Ela não o viu partir. Virou-se para a porta. Ao girar a chave na fechadura, ouviu o portão se fechar.
Ela quase caiu no corredor após tropeçar em uma pilha de objetos. Chutou tudo e acendeu a luz. Entorpecida, ela seguiu até a cozinha.
Uma confusão de emoções tomou conta dela de forma tão intensa que ela quase gritou. Avistou os Papéis espalhados na mesa e os jogou no chão. Depois pensou melhor, os rasgou em pedacinhos e pôs no lixo.
Era uma hora apropriada para tomar algo. Mas não tinha bebidas no apartamento, e teve afinal que recorrer a leite quente. Tomou alguns goles e foi para o chuveiro, cuidando para não se olhar no espelho.
Sentiu como se algo estivesse entalado em seu - - peito. Só depois de sair do banheiro, quando foi verificar se a porta estava trancada, percebeu as coisas no chão do corredor.
Era uma pilha de sacolas e caixas, entregue por uma transportadora e certamente colocada lá pela vizinha, que deve ter usado a chave que Ellie lhe dera para casos de emergência. Agora estava tudo bagunçado. As caixas estavam sem tampa e havia tecidos e sapatos caros demais, incompatíveis com o seu orçamento, tudo espalhado pelo chão.
Ela reconheceu tudo, obviamente. Eram as peças que experimentara na loja. Valiam uma fortuna. Como um homem tão preocupado com a política do banco podia ser tão generoso?
Como ele se atreveu a fazer isso? Como ousou não aceitar sua recusa? Que tipo de homem não aceitava um "não" como resposta?
Ao rolar na cama vazia, a mente dela fervilhava com palavras. Arrogante, dominador, controlador, dissimulado, ardiloso...
Ela ficou lembrando o momento humilhante em que ele olhara para ela como se pudesse ver-lhe a alma.
O que um homem como ele sabia sobre uma mulher como ela?
***
Sam gemeu e rolou na cama.
Um minuto depois ele deu um pulo e calçou o tênis, um short e uma camiseta. Uma corrida pelas ruas da cidade ao amanhecer poderia ser um bom começo de dia, mas não hoje. Seria preciso fazer algo intenso na academia do prédio e depois nadar na piscina.
Após tomar banho e se barbear, vestir a camisa e a gravata, ele chegara a uma decisão sobre um modo razoável de lidar com tudo. Diria de forma sucinta que qualquer ligação pessoal entre eles era passado. Deixaria claro que tinha um banco para administrar e que não toleraria os desvios do comportamento feminino. Ofereceria uma transferência...
Mas e se ela aceitasse?
Não. Ele duvidava que aceitaria. Onde acharia a oportunidade de ter um emprego como aquele?
Mas e quanto ao lado pessoal...
Ellie O'Dea aprenderia que ele não era um homem desesperado pela companhia de mulheres bonitas. O mundo estava repleto de ruivas ainda mais bonitas que ela.
Mais honestas. Mais abertas, mais diretas.
Mais receptivas. Mais complacentes.
Mais agradecidas pela oportunidade de aproveitar uma noite com um amante sensível. Se ela soubesse as medidas desesperadas que algumas mulheres poderiam tomar para atrair a atenção dele... v Atrizes. Modelos.
Ao contrário do que ele esperava, ela não estava em seu local de trabalho, e não havia sinal de que tivesse chegado.
Excelente. Dava mais tempo para que ele se concentrasse nas tarefas importantes daquele dia. No entanto... Ela não teria tirado o dia de folga, teria? Ou...
Um pensamento paralisante ocorreu a ele. E se ela decidira não voltar mais?
Ellie acordou tarde. Sabia que Sam estaria esperando que ela chegasse antes dele, mas achou impossível se apressar.
O cabelo levou um longo tempo para secar, não ficou preso direito, e no fim ela resolveu deixá-lo solto. Na hora de se vestir, lembrou que o melhor terninho fora deixado no carro de Sam e o outro estava na lavanderia.
Era uma emergência. Tinha que levar em conta seu orgulho. Uma mulher na situação dela não podia encará-lo com roupas velhas. Só podia fazer uma coisa.
A caminho do trabalho ela fez um desvio.
Na loja de departamentos ainda havia poucos clientes. Sabendo que a batalha não podia ser vencida com armas inferiores, ela passou direto pela seção de artigos mais baratos e foi direto para a seção de roupas de grife.
Precisou escolher rápido. A primeira coisa que chamou sua atenção foi um vestido preto. Era elegante e bem feminino, com pequenas mangas de tule bordado e um preço que a faria engasgar no dia anterior. Junto aos cabelos ruivos e à pele branca, o vestido ficou ainda mais lindo. Ela ficou na dúvida por alguns minutos. Ninguém jamais fora trabalhar com um modelo assim. Ela teria que adiar a inseminação artificial. Um emprego valia tanto sacrifício?
Sim\ A resposta soou em sua mente.
A vendedora pareceu na dúvida quando Ellie disse que queria ir para o trabalho com o vestido, mas ela já havia se decidido. Deixaria um rombo nas economias, mas ela pagou o vestido sem hesitar.
Só depois de sair da loja ela se permitiu admitir que o nó que tinha no peito estava ligado a Sam. Cada passo em direção ao banco era um sacrifício, mas se conseguisse superar o primeiro dia perto dele...
Na hora em que ela chegou, o prédio estava cheio. As pessoas por quem passou olharam para ela e disseram "Ellie! Que vestido incrível", e ela sorriu como se fosse um dia como outro qualquer. Não que ela estivesse nervosa. Não exatamente. Ele seria cortês como sempre, tinha certeza. Seria difícil. Ele sabia ser educado e deixar as pessoas paralisadas mesmo quando não estava despedindo-as.
Ela saiu do elevador às l0hl0. Era quase a hora do café dele. Deixou a bolsa ao lado da mesa e correu para colocar o leite que comprara na geladeira.
Dentro do escritório, Sam ouviu o barulho da chegada dela. Ficou tenso e olhou para o relógio.
Deveria se explicar.
Ele se levantou e andou com o porte do presidente da empresa.
Ela estava de costas, ajeitando a máquina de café expresso. Ele percebeu imediatamente que estava de cabelos soltos. Ao ouvir a porta ela se virou, e -ele ficou atormentado.
O vestido era preto. Acima do corpete de renda a insinuação dos seios era perolada, como cetim. E as pernas longas. Os lábios pareciam mais volumosos. Os olhos dela brilhavam como... Droga, precisava se controlar. Não aprendera? Aquele brilho significava que ela estava planejando algo.
Ele disse bruscamente:
— Está atrasada.
Ellie ouviu a acusação na voz dele e corou.
— Eu sei. Lamento. Tive um imprevisto. Quer um café?
A expressão dele congelou. Ela percebeu o que dissera e seu coração saltou. Por um momento, ficou muda, mas depois se controlou.
— Quer...?
— Já tomei café, obrigado. Lembrou-se da reunião com os gerentes às 10h30?
— Sim, claro.
Droga. Esquecera da reunião, mas ainda tinha dez minutos para organizar a sala. Já preparara o material impresso de apoio para a apresentação que havia elaborado. Pelo menos não tinha motivo para se envergonhar de seu trabalho. Dedicara-se bastante a ele, e o conteúdo das apostilas era de ótima qualidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sonhos de Uma Noite
RomanceAlto, moreno, lindo e grego... O deslumbrante bilionário Samos Stilakos é o sonho de muitas mulheres. E é bom que Ellie O'Dea saiba que várias já tiveram o prazer de realizar esse sonho... Agora, ele será seu chefe... Mas Sam é t...