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Apenas Carina


Oi! Eu sou a Carina Lopes Bragantino, tenho vinte e oito anos, sou nascida e criada em Porto Alegre. Se tu for à Prado Cavalcante, empresa onde trabalho, tu vai ouvir elogios e xingamentos a meu respeito. Sim, eu sou a CEO de uma multinacional do ramo alimentício, tenho vários prêmios pelo meu desempenho na área em que atuo, faço negócios com empresários do mundo inteiro, falo oito idiomas, enfim... a lista de atributos é longa. Em resumo, sou uma mulher bem-sucedida. Mas se tu vier passar uma noite comigo, na minha casa, bah! Tu vai provavelmente pensar que sou louca, sem noção alguma do ridículo e sem qualquer senso crítico. Por quê? Tu vai entender...

Eu nunca fui uma guria descolada na escola. Era ótima aluna, sempre tirei as melhores notas, era a queridinha dos professores, mas nunca fiz sucesso com os guris bonitos... e nem com as gurias bonitas também. Para falar a verdade, nem os feios me queriam. Hoje eu me considero uma bela mulher, cuido muito bem do meu cabelo, pele e corpo, mas na minha adolescência eu era assustadora. Meu cabelo tinha ódio de mim, meus dentes eram tortos e as acnes eram as minhas companhias. Eu tinha espinhas de todas as formas e espécies; até colocava nome nelas.

Eu fui apaixonadinha por um guri que jogava xadrez. Ele era do oitavo ano, campeão da turma. Lindo! Não, eu nunca fiquei com ele, nunca sequer trocamos uma palavra. Não que ele fosse metido, o problema era comigo mesmo.

Sempre fui muito antissocial, nunca tive coragem de falar com ninguém. Era tímida e muito educada, polida demais para a minha idade. Só falava com quem falava comigo.

Depois, no Ensino Médio, eu me encantei por uma guria, fugindo de tudo o que eu admirava. Isso não me chocou: se eu podia gostar tanto de meninos quanto de meninas, poderia também gostar de pessoas que eu não imaginava me atrair.

Ela era a guria mais linda da escola inteira, o meu extremo oposto em tudo. Enquanto eu participava das olimpíadas de matemática, ela participava de concursos de beleza. Suas notas não eram lá essas coisas, sempre passava arrastada, então sua mãe me contratou para lhe dar aulas particulares.

Eu fiquei em êxtase, mesmo sabendo que não havia qualquer chance de algo acontecer entre nós. Ela era tão perfeita que com certeza devia ter uma fila de guris e gurias lindos, esperando para terem uma chance, então, jamais me notaria.

Mas nem posso julgá-la, pois nunca conversamos sobre os meus sentimentos. Aliás, nunca falei sobre isso com ela nem com qualquer outra pessoa por quem eu tenha me interessado, naquela época. Minha infância e adolescência se resumiram a estudar, apenas. Por isso sou precoce, profissionalmente.

Depois de formada, até namorei duas pessoas. Mas se existisse um jeito de desnamorá-las, eu as desnamoraria. Mas não foi disso que vim falar aqui. Até porque sei que tu está pouco se lixando para a minha infância sem graça ou para a minha adolescência nula de vida social; muito menos para essa pose de CEO fodona que eu tentei desenhar.

O que quero falar, na verdade, é sobre a minha vida em casa, depois que eu desço do salto, removo a maquiagem, deixo o cabelo de qualquer jeito e me desmonto da sisuda Carina Lopes Bragantino para voltar a ser apenas a Carina.

A Carina é só uma guria sonhadora e apaixonada, que escreve poesias para pessoas imaginárias e tem como único companheiro um gato persa, chamado Michael B. Jordan — Sim, eu acho o ator muito gato. Enfim, não me julgue. Ele é meu crush supremo.

Agora vamos em definitivo ao que interessa: eu vou te contar uma história, a história do meu Grande Amor:

Eu conheci Helô Marinho, ou melhor, a voz dela, dois anos atrás, quando cheguei em casa depois de um dia exaustivo na empresa e liguei o rádio. O locutor antigo havia saído. Não sei o motivo, mas foi uma boa troca. Apesar de não acreditar que alguma estação de rádio fosse tocar algo que não fosse algum estilo chiclete irritante, resolvi deixar lá e me surpreendi quando começou a tocar My Angel, de Richie Kotzen (é mais um crush meu).

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