morrido.  Ainda bem que não tive de crescer com ele, e ainda bem que ele me trouxe para um orfanato em vez de me deixar ficar com ele. Eu sei que parece estranho, mas eu nunca consideraria ficar com ele, uma opção.

Após um grande período de meditação sobre a minha "infância", finalmente levanto-me da cama. Nesta última semana tenho tomado o pequeno-almoço todos os dias com o Niall, estou a começar a confiar nele. Eu sei que não é uma boa ideia, que ele vai deixar-me tal como toda a gente, mas é difícil evita-lo. Quem me dera ter conhecido o Niall noutra vida, onde tudo fosse mais fácil. Num Universo Paralelo onde a minha mãe nunca me tivesse deixado, onde o meu pai não fosse um desperdício de espaço, onde eu tivesse uma família feliz. Nesse mundo nada de mal acontecia e quando eu conhecesse o Niall eu seria normal. Uma adolescente que tem e teve uma vida regular, com uma infância digna de admiração e uma vida cheia de surpresas à sua frente. Nesse mundo eu seria alguém que alguém como o Niall quereria estar, seria alguém que eu dava tudo para ser...

Speechless LoveWhere stories live. Discover now