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Sintonia



Ainda sob o efeito do álcool ou não, eu só queria uma desculpa para me soltar perto dela. Eu a vi linda, sorrindo enquanto falava; aquilo me deixava perdida. Amava aquele jeito dela, parecia estar sempre feliz.

Enfim, eu tomaria coragem para chegar mais perto. Estava tocando seu rosto quando um homem entrou. Era o colega dela, que assumiria a programação da rádio naquela madrugada. Helô sorriu e o cumprimentou. Ele me olhou, sorrindo também.

— Essa é a Carina, minha amiga, Pedro — falou, e ele me cumprimentou.

Logo depois de ela recolher suas coisas e entregar tudo ao colega, nós saímos. Ela me perguntou onde eu morava e falei. O som do carro dela ligou logo que saímos do prédio da rádio.

Fizemos o percurso ouvindo Jason Mraz e Colbie Caillat - Lucky, baixinho. Notei que ela estava calada. Talvez estivesse muito cansada. Ia convidá-la para subir e conversarmos mais, mas resolvi deixar com ela, que, para minha frustração, parou na frente do meu prédio, e com um sorriso no rosto, disse:

— Entregue! Amei te conhecer melhor. Boa noite!

— Boa noite! Também amei te conhecer pessoalmente, amei a rádio. Tu é incrível. Obrigada! — eu disse e saí do carro depois de dar um beijo carinhoso em seu rosto.

Ela ficou parada, me observando entrar no prédio, e acho que só foi embora depois disso.

***

Por um momento, eu achei que Carina fosse chegar perto demais de mim. Senti um arrepio intenso, nem sei por que, mas senti. O Pedro me olhou e pensei que tivesse visto alguma coisa. Todos na rádio sabiam da minha orientação sexual, mas eu não queria ser vista no meu local de trabalho com alguém.

Imaginar o casal ganhador do prêmio daquela noite me fez pensar coisas com Carina e talvez eu estivesse ficando louca. Apesar de Carina me falar que era muito tímida e todas aquelas coisas que eu não acreditava muito, cheguei a pensar que fosse me beijar. Acho que isso me deixou tensa e surpresa. Como alguém tão tímido faria algo daquele tipo? Ok, confesso que estava assustada, já pessimista, naquele pouco espaço de tempo de contato físico com ela.

Já sentia coisas que não se sentia normalmente. Devia ser seu jeito transparente e meigo de ser, e já temia iniciar algo com ela e acabar em lágrimas, como sempre, mas ao mesmo tempo via que podia estar enlouquecendo. Foi só uma aproximação e, depois, tinha o fato de talvez ela nem curtir meninas. Bah, que raiva da minha loucura!

Não falávamos de relacionamentos. Eu não queria falar da Adriana e nem podia dizer que a tive como namorada, pois ela me traíra dois meses depois de termos começado.

Quando muitos dizem que estão ficando em dois meses, para mim é namoro, sim. Sou o tipo de guria que se compromete no primeiro beijo.

Adriana nunca se comprometera comigo e na primeira oportunidade me traíra. Eu acho que sou capaz de ser amada de verdade, sim. Só não queria aquilo naquele momento, não queria começar uma "caça".

Tinha uma preguiça enorme de conhecer alguém, passar pelo falso crivo da conquista. Não era amarga, só achava que, se era para tu se esforçar apenas até conseguir levar a pessoa para a cama, era um esforço falso. Eu tinha que estudar e me aperfeiçoar todos os dias para não ser engolida no meu trabalho. Por que não podia ser assim também na vida pessoal? Por que um trabalho era mais importante do que uma pessoa que muitas vezes dizemos que amamos? Não sei se tu me entende, mas eu penso assim. Posso ficar velhinha sozinha, mas acredito que a conquista precisa ser constante e mútua.

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