01.3 Agreement

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O que fazemos para nós, morre conosco. O que fazemos pelos outros e pelo mundo, continua e é imortal.

— Albert Pine.


Spencer Rose Fletcher.

Los Angeles, 03:00 am.

Los Angeles estava fria, a estação de inverno havia chegado e em conjunto, minhas botas longas de salto alto Versace que faziam barulhos ecoantes me tornando presente nos lugares antes mesmo que meu rosto estivesse evidente. Costumavam dizer que o dia era dos santos e a noite dos impuros, e a madrugada? Bom, as madrugadas eram minhas. Três da manhã era considerada a hora do diabo, e nisso eles não erraram, o diabo havia mudado de nome e sexo, agora ele era mulher e se chamava Spencer Rose Fletcher.

Procurei o batom vermelho no porta-luvas antes de dar partida com o carro, fazendo com que todos parassem o que estavam fazendo apenas para observar e aguardar minhas ordens que foram ditas de forma calma assim que meus lábios estiveram preenchidos com vermelho.

Final de semana eram os únicos dias que recebíamos passe livre para trabalharmos sem nós preocuparmos com o departamento de polícia, todos estavam ocupados em seus escritórios fingindo estarem trabalhando ou cuidando de papeladas burocráticas, mas, na verdade, estavam na sala dos fundos da delegacia jogando pôquer e competindo sobre quem era o mais incompetente, também eram os únicos dias em que eu não precisava ter que me preocupar com oficiais observando meus carregamentos e esperando uma brecha para receber propina em minhas custas, o que nunca dava certo e eu sempre precisava me livrar de um corpo no final do dia.

Meu motorista recebeu a confirmação que precisava para dirigir até o local do descarregamento, estávamos na rodovia principal que interligava a cidade vizinha Anaheim, e já era possível notar no encostamento um enorme caminhão com três carros pretos e possivelmente blindados o escoltando.

Estava na terceira SUV, era o protocolo securitário, o primeiro carro sempre era atacado, o segundo era onde normalmente colocavam a pessoa a qual deveria ter sua vida assegurada, e o terceiro carro para despistar, apenas com seguranças fortemente armados. Essa era a regra de figuras importantes como presidentes e prefeitos, no mundo do crime as últimas ordens eram alteradas por motivos obvieis, sendo assim o terceiro carro era qual eu ficava e estava sempre atenta para dar ré quando fosse preciso e deixar os outros se foderem para cuidarem da minha segurança, afinal, havia somente uma pessoa valiosa ali e não eram eles.

Meus homens passaram com o carro em frente ao caminhão e fizeram sinal para invadirem a calçada da estrada, passando por uma pequena trilha escondida entre árvores que seguiria até a margem do rio, onde um depósito inativo invadido por North's estava a nossa espera.

O meu carro foi o primeiro a adentrar a enorme estrutura de concreto, era facilmente confundida com uma espécie de estacionamento e isso era bom para os negócios. Assim que passei pelo sistema de segurança, a porta foi aberta e o carro foi cada vez mais fundo até chegar a estrutura de chapas metálicas, salas cinzas que escondiam armas, dinheiros e drogas, tudo que seria distribuída para Califórnia durante os dias que minha presença fora solicitada.

Não deixei o carro, o homem que estava ao meu lado deixou o banco para ir resolver os negócios em nome da máfia, continuei mexendo no celular até notar uma movimentação estranha pelo retrovisor, algo estava acontecendo e não estava nos planos que havia reforçado no dia anterior. Respirei fundo e deixei o carro já xingando todos os incompetentes que estavam trabalhando para mim.

— Cavalheiros. — Chamei a Atenção. — O que esta acontecendo aqui?

— O que esta acontecendo é que vocês pensam que sou idiota e que podem me passar a perna. — O rapaz loiro e atraente assumiu o controle passando entre homens armados que abriam caminho conforme ele andava.

— Não é bem o que estamos tentando fazer aqui! Estamos a negócios, se fosse para prejudicá-lo não seria preciso lhe trazer ao meu Galpão, concorda?

— Não pedimos por apenas dezessete armas. O combinado eram vinte submetralhadoras com travas eletrônicas e mira de movimento, e uma granada de Monóxido de carbono. — O homem chutou um dos grandes caixotes que estava no chão.

Caminhei até os mesmos para observar o conteúdo que estava sendo entregue.

— Um grande mal-entendido! — Virei meu corpo para encarar o responsável pela contagem esperando que ele dissesse o que estava acontecendo. — Onde está o restante?

— Me desculpe. Eu não queria, mas eu precisei fazer. — Sua voz era tremula, me deixado com raiva pela audácia, como alguém poderia me trair? — Eu precisei roubar as outras armas. Estava sendo ameaçado, por favor me entenda, não pensei que eles contariam por agora, sempre confiam em nosso trabalho.

— E como seria quando eles voltassem para casa e notassem que foram enganados?

— Eu não pensei nessa parte.

— Pelo visto, não foi apenas nisso que não pensou. — Retirei a arma da minha cintura. — Eu não gosto que passem as pernas em meus clientes, tão pouco, que passem a perna em mim, entretanto, eu sou misericordiosa. — Apontei a arma na cabeça do homem a minha frente. — Você não vai sentir dor.

Apertei o gatilho sem pensar duas vezes e fechei meus olhos quando o sangue do homem, que agora estava estirado no chão, voou em minha direção, me fazendo limpar com dois dos meus dedos enquanto arrastava o sangue pela minha bochecha até os meus lábios.

— Metálico e agridoce, como eu gosto. — Murmurei e voltei minha atenção para o loiro. — Te entregarei o que você comprou e uma arma extra pelo mal-entendido — Apontei para um dos meus homens sem tirar os olhos do comprador. — Se livra do corpo. O resto, retirem a mercadoria do caminhão e coloquem no do Cavalheiro, agora.

Caminhei para dentro do galpão todo revestido com alta tecnologia desde que cheguei a Los Angeles. Câmeras de movimentos, luzes negativas, armas escondidas entre as paredes que disparam se alguma senha errada fosse digitada no painel ou se o botão de invasão for ativado e uma bomba no subterrâneo para ser ativada assim que o galpão não for mais útil e precisar acabar com todos os meus rastros em menos de cinco segundos. Abri a sala com minha digital e a senha em húngaro e fiz um sinal para o loiro me acompanhar, revelando algumas armas e checando quais que ele havia comprado, adicionando a que lhe daria pela inconveniência.

— Creio que agora estamos de acordo.

Abri um sorriso, provavelmente o primeiro desde que chegamos aqui, e fiz um sinal para que os descarregadores levassem o caixote que havia separado.

— Peter não vai gostar de saber que não controla seus homens. — Meu sorriso se estendeu após ouvi-lo.

Tirei um espelho pequeno do bolso e levei-o até a frente do meu rosto, limpando a mancha de sangue.

— Eu tenho Peter aonde quero, Bieber. — Mencionei seu nome pela primeira vez, mostrando saber exatamente com quem estava falando. — Mas, eu acho fofo da sua parte se preocupar com os negócios de Peter, uma vez que não é para ele que você trabalha.

Era uma ameaça. Bieber é o braço direito de John e age por suas costas desde que entrou na South, mesmo sabendo da fama do homem e da forma que seu braço direito anterior morreu. Corajoso e um ótimo soldadinho - exceto pelas aventuras que busca incansavelmente e suas histórias impressionantes que pareciam ser tiradas de filmes de ação. -, ainda, sim, o maior comprador da North, entretanto, aliado do inimigo.

— Vejo você em Miami.

Foi a última frase que ouvi do loiro antes de deixar o galpão com suas mercadorias e seu sorriso irritante.

Criminal SoulOnde histórias criam vida. Descubra agora