Um bater mágico de asas
Que tilinta no horizonte
Numa noite gelada
O jovem poeta de olhos negros
Suspira devagar
Do outro lado da janela
Com seus cabelos tão igualmente negros
Oculto pela escuridão da noite
Em seu fascínio por ela
Observa com deleite
Aquele ser mágico
Que se banha ao luar
A pele negra e nua
Iluminada pela luz da lua
Que torna a noite tão bela
Que outro nome receberia este anjo
Que rouba sua paz e te faz delirar?
Digo-te: atende por Luna
E todas as noites
Luna vagueia por lá
Não se sabe desde quando
Mas desde que lembra
Via Luna a se banhar
Com seus cachos encaracolados
Castanhos e quase dourados
De pés descalços
Luna saia a andar
Em uma coisa só
Pensava todo o dia:
Em ir na janela
E ver Luna passar
Com seus olhos de gato
Clareando a noite
Como se fosse de dia
E nessa noite não menos pior
Da grande janela de vidro
Via Luna se aproximar
De corpo molhado
Depois de seu banho de mar
Mas naquela noite em particular
Viu Luna se aproximar
E Luna ia devagar
Com seus olhos verdes de vidro
Ela vinha a se chegar
Com seus lábios fartos
Cor de vinho tinto
--- Venha minha Luna,
Venha me beijar ---Dizia o poeta com tamanha emoção
Quase vi o seu coração parar
Enquanto via Luna se aproximar
E lá estava sua Luna
Do outro lado da janela
A quase lhe beijar
Ouviu um breve sussurro
Sem voz e sem emoção
Luna estava a lhe falar
--- Deixe-me e vá
Vá, e viva
E deixe-me
para em minha morte descansar ---
Em um milésimo de segundo
Viu os olhos de gato
Os olhos de vidro, de sua Luna
Em mil pedaços se desmaterializar
O pobre poeta em sua dor
Mau podia respirar
Correu pela porta
Rumo a montanha
Próximo ao mar
E lá desabou a chorar
Sob a lua
Sobre o túmulo de sua Luna
Que pela eternidade
Estava a se banhar
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Inefável
PoetryApenas um lugar para alojar os sentimentos que vivem a me transbordar.