First day

170 16 4
                                    

SAMANTHA POV

17 de junho de 2013

Eram sete e meia da manhã, já estava acordada e vestida. Olhei para o sol através da pequena janela do meu quarto -não sei bem se posso chamar isto de quarto, mas á falta de uma melhor definição , "quarto" terá de servir...

Já estávamos em junho, e o chilrear dos pássaros era agora uma melodia constante. Eu adorava ser um pássaro. Poder voar para onde quisesse,quando quisesse. Ser livre... Os pássaros não dependem de ninguém, conseguem viver sozinhos, tal como eu. Mas as pessoas não entendem isso... Eu não sinto necessidade de estar rodeada de gente, a minha própria companhia é-me suficiente.

De repente, uma voz avisou que toda a gente tinha de ir para a sala comum pois a diretora do orfanato ia fazer um comunicado. Dirigi-me até la, e sentei-me o mais afastada possível da multidão. A Diretora começou a falar.

"Como sabem, já estamos em junho e deste modo a nossa instituição vai receber, pelo segundo ano consecutivo, um grupo de voluntários (...) "

"Voluntários", esta palavra soa-me mal. Duvido que alguem viesse para aqui voluntariamente, nem que fosse só para passar tempo. Não faz sentido. Mas também nao tem de fazer... Eu não gosto de voluntários, são intrometidos e fazem-me mil e uma perguntas, mesmo sabendo que não lhes vou responder. No ano passado tentaram ensinar-me a falar , como se eu não soubesse! Quer dizer, eu acho que sei... Pelo que me lembro, eu já falei. Simplesmente, não acho necessário faze-lo. Falar envolve existência ou a criação de uma ligação entre os emissores e recetores, e como não preciso nem tenho uma ligação com ninguém, a fala é-me indiferente.

24 de junho de 2013

"É favor toda a gente dirigir-se à entrada "

Acordei com esta frase a ser repetida continuamente pelo autifalante. As pessoas não entendem que o silêncio é algo a ser preservado, e isso enerva-me.

Vesti-me rapidamente e fui ate à entrada. Vi caras desconhecidas, assumi que eram os voluntários. Segundo a Diretora, eles estão cá para nos ajudarem, mas eu não preciso de ajuda. Não sou uma criança. Aliás, não sei se algum dia o fui... 

Um rapaz fixou o seu olhar na minha direção, ignorei e concentrei-me nos meus pensamentos

NIALL POV

O edifício era sombrio, mas não tanto como imaginei. Não acredito que a minha mãe me obrigou a vir fazer voluntariado durante as férias de verão. Juro que para o ano estudo só para não passar o meu verão neste sítio! Cuidar de crianças definitivamente não é a minha cena.

Passei os portões do orfanato e dirigi-me à entrada. Ao contrário do que pensava, não estavam la apenas crianças, mas também pessoas que não aparentavam ser muito mais novas que eu. O meu olhar fixou-se numa rapariga com o cabelo ruivo que olhava para o vazio. Ela era, digamos... intrigante. Apressei o passo para me aproximar dela, mas fui interrompido por uma mulher, já com alguma idade, que me chamou.

"Venha comigo por favor"

Segui a mulher até um pequeno escritório. Ela sentou-se numa cadeira e pediu-me para que fizesse o mesmo.

"Eu chamei-o até aqui para lhe falar de um caso de uma criança em particular "

"Pode falar", respondi secamente

"Bem, como  já deve ter reparado há uma rapariga, a Samantha, que manifesta uns comportamentos um pouco... diferentes"

"Samantha?", questionei duvidoso

"Sim, uma rapariga ruiva, a mais velha aqui do orfanato"

"Ah, ja sei de quem está a falar. Mas, diferente como?", percebi que a mulher estava a falar da rapariga que estava na entrada.

"A seu tempo entenderá..", acrescentou a mulher, deixando-me curioso.

Voltei para a entrada e a tal rapariga, Samantha , estava a ir-se embora. Decidi cumprimenta-la, sem pensar duas vezes no assuto.

 SAMANTHA POV

O tal rapaz da entrada estava agora a vir na minha direção. Não percebo porquê.

"Hey, eu sou o Niall, um dos voluntários. E tu?"

Não sei porque é que me fez uma pergunta, porque como é obvio eu não lhe vou responder. Não sinto necessidade de o fazer.

"Então, não me vais reponder? Bem, eu gosto de raparigas enigmáticas" e sorriu

Continuei sem perceber o porquê de estar a ser bombardeada com perguntas, e o porquê do rapaz me ter sorrido. Estou a sentir-me incomodada, desconfortável. 

Dei meia volta e saí da beira daquele rapaz. Espero bem não ter de o aturar durante o verão todo, tenho coisas mais interessantes a fazer.

Eu seria tão mais feliz se não tivesse sempre rodeada de gente. Se vivesse sozinha no meio do nada, rodeada da natureza, de um bom livro. Tudo menos pessoas. Aí sim, seria verdadeiramente feliz, seria livre. Haaaaa, como eu desejo ser livre!  Estaria a mentir se dissesse que nunca pensei em fugir, mas nunca o cheguei a fazer. Não consegui, não sei porquê. Não , não foi por gostar deste lugar ou por aqui me sentir em casa, foi simplesmente como se algo me prendesse, me pedisse para ficar. Então eu fiquei...

 Ter 17 anos e viver num orfanato é horrivel. Tenho sempre crianças atrás de mim a falarem, a fazerem perguntas, a me tocarem! É assustador. Começo a entrar em pânico e tenho de ir para um sitio mais sossegado. Odeio  tanto pessoas. Mas no entanto, se houvesse só eu no mundo não ficava completamente feliz. Eu como, eu preciso de um sitio para dormir e roupa, logo é necessário haver gente que faça isto tudo. Mas essas pessoas podiam viver numa metade do globo, e eu na outra. Nem era preciso tanto, eu já contentava com a Europa só para mim. Não acho que seja pedir muito...

Speechless LoveWhere stories live. Discover now