Alone- parte 2

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Samantha!"  

Ouvi o meu nome a ser chamado, e quando me virei lá estava ele.  Olhei fixamente para ele e por uma fração de segundo, os nossos olhos encontraram-se. Foi como se o meu corpo ficasse aprisionado num transe profundo, numa espécie de hipnose controlada. Mesmo que quisesse mover-me, desviar o meu olhar, não conseguia. Os olhos azuis dele eram tão... cativantes. Sim, acho que cativantes é a palavra certa. Não achava possível haver olhos assim. Antes de conhecer o Niall acho que nunca olhei para os olhos de ninguém, não via objetivo em tal ato. Claro, há quem diga que os olhos são a janela ou o espelho da alma, mas se a escuridão for tal, o que valerá observa-los? Observar o espelho da alma sem ter quaisquer intenções de observar a alma em si parece-me contraditório, estúpido até.  Mas o Niall é diferente... Se os seus olhos forem como a sua alma, então estou certa que continuarei a observa-los.

Passados uns bons momentos de observação detalhada, finalmente fui capaz de desviar o olhar. Mas não antes de reparar que o Niall estava a olhar para mim também.  E tal como eu, mantinha o seu olhar nos meus olhos. E isso assustou-me. Será que ele conseguia mesmo ver a minha alma? Quem eu sou e quem eu fui, tudo o que passei e tudo o que deixei...? Eu odeio estar assustada. Leva-me de volta ao dia em que o meu pai me levou. Ao dia em que o meu futuro estava incerto, e eu, ainda agora, não gosto de me sentir assim.

Outra coisa que me lembrei foi o porque do Niall saber o meu nome. Como é óbvio, eu não lho disse. Se calhar foi alguém que lhe contou, ou ele perguntou , ou era obrigatório os voluntários saberem os nomes de todos o que estão no orfanato. Bem, a razão pela qual ele sabe o meu nome é-me  desconhecida, mas qualquer que ela seja, estou grata por ele o saber.

"Samantha, está tudo bem?" o Niall questionou

Ouvir a voz dele foi o suficiente para me afastar dos meus anteriores pensamentos. Eu sorri e acenei. Eu adoro isso nele, mesmo só com um sorriso, é capaz de melhorar tudo. Todas as dúvidas e hesitações parecem desaparecer. E ficamos só nós os dois, só eu e ele. O Niall e eu. Sozinhos, mas juntos ao mesmo tempo.

"Ainda bem"  e sorriu-me de volta

Quem me dera que a minha vida não fosse a confusão que é. Que eu pudesse responder-lhe simplesmente tal como toda a gente faz. Adorava ser como toda a gente, ser normal. Eu dava tudo para lhe responder, mas por mais que tente, não consigo. Na realidade, não tentei assim tão fortemente... mas a intenção conta, certo? Espero que sim.  Não é que eu não queira falar com ele, mas se eu o fizer vamos criar uma ligação. Uma ligação que não tenho com mais ninguem, e vamos acabar os dois magoados. Eu vou afasta-lo, e ele vai deixar-me sozinha. E eu não posso permitir que isso aconteça. O Niall é demasiado importante para mim para eu o deixar fugir, ou para eu o fazer fugir... Já é mau suficiente saber que até ao final do verão, ele ir-se-á embora. Essa é outra das razões pelas quais não me posso permitir ficar tão dependente. Acontece sempre a mesma coisa, o apego gera dependência, e a dependência gera desequilíbrio e  dor, e eu não quero, nem posso, sujeitar-me a tal destino.

Fomos comer, e durante todo o pequeno-almoço a partida do Niall não me saiu da cabeça. Acho que o pior de tudo é saber que por mais que tente, não haverá nada que eu possa fazer para o evitar. Ele vai-se embora, sem nunca mais voltar. E é com este pensamento que uma lágrima me escorre pela face, e viro costas apressadamente.

Speechless LoveWhere stories live. Discover now