Ela se foi?

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Pare de chorar !

Era difícil ver ela indo de cômodo em cômodo, perambulando feito um zumbi.
Ela chorava e gritava, se sentia vazia, mas quem pudera julgar.
Pobre menina, estava perdida!
A peguei sentada na calçada pensando no suicídio, 60 comprimidos, um bom vinho e uma carteira de cigarro, uma poesia, uma carta de Adeus.
De que adiantará, tranca-la?
Eu chorei por não poder fazer nada, me sentei ao seu lado.
Ela não queria fazer isso entende?
Sei que não quis mas fez.
Uma noite de hospital, de lavagem estomacal, a vi morrer por dentro!
Minha garotinha estava se desmoronando aos poucos, sentada no banco do carro ao seu lado a observei olhando as pessoas.
Ela queria ser qualquer uma delas.
Minha garotinha tinha se perdido entre elas, segurei sua mão e fomos para casa.
Aquela noite a vi sonhar com todos que amava, com todos que a mataram.
Ela desligou os piscas piscas de seu quarto.
E fechou a janela, o calor a consumia mas ela sabia que a escuridão a abraçaria.
Ouvia gritos:

-Garota fingida!
-LOUCA!
-PESTE!

No outro dia apenas ouvia sussurros.
-Ela só quer chamar atenção.
-Olha a garota do hospício.
-Estranha

Ninguém realmente via seu interior, ninguém se importava com ela de verdade.
Lucas aos beijos com outras garotas, e ela "sozinha"
Porém eu um peso morto, estava ali, como as pessoas não viam? Como elas não sentiam?

-Então vá assistir aula que passa!

-A vida é linda.

-Já vai passar.

Mas ninguém a segurava no colo como eu faria, só diziam isso e pronto.
Seu coração batia, mas ela estava morta, ela dizia:

Hoje eu abri os olhos.
Com a sensação que iria morrer.
Que finalmente meu corpo.
Encontraria um descanso.
Que meus olhos se fechariam para todo sempre.
Meu coração acelerou!
Minha garganta secou.
Junto a minha boca.
Respiração parou.
Por um segundo meu corpo já tinha ido.
Por um mero segundo.
Eu me encontrei com a minha alma.
Então eu abri os olhos.
E ali estava!
Viva, ou melhor meu corpo estava vivo.
E assim voltei a perambular como um zumbi.
Tentando ser o mais normal possível.
Atuando, imitando.
Me misturando.
Sendo mais uma na multidão.
Mas logo serei vista.
Logo perceberam.
Pois minha carne já está apodrecendo.
E o mal cheiro se erguendo.
Alguns já viram a falta de brilho nos meus olhos.
Então por que esse senhor, acima desse céu bonito.
Não me socorre?
Jamais serei uma de vocês, jamais serei viva!
Nunca mais darei um sorriso sequer.
Sinta-me.
Veja-me.
Mate-me.
Eu te imploro!
Sou só mais um soldado voltando da guerra.
Com uma doença infecciosa.
Tira-me meu sofrimento.
Pois tu sabes que logo morrerei.
Atira-me.
Eu repito.
Sinta-me.
Veja-me.
Mate-me.

-K

Consolo InvisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora