Luto para acompanhar as passadas largas da garota. A jovem, que não deve ultrapassar muito minha idade, é no mínimo uns dez centímetros mais alta, o que oferece-lhe pernas mais longas e ligeiras. Não que eu seja baixa, mas ela realmente tem a estatura acima da média feminina, medindo mais ou menos o mesmo que meu irmão. Seu cabelo é curto, loiro avelã, menor atrás do que na frente, onde chega até os ombros. Não desperdiço mais tempo estudando sua aparência.
Quando chegamos ao último degrau da escada, a menina me solta, seguindo até a recepção. Sem saber exatamente o que fazer, vou atrás.
— Theron? — chama ela.
Em um só pulo, um rapaz surge detrás do balcão, utilizando uma das mãos para varrer algo para longe de seu casaco preto. Seus fios loiros bagunçado são da mesma tonalidade que os da estranha que me tirara do sono, levando-me a crer que são parentes, talvez até irmãos. Quando encontro sua outra mão, meu coração dispara.
— Não se preocupe com isso. Não é para você — como se enxergasse o medo em minha expressão, ele fala para mim, referindo-se à sua enorme arma de fogo. — Pelo menos não ainda.
— Ainda?
— Desde que não se transforme em um deles, está consideravelmente segura conosco — é sua resposta. Para meu desgosto, acho que entendo o que ele quer dizer.
— Não podemos enrolar. Estamos um tanto apertados aqui — resmunga a garota, indicando com a cabeça a porta que leva até a cozinha.
Theron assente, entregando-lhe outra arma. Lado a lado, ambos correm até a porta. Sigo-os com certa desvantagem.
Logo que consigo alcançá-los, Theron bate um pé no chão, ganhando um "Shhh" em resposta.
— Está trancada.
— Arrombem — sugiro.
Com menos de meia dúzia de chutes da dupla, a madeira cede, deixando-se ser escancarada, abrindo caminho para uma cozinha imunda. Se não fosse pela nojeira e pela pressa de sair daquele lugar o mais rápido possível, eu definitivamente tiraria um tempo para abastecer meu estômago. No fogão, felizmente desligado, uma panela fria transborda alimentos. Na pia, copos, pratos, talheres e vários outros utensílios de cozinha aparentam estar de molho há mais tempo do que provavelmente estão. O odor de comida podre faz com que meus dedos involuntariamente se fechem em minhas narinas. Theron é o único que não demonstra reação quanto ao fedor.
Paralelamente a nós, a estreita porta dos fundos encontra-se cada vez mais entreaberta, sendo empurrada pelos sopros do vento. Acompanhando os dois, na ponta dos pés, a atravesso, saindo ao ar livre. A ventania rapidamente eriça meus pelos e faz meus dentes rangerem. A noite é quando o frio torna-se mais insuportável no vilarejo de Rouda. Sinto-me nua só com uma blusinha, uma calça e um casaco entre mim e as congelantes rajadas de ar.
Devo estar imprudentemente distraída, pois o soar de uma arma faz com que eu solte um grito. Dois pares de olhos raivosos viram-se para mim. Encolho-me, sibilando um pedido de desculpas. Ambos parecem me ignorar. Quase posso os escutar xingando-me mentalmente.
E então outro tiro. Forço os olhos na direção em que o disparo atingira bem a tempo de ver um corpo caindo.
— O que estão fazendo? — gaguejo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Nevoada
FantasyVocê conseguiria não se perder quando tudo que resta é a perdição? Agora uma sem-teto, Emery Harvord terá que sobreviver a muito mais do que apenas as ruas quando um estranho genocídio arrasa o pequeno vilarejo onde vive. Isolada com suas dúvidas, a...