CINCO

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Deitada sobre o chão forrado com restos ásperos de cobertores do que possivelmente fora algum tipo de depósito, quase sinto falta de meu quartinho na estalagem. As paredes tristonhas formam um quadrado apertado que possui como única saída uma portinha, cuja a chave mantenho em mãos.

Sonolenta, fito teto. Uma lâmpada em desuso pende precariamente em paralelo a minha testa. Posso jurar ter visto o balançar dos fios expostos que a prendem lá no alto. Já é a terceira vez que acordo nesta madrugada... se é que ainda não amanheceu. Aqui dentro, isolada entre quatro paredes, sinto-me tratada como uma presidiária, prejudicando meu descanso. Não há espelhos por aqui, mas tenho certeza de que minhas olheiras compõem praticamente toda a região abaixo de meus olhos.

Repentinamente, a porta chia. Sufoco um grito assustado, encolhendo-me num canto contrário do quarto. Theron avança sorrateiramente, parando ao pé de minha cama improvisada. Ele não fecha a porta atrás de si, o que me tranquiliza um pouco, só um pouco.

Meu coração ainda parece prestes a saltar de minha boca.

— Dormiu bem? — a pergunta soa como uma piada.

— Como uma pedra — murmuro, fazendo-o sorrir.

— Não sei quanto a dormir, mas tenho noventa e nove por cento de certeza de que acordou rígida como uma.

Inclino a cabeça para o lado e pisco em confusão. De início, entendo que seu comentário quis dizer a respeito de meu péssimo humor matinal. Quando me levanto, entretanto, noto o quão enrijecido está meu corpo. Estreito os olhos, irritada, porém não tão mais receosa com a presença de Theron. Sua postura é relaxada, quase brincalhona.

— Pelo o que vejo, não é apenas meu conforto que não se encontra entre as prioridades de vocês, anfitriões — digo, encarando uma cópia das chaves dadas a mim por Acacia correr um círculo ao redor de seu indicador.

— Não é como se eu fosse flagrá-la pelada.

— Bem, algumas mulheres preferem dormir só com as roupas íntimas.

— Duvido que alguém goste de dormir nu nesse frio — fala ele, fingindo aquecer a si mesmo.

— Seminu — corrijo. — E diga por si, não pelos outros.

Ele revira os olhos, assentindo.

— Que seja. Perdoe-me, senhorita. Baterei na próxima vez — responde ele, mais para encerrar a discussão do que para qualquer outra coisa.

— Não haverá próxima vez — declaro, ríspida. Suas bochechas se dobram, exibindo covinhas. Ele não chega a abrir a boca, mas seus lábios giram brandamente para cima.

— De qualquer forma, vim convidá-la para tomar banho. Não comigo, claro, mas pensamos que talvez você quisesse se limpar — explica, acelerando o fluxo das palavras a partir da segunda metade de sua fala.

— E vocês pensaram que quero rever meu irmão também, certo?

— Sim. Conversaremos sobre isso depois do almoço. — responde, inexpressivo.

— Só depois do almoço? — reclamo, cruzando os braços.

— Já são onze e meia, Emery.

— Ah...

Um sorriso tímido ameaça brotar em meus lábios.

Com um gesto, Theron me convida a sair. Ignorando as dores de meu carpo, caminho até estar ao seu lado, levando um pequeno susto ao ouví-lo bater bruscamente a porta atrás de mim.

Não trocamos mais palavras.

Não trocamos mais palavras

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NevoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora