SEIS

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Todos estão devidamente vestidos para o tempo ruim, cobertos da cabeça aos pés com camadas e camadas de roupas. Diferente de mim, cada um carrega pelo menos uma arma consigo, mas aposto meu jantar que nem metade dessas pessoas sabe como apertar um gatilho. Pergunto-me se algum dia aprenderei a manusear um revólver. Deve ser legal saber atirar, mas não para matar. Lá no fundo, entretanto, meu subconsciente alerta que a habilidade de assassinar em breve pode tornar-se mais necessária do que aparentemente já é. Matar para viver, lembro a mim mesma. Mesmo assim, na minha cabeça, isso não parece justificar o ato de dar fim a uma vida.

Não demora muito para que eu note a ausência de Kolth. Ao que parece, ela é a única que ainda não chegou. Nem sei se chegará. De qualquer forma, não contesto. Não é como se eu fosse ficar magoada por perder a oportunidade de desfrutar de sua companhia.

— Emery, você se lembra mais ou menos onde fica a loja de roupas? — questiona Acacia, tirando-me de meus devaneios.

— Não muito — admito. — Só o que eu já disse.

Ela expira demasiadamente, fazendo o oxigênio que antes segurava nos pulmões tornar-se uma pequena névoa perambulante pelo ar.

— Tudo bem, entendo — fala ela, jogando-me uma arma. Surpresa, pego o objeto desajeitadamente.

— Eu não sei mexer nisso.

— Considere isso um plano B — Theron diz para mim.

— Não pode ser um plano Z? — gaguejo.

Ele inclina a cabeça para o lado esquerdo, enviando-me um sorriso forçado, porém encorajador. É a única resposta que recebo.

Quando olho para cima, já aqui do lado de fora, fico convicta de que hoje é o dia mais ensolarado deste inverno. Apesar do vento congelante, o sol desponta dos cantos das casas e árvores, iluminando o céu azulado. Para minha alegria, há apenas um pequeno punhado de nuvens preguiçosas indicando a formação de uma futura tempestade. Caso chova, será apenas ao anoitecer.

A neve derrete continuamente, transformando terra em barro, sujando meus sapatos já imundos. A cada passo que dou para acompanhar o grupo agora em locomoção, mais e mais enfio a cabeça na gola de minha blusa na procura por calor. Eu odeio estar com frio. Odeio suar, mas odeio mais ainda tremer. Para mim, uma das piores sensações de todas é a de estar virando um bloco de gelo. Pois é exatamente assim que me sinto em meio ao inverno.

Não sei o quanto andamos, provavelmente não muito, porém meus pés já reclamam. Caminhei demais nos últimos dias, o que causou bolhas em minhas solas que no momento parecem incandescentes. Procurando algo para me distrair da dor azucrinante, acelero os passos até estar lado a lado com Acacia, que me encara de soslaio.

— São só vocês três? — indago, logo em seguida arrependendo-me amargamente da pergunta. Muitas pessoas morreram durante o ataque. É muito provável que algum familiar de Acacia esteja incluso na lista de mortos.

— Sim — confirma baixinho, taciturna, aliviando parte de minha culpa por ter sido tão indelicada.

Aproveito a deixa para encaminhar-nos para um assunto que há muito desejo abordar.

— Eu tinha meu pai também. Éramos eu, ele e Ryne.

Por algum motivo, seu rosto se contorce em uma carranca.

NevoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora