Isolamento

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Nesse momento da minha vida, me afastei de muitas pessoas. Não sei se fiz certo na verdade. Tinha tudo o que as pessoas diziam que era preciso para sorrir... Eu estava sozinha. Não contava para Raphael as minhas aflições, ele sabia que eu era triste, mas não fazia idéia da imensidão da sombra que eu tinha dentro de mim. Eu tinha raiva, tinha dor, culpa. Percebo que esses sentimentos eram ruins e a ocorrência deles me causava uma mudança nos olhos, eles ficavam vermelhos. Aos poucos, comecei a ver Apollo de novo, as vezes ele aparecia como uma forma de luz, um clichê anjinho de quatro patas, ele me mostrava pra onde ir, literalmente. Quando ele aparecia, era sempre pra indicar o caminho certo. Ainda tinha meu colar, mas por algum motivo, sua pedra estava ficando roxa, conforme escurecia, menos via Apollo, e mais me sentia forte por mim mesma.
Aos poucos, consegui controlar a cor dos meus olhos, agora, era tão fácil quanto abrir e fechar a mão. Mas era apenas a cor dos olhos que eu controlava, meus picos de raiva ainda existiam, e eu nem sempre conseguia controlar.
Lembro-me de uma garota na escola. Ela costumava caçoar de mim, e um dia, veio na minha frente e começou a dizer palavras ruins, maldosas. Meus olhos mudaram, e pude ver surpresa na feição da garota. Ela virou os olhos andou rapidamente. Dias depois, seus amigos vieram em minha direção novamente, se aproximaram e eu fui dando passos pra trás, e quando vi, estava encostada na parede com aqueles garotos na minha volta, falando coisas ruins, me chamando de aberração, que meus olhos eram uma maldição. Decidi, então, mostrar a maldição à eles.
Fechei meus olhos, senti toda a minha energia vir para as minhas mãos, fechei meus punhos e abri meus olhos, pelo reflexo de uma janela ali perto, pude ver meus olhos tão vermelhos que parecia que saia luz deles, e ela escorria como se fosse uma neblina. Me senti forte, muito mais que o normal. Considerando que aqueles garotos eram quase o dobro do meu tamanho, foi de grande espanto que eles deram um passo para trás. Dei três passos na direção do garoto que disse que era uma maldição, sorri, perguntei:

- "O que acha da minha maldição?"

Peguei a gola da camisa dele e levantei. Vi pavor nos olhos daquele garoto. Todos saíram correndo. Me senti bem. Me senti forte. Caminhando para casa, me indaguei:

"Como eu fiz aquilo, se o garoto é mais alto que eu?"

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