Os Demônios Que Em Mim Habitam, parte II

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"Vi tronos em que se assentaram aqueles a quem havia sido dada autoridade para julgar. Vi as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus. Eles não tinham adorado a besta nem a sua imagem, e não tinham recebido a sua marca na testa nem nas mãos. Eles ressuscitaram e reinaram com Cristo durante mil anos.
Apocalipse 20:4"

Quando pequeno, minha mãe contava histórias de terror, no objetivo de fazer com que achassemos que ela fosse a nossa protetora, em todo final de história, dizia que graças a ela, ninguém poderia nos tocar, Alex e eu nos iludimos, em achar que alguém poderia nos ajudar.

Ele estava na minha frente, a Besta, ele não era como todos diziam, como um "cão de sete cabeças" ou um "ser vermelho como o fogo, com chifres enormes", ele não era como a Bíblia dizia, ele era como a nossa imagem. Ele se aproximou, com uma roupa formal, elegante, disse em voz alta.

- Prazer, Lúcifer.

Então parou, mais ou menos 8 metros de onde eu estava, começou a tirar suas roupas, ficou pelado, na frente de todos, ele estava imóvel, como uma estátua macabra, a rua estava deserta, era apenas nós, Lúcifer e as portas de sangue.

Por algum motivo, Crys soltou uma pequena risada, como se aquilo fosse uma piada, então, em questão de milissegundos, ele girou a cabeça de uma forma horrível, olhando para Crys, seu corpo começou a derreter, como em uma metamorfose, revelando uma outra pele, como se a pele anterior fosse uma fantasia, ele começou a se contorcer, uma cena horrível e perturbante, ele então gritou, todos foram pro chão, nossos ouvidos estavam sangrando,mas aquele grito era familiar, era semelhante ao grito que ouvira quando o tabuleiro Ouija voou pra parede, mas Lúcifer gritava mais alto e seu grito era mais perturbante, nós conseguíamos ouvir, em seu grito, as almas gritando, queimando no inferno, eu sabia que em pouco tempo seríamos essas almas.

Em segundos, sua transformação estava completa, seu grito assustou a todos, então, quando acabou, nós corremos, tentamos entrar nas casas, mas os moradores impediam, estávamos cada vez mais longe dele, fomos para floresta, péssima idéia. Corremos sem olhar para trás, nos escondemos atrás de árvores, estava tudo calmo, quando ouvimos seu grito novamente, todos foram para o chão novamente, estavam todos desmaiados, nossos ouvidos sangraram mais e mais, uma quantidade significativa de sangue, já devíamos estar mortos, mas naquele lugar, nada fazia sentido, como nossas vidas.

Quando acordei, Crys havia sumido, Alice estava desesperada, Alex não havia acordado, o silêncio tomou conta do local novamente, peguei Alex, continuamos a correr, agora, éramos três, no meio de uma floresta, numa cidade onde não havia mais a luz do dia, onde não havia mais luz. Quanto mais corríamos, mas escura e densa a floresta ficava, resolvemos parar.

Alex acordou, todos estavam quietos, quando ouvimos passos nas redondezas, estávamos com medo, naquele momento, queria a proteção de minha mãe, estava cansado, não aguentava mais, Alice estava quase dormindo, mas, ao mesmo tempo, chorava, pois sabia que iria morrer, estava muito cansada também, os passos chegaram mais perto, então um silêncio tomou conta do local, quando de repente, algo caiu na nossa frente, quando vimos direito, a cabeça estraçalhada de Crys.

Alice então gritou, e a criatura gritou de volta, cada vez que gritava, o som aumentava, não aguentava mais, então sentei no chão, Alex e Alice fizeram o mesmo, ficamos parados lá, esperando o inevitável, quando, no meio da mata, vimos dois pontos vermelhos extremamente horripilantes. Eu não tenho religião, mas naquele momento, eu apelei, eu e o resto do grupo, nos ajoelhamos diante uma árvore, começamos a rezar, até a única coisa que podíamos fazer.

A besta já estava próxima, então Alex gritou, "Amém". A besta gritou mais alto ainda, começou a se debater, como se estivesse sofrendo, seria Deus agindo? Não, quando se levantou, simplesmente desapareceu, então nos viramos, ele estava lá, atrás de nós, ele pegou Alex, como se fosse um simples papel, então começou a rasgar sua barriga, sangue jorrava para os lados, Alice não parava de gritar e chorar, mas não corria, pois sabia que não aguentaria muito tempo, então ficou lá, comigo, vendo meu irmão sendo estripador, sofrendo e eu sem poder fazer nada.

No fim de tudo, sua cabeça foi arrancada e jogada em Alice, como se fosse uma bola, um brinquedo, então Alice gritou

- Vá para o inferno, seu merda!
Disse chorando, mas com raiva

- Eu vou, afinal, é o meu lar.
Falou com um sorriso perturbante.

Logo depois, pegou Alice pela cabeça, a partindo no meio, mas de maneira devagar, para que ela sentisse a dor, então, ela estava morta, como todos. Depois do show de sangue, ele me olhou nos olhos, então me pegou, eu fechei meus olhos, mas senti ele abrindo minha boca, e senti algo estranho entrando, como uma cobra, então, eu acordei.

Os médicos foram correndo para meu quarto, me anestesiaram, comecei a dormir novamente, naquele hospital, os médicos não gostavam de seus pacientes gritando que nem loucos, o que é irônico, pois é o que se pode esperar de um hospital psiquiátrico.

Quando acordei novamente, fui ver TV, e vi a notícia.
"Jovem mata três adolescentes na floresta de Bakersfield."

Eu os matei, comecei a chorar, como se não soubesse, mas os noticiários eram de dois anos atrás, comecei a gritar de desespero, os médicos vieram novamente, mas antes de me anestesiarem novamente, gritei:

- Por favor, tirem os demônios que em mim habitam.

Ninguém me ouviu, de novo.

Enquanto o Bem Dorme - Contos de Suspense e TerrorOnde histórias criam vida. Descubra agora